19/04/2024 - Edição 540

Ágora Digital

Governo que ataca antifascistas é…?

Publicado em 29/07/2020 12:00 - Victor Barone

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Não é muito conhecida do público a Secretaria de Operações Integradas (Seopi), criada logo no começo do governo Bolsonaro com a missão declarada de integrar operações policiais contra o crime organizado, redes de pedofilia, homicidas e crimes cibernéticos. Subordinada ao ministro da Justiça André Mendonça, nos últimos tempos ela tem voltado sua atenção para algo bem diferente: a vigilância de servidores públicos antifascistas.

Em junho, o Ministério começou uma ação sigilosa sobre um conjunto de 579 policiais e outros servidores federais e estaduais de segurança identificados como do “movimento antifascismo”, além de dois ex-secretários nacionais de Segurança Pública e um ex-secretário nacional de Direitos Humanos. O furo foi do repórter Rubens Valente, do UOL, que teve acesso a um dossiê produzido pela pasta. 

O documento foi enviado à Polícia Federal, ao CIE (Centro de Inteligência do Exército) e a órgãos como a Polícia Rodoviária Federal, à Casa Civil, à Abin (Agência Brasileira de Inteligência) e à Força Nacional, além de três “centros de inteligência” vinculados à Seopi no Sul, Norte e Nordeste. “Não se sabe a consequência dessa disseminação. Pode ser usado, por exemplo, como subsídio para perseguições políticas dentro dos órgãos públicos”, diz a matéria. Segundo Valente, o documento saiu pouco depois da divulgação de um manifesto intitulado “Policiais antifascismo em defesa da democracia popular”, assinado por 503 servidores da segurança.

A Rede Sustentabilidade pediu ontem que o STF determine abertura de inquérito na PF para investigar o caso. Em nota, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), pede que se investigue se houve vigilância ilegal pelas agências de inteligência do Estado. O Estadão pediu explicações sobre o dossiê ao Minsitério; a pasta disse que não comentaria o caso, mas alegou que a Seopi serve para “evitar ameaças”. 

A propósito, sabemos que o governo Bolsonaro tem usado a Lei de Segurança Nacional a torto e a direito. De janeiro de 2019 a junho deste ano, a PF já abriu 20 inquéritos (11 deles só no primeiro semestre de 2020) com base nesse instrumento, criado pela ditadura para silenciar opositores. É o maior número do período democrático; para comparação, foram 29 em todos os oito anos de gestão Lula. Agora, a OAB vai entrar com uma ação no Supremo para questionar a constitucionalidade dessa lei. De acordo com o parecer da Ordem, ela tem “termos vagos em certos comandos, que podem causar insegurança jurídica quanto à sua definição e aplicação, como, por exemplo, a menção a ‘atos de terrorismo’”.

Por Outra Saúde

A Secretaria de Operações Integradas do Ministério da Justiça admitiu que monitora 579 funcionários públicos federais que se declararam antifascistas nas redes sociais. A intenção da medida, segundo a Secretaria, é “prevenir práticas ilegais” e garantir a segurança. Não especificou que “práticas ilegais” os antifascistas costumam cometer. E por que elas ameaçam a segurança.

Por sinal, segurança de quem? Das autoridades constituídas em geral? Do presidente da República em particular? Do Estado como um todo? Quem sabe do planeta, uma vez que as redes sociais aproximam as pessoas e é possível que existam antifascistas em toda parte? Por que ser antifascista é algo perigoso? Aos olhos de quem? Está escrito em que lei, norma ou portaria?

Providência similar não foi tomada pela mesma Secretaria contra funcionários públicos que se declararam fascistas nas redes sociais. É de supor-se, portanto, que esses não representam uma ameaça, quando nada ao governo do presidente Jair Bolsonaro. Ou vai ver que o serviço público está livre de fascistas. Ou que fascistas sejam mais prudentes e prefiram não se assumir como tal.

Resta outra hipótese: por razões ainda não suficientemente estudadas, os fascistas do serviço público e o governo Bolsonaro descobriram surpresos que compartilham os mesmos propósitos. Assim não haveria por que o Ministério da Justiça despender tempo e dinheiro vigiando-os. Para quê?  Falam a mesma língua. Entendem-se bem. Os antifascistas é que devem se cuidar.

Nada de usarem as redes sociais para dizerem que são contra o fascismo, uma “ideologia política ultranacionalista e autoritária caracterizada por poder ditatorial, repressão da oposição por via da força e forte arregimentação da sociedade e da economia”. Nada de assinarem manifestos condenando outras ideologias que guardem alguma semelhança com o fascismo.

Os celulares já não inspiram confiança e a escuta se faz, hoje, a longas distâncias. Seu melhor amigo pode delatá-lo amanhã. Evitem estranhos. Evitem jogar conversa fora. Conversas cifradas podem facilmente ser decifradas. Vejam se não estão sendo seguidos. Aproveitem esses tempos de pandemia e usem máscara até que tudo isso passe. Com fé em Deus e no voto, vai passar.

Por Ricardo Noblat

DEUS EX MACHINA

Mais uma vez, o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) foi ao socorro do tucano José Serra. Desta vez, Dias Toffoli fez uma intervenção bastante fortuita, a apenas três dias do fim do recesso judicial: suspendeu as duas investigações de corrupção que corriam na primeira instância contra o senador. Uma delas examina fatos que se desenrolaram em 2013, quando Serra não tinha mandato político, sendo suspeito de receber ilegalmente dinheiro de empresas como a Qualicorp para a campanha eleitoral que o elegeu ao Senado. No Dia D da operação Paralelo 23, Toffoli já havia barrado a entrada da Polícia Federal no gabinete do senador. Acatou o argumento de Davi Alcolumbre (DEM-AP) de que os agentes poderiam apreender documentos concernentes ao atual mandato. 

O mesmo argumento foi usado pela defesa do senador. Ao acatar o pedido, Toffoli afetou outra investigação, mais avançada, sobre propina supostamente paga pela Odebrecht quando Serra era governador de São Paulo para assegurar benefícios na execução das obras do Rodoanel. Nessa frente, a investigação também recaiu sobre a filha do político, Verônica, que teria constituído empresas no exterior para ocultar o repasse. Ambos são acusados de lavagem de dinheiro transnacional pelo Ministério Público, que obteve autorização para bloquear cerca de R$ 40 milhões depositados na Suíça.

A intervenção de Toffoli aconteceu às 16h56. Pouco depois, às 18h, o juiz de primeira instância Diego Paes Moreira aceitou a denúncia do MPF e tornou Serra réu nessa ação. Há celeuma sobre se o magistrado sabia ou não da decisão da terceira instância. Detalhe: embora tudo isso tenha acontecido há pouco tempo e envolva personagens tão importantes da política nacional, no momento em que fechamos essa newsletter (7h) não havia mais nenhuma chamada do assunto na home dos portais dos dois maiores jornais brasileiros, sediados em São Paulo.

Na contramão do entendimento de Toffoli, ontem Marco Aurélio Mello negou pedido da mesa diretora da Câmara para anular as buscas feitas pela PF no gabinete do deputado Paulinho da Força (Solidariedade-SP). O ministro segue um entendimento sedimentado em 2018, quando o Supremo restringiu o alcance do foro a crimes cometidos no exercício do mandato parlamentar. Só que como nota Gustavo Alves, no ano passado o STF decidiu que a primeira instância pode autorizar operações no Congresso, desde que os parlamentares não sejam o alvo. Daí a margem de manobra para diferentes interpretações sobre o assunto.

Passado o recesso judicial, o caso de José Serra será analisado pelo relator de direito, Gilmar Mendes. O ministro já soltou duas vezes Paulo Vieira de Souza, apontado como operador do PSDB no esquema de desvios em obras públicas em São Paulo.

Lembramos que na semana passada, outro peixe-graúdo – o fundador da administradora de benefícios Qualicorp José Seripieri Filho – também contou com uma decisão judicial favorável e saiu da carceragem antes mesmo de acabar o prazo da prisão temporária, de apenas cinco dias.  

Em tempo: ontem, Ministério Público de São Paulo acusou o tucano Aloysio Nunes por recebimento de R$ 500 mil da Odebrecht para financiar sua campanha ao Senado em 2010.

Por Outra Saúde

APROVADO, POR QUEM?

A aprovação do presidente está com uma leve tendência de alta, enquanto a rejeição a ele cai. Não são variações muito grandes, mas ainda são ruins. A tragédia anunciada da pandemia, que durante um tempo pareceu sacudir a opinião pública, pode afinal não ser suficiente para achatar em definitivo seu apoio. “Se morrer 1 milhão de pessoas, e seus, digamos, dez parentes e amigos próximos se revoltarem contra Bolsonaro, ainda não é gente suficiente para colocar um candidato presidencial no segundo turno. Como notou o cientista político Christian Lynch, os que morreram não vão votar“, diz o colunista Celso Rocha de Barros, descrevendo em seguida a estratégia do presidente para manter sua bolha minimamente inflada: minar a empatia pelos mortos (mentindo que são apenas os velhos e doentes que já iam morrer de qualquer jeito), manter seus seguidores alimentados com fake news anticiência, fazer com que ignorem a impossibilidade de recuperar a economia antes de mitigar a crise sanitária.

“Ainda é cedo para dizer se matar 100 mil pessoas custa votos no Brasil. Nos Estados Unidos, a reeleição de Donald Trump parece seriamente ameaçada. Aqui o clima anda mais para acordão. Sabe como é, você anistia 500 assassinatos, passa uns anos, os caras aparecem querendo que anistie mais 100 mil”, aposta Barros.

Por Outra Saúde

NO TRIBUNAL DE HAIA

Um grupo formado por mais de 50 entidades sindicais – a maioria de profissionais de saúde, sob a liderança da Rede Sindical UniSaúde – ingressou com uma ação no Tribunal Penal Internacional, em Haia, contra Jair Bolsonaro. O documento pede que o presidente seja investigado por genocídio e crimes contra a humanidade, apontando “falhas graves e mortais” na resposta brasileira à crise sanitária e citando a situação específica de indígenas, comunidades vulneráveis e profissionais de saúde. 

Os sindicatos consideram que existe “dolo” e “intenção na postura do presidente, quando adota medidas que ferem os direitos humanos e desprotegem a população, colocando-a em situação de risco em larga escala, especialmente os grupos étnicos vulneráveis”, informa o repórter Jamil Chade, no UOL

Embora a maior parte das manchetes fale em denúncia, ainda não é disso que se trata, como explica o advogado e professor da FGV Thiago Amparo. Isso porque só um Estado, o Conselho de Segurança da ONU ou a Procuradoria do Tribunal podem fazer denúncias. Outras entidades (como ONGs, partidos e sindicatos) podem apenas pedir que se abra um caso. E aí há algumas etapas para que esse pedido vire denúncia. Primeiro, a Procuradoria examina; depois, pede ao Juízo de Instrução (um conjunto de juízes) uma autorização para abrir inquérito; se a autorização for dada, a Procuradoria investiga o caso e, se houver elementos suficientes, faz a denúncia.

O caminho, portanto, é longo. O professor lembra que o Tribunal não aceita facilmente um caso, e a maior parte dos pedidos para na primeira etapa, a do exame preliminar. Aliás, na semana passada mesmo comentamos aqui que não vai ser fácil conseguir um julgamento. Mas “não devemos trivializar a acusação, tampouco”, escreve Amparo, completando: “Não é porque o TPI tenha todos estes meandros técnicos que não seja grave ter um presidente em exercício às voltas com acusações de crimes internacionais.”

Jair Bolsonaro já foi alvo de outros três pedidos de investigação no Tribunal desde o começo do seu mandato. Ainda em novembro de 2019, uma ação de advogados e militantes de direitos humanos o acusou de “incitação a genocídio indígena”. Em abril deste ano, foram protocoladas duas ações diferentes – uma da Associação Brasileira de Juristas pela Democracia  e outra do PDT – sobre crimes do presidente contra a humanidade, por seu incentivo a atitudes que aumentam o risco de proliferação do novo coronavírus. 

NOUTROS ESPAÇOS TAMBÉM

A bancada do PSOL na Câmara acionou a Procuradoria-Geral da República contra Bolsonaro, acusando-o de propagar doença contagiosa. Afinal, sabendo que tinha covid-19, ele conversou com garis sem usar máscara… O partido já tinha entrado com a mesma acusação tempos atrás, quando não sabíamos se o presidente estava infectado e se aglomerava com apoiadores. Mas, como na época ele apresentou diagnóstico negativo, a PGR afirmou que “não poderia causar perigo de lesão ao bem jurídico”. Esse argumento caiu.

O PSOL tinha ainda uma ação civil pública pedindo a condenação do presidente por ter incentivado as pessoas a invadirem hospitais para filmar leitos vazios. Mas o juiz Paulo Cezar Duran arquivou o processo, entendendo que, pela legislação, partidos não podem propor uma ação civil pública. 

E 152 bispos, arcebispos e bispos eméritos do Brasil assinaram uma carta com críticas à “incapacidade e inabilidade” do governo em enfrentar as crises sanitária, econômica, política e de governança. O documento não é nenhuma denúncia formal, mas o número de assinaturas não é irrelevante – são ao todo 310 bispos na ativa e 169 eméritos no país, informa a colunista da Folha Monica Bergamo, que publicou a íntegra. De acordo com ela, a carta seria divulgada no dia 22, mas foi suspensa para ser analisada pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. Entre os signatários, há um temor de que o setor conservador do órgão impeça a divulgação. Além da inação federal diante da pandemia, o texto também desaprova as reformas trabalhista e previdenciária, a destruição do meio ambiente e a “brutal descontinuidade” da destinação de recursos para alimentação, educação, moradia e geração de renda.

MANDETTA E MORO

O ex-ministro Luiz Henrique Mandetta tem falado em concorrer às eleições de 2022 – inclusive à Presidência. Pois a colunista Bela Megale apurou que há uma negociação para que seja formada uma chapa dele com Sergio Moro. Só que Mandetta quer ser o cabeça. E Moro, apesar de desconversar, não abriria mão de ser ele o candidato

Por Outra Saúde

SIMPÁTICO

O presidente Jair Bolsonaro deu uma bronca em um apoiador no retorno de suas conversas com visitantes no Palácio da Alvorada. O homem queria conversar com o ex-capitão sobre sua proposta para “acabar com o desemprego”.  Bolsonaro se irritou com o apoiador no momento em que ele criticou a falta de postos de trabalho no país. De acordo com o homem, ele teria a fórmula para acabar com o desemprego.

VAI FICANDO

Lembram que, na esteira da crítica de Gilmar Mendes ao Exército, o general Eduardo Pazuello havia apontado dois momentos ideais para ser substituído no Ministério? Pois a primeira janela se fecha na próxima sexta-feira. Mas parece que o Planalto resolveu deixar quieto. De acordo com uma fonte ouvida pela Reutersde lá para cá não houve mais sinais nesse sentido.

E a filha do general solicitou um benefício direcionado a pessoas de baixa renda no ano passado. Stephanie dos Santos Pazuello afirmou não ter condições de pagar os custos da defesa em um processo contra a antiga escola dos dois filhos. Ela tentava negociar uma dívida de R$ 12,4 mil com a instituição. O pedido foi negado pela juíza. Stephanie virou personagem da notícia na semana passada, depois de ser indicada por Marcelo Crivella (Republicanos) para um cargo na estatal que administra unidades de saúde da Prefeitura do Rio.

Por Outra Saúde

QUESTÃO DE DEGRAU

A ex-presidente Dilma Rousseff falou nesta semana ao portal Sul21 sobre sua rotina durante o isolamento social, como avalia as políticas de enfrentamento ao novo coronavírus no Brasil e no Rio Grande do Sul, sobre a interferência dos Estados Unidos na Lava Jato e no processo de impeachment, sobre a participação dos militares na política, entre outros assuntos.

DIVIDIR PARA CONQUISTAR

A votação para a presidência da Câmara está marcada para fevereiro de 2021. E a classe política já se movimenta a toda para a disputa. Uma esclarecedora reportagem do El País Brasil informa que o Centrão está dividido. O bloco composto por nove partidos e 221 deputados tem, até agora, cinco possíveis candidatos. E três dessas candidaturas são para valer: Arthur Lira (Progressistas-AL), Aguinaldo Ribeiro (Progressistas-PB) e Marcos Pereira (Republicanos-SP).

Lira é o favorito. Líder do Centrão, avalizou as indicações do bloco para cargos no governo Bolsonaro. Segundo apurou o repórter Afonso Benites, parlamentares o veem como uma versão 2.0 de Eduardo Cunha. “É o político do baixo clero que faz de tudo para chegar ao poder”, lhe disse um deputado. 

Só que parte do Centrão quer manter certa independência do governo. Até porque cabe ao presidente da Câmara aceitar ou não um impeachment contra Bolsonaro. Mais de 40 deles dormitam na gaveta de Rodrigo Maia (DEM-RJ) que tem repetido que não há clima para a abertura do processo de afastamento. Mas em 2021 isso pode mudar, com a crise econômica e uma possível volta dos protestos de rua.

Nesta semana, o racha se delineou: DEM e MDB sairão formalmente do bloco. Levam consigo 63 deputados, deixando o Centrão com um saldo de 158 membros. O afastamento enfraquece a candidatura de Lira. E consolida a influência de Maia na disputa. 

E é aí que entra uma parte da reforma do SUS. Outra Saúde apurou que a escolha da novata Margarete Coelho (PP-PI) para conduzir a redação da proposta junto aos empresários anônimos é um agrado que Maia fez a um dos candidatos que do Centrão – Aguinaldo Ribeiro – e outra tentativa de dividir o bloco.

Maia está atuando em várias frentes ao mesmo tempo.Segundo o Valorele quer costurar uma aliança com partidos da oposição para emplacar um candidato. Já de acordo com o Estadão, a “agenda social” seria uma jogada de Maia para reunir em torno de si essa base mais ampla

Por Outra Saúde

A AMIGA DO GENERAL

O general Eduardo Pazuello indicou uma amiga sem experiência em saúde ou gestão pública para um cargo no Ministério. O nome da beneficiada com a indicação é Paula Amorim, que passou a receber R$ 10 mil mensais para chefiar o núcleo estadual da pasta em Pernambuco. A nomeação já faz algum tempo – aconteceu em 15 de junho, assim que o general assumiu interinamente – e veio à tona em uma reportagem de Igor Gielow publicada ontem.

Questionado pelo repórter, o ministro interino respondeu por meio da sua assessoria que é isso mesmo – eles são amigos “há cerca de 30 anos” –, e ainda deu detalhes: foram “apresentados por conhecidos em comum”. A conclusão? A indicação se baseou na “relação de confiança e amizade” entre ambos, diz o Ministério que ainda argumenta que experiência na área não é pré-requisito. Se fosse, Pazuello não seria ministro.  

Do mesmo jeito que o general da ativa atrapalha a resposta à pandemia diretamente de Brasília, sua inexperiente amiga está causando entraves em Pernambuco. Sob seu comando, o núcleo deixa até a Advocacia-Geral da União (AGU) a ver navios: o órgão enviou um ofício em 9 de junho e, mais de um mês depois, teve de fazer uma queixa, já que nunca recebeu uma resposta. Paula Amorim não ocupou um cargo vago. Para contemplar a amiga que estava – como ela mesmo admite – desempregada antes de assumir o posto, Pazuello destituiu a enfermeira Kamila Correia, que estava há quase três anos na chefia do núcleo pernambucano. 

“Eu fiquei uns 40 dias no Ministério, me inteirando”, diz a amiga do general na reportagem, como se isso fosse suficiente. À guisa de currículo, Paula Amorim afirma ter sido no passado “assessora de um governador” – mas não informa qual ou quando. 

Pazuello mexeu nas chefias de outras coordenações regionais, com a do Rio. A amiga do general explica que ele considera os coordenadores estaduais “seus olhos e braços”. Sabíamos que desde que se sentou na cadeira, o eterno interino cercou-se de militares sem experiência. A revelação de Gielow mostra que o buraco é ainda mais fundo. 

MINISTÉRIO POR MINISTÉRIO

E a avacalhação promovida pelos militares no governo ganha mais exemplos a cada semana. O deputado federal Fábio Trad (PSD-MS) fez uma requisição à Casa Civil: quer saber quantos militares ocupam cargos no Executivo. É um mistério, já que os únicos números partem da imprensa e até o TCU resolveu fazer um levantamento. Pois bem: a pasta comandada pelo general Braga Netto respondeu ao deputado que, se ele quisesse mesmo a informação, teria de procurar Ministério por Ministério. A Casa Civil (que de civil não tem nada) respondeu o número e os nomes dos militares que lá atuam. São 26 no total – 11 da ativa e 15 da reserva.

Por Outra Saúde

BOLA DENTRO

Jornalistas da Repórter Brasil e da Agência Pública investigaram como a indústria de agrotóxicos joga pesado para impedir a suspensão do paraquate – um veneno que está para ser banido em setembro, devido às evidências de que tem relações com mutações genéticas e à doença de Parkinson em trabalhadores rurais.

O lobby das empresas estava usando uma pesquisa pra lá de controversa conduzida em um laboratório da Unicamp. O estudo, repleto de falhas metodológicas, é financiado por ninguém menos do que a Associação Brasileira de Produtores de Soja (Aprosoja), que representa o setor que mais usa o paraquate. 

Acontece que a reportagem, publicada há duas semanas, rendeu ótimos frutos (mas não para a indústria). Primeiro, o departamento de Saúde Coletiva da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp publicou uma nota de repúdio afirmando que já foi “bem estabelecida a associação do agrotóxico com diversas doenças relacionadas ao trabalho como fibrose pulmonar, insuficiência renal, doença de Parkinson e danos genéticos”. Depois, a nota foi endossada pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas, onde a pesquisa estava sendo conduzida. E, finalmente, o comitê de ética da Unicamp suspendeu a pesquisa. Eis uma bela demonstração da importância do jornalismo investigativo.

Por Outra Saúde

GENTE DE BEM 1

Bolsonarista de primeira hora, Alexandre Garcia iniciou sua participação na coluna Liberdade de Opinião, na CNN Brasil, no último dia 27, dizendo que Jair Bolsonaro “é a comprovação científica” do uso da hidroxicloroquina no tratamento do coronavírus, contrariando todas as diretrizes médicas e da própria Organização Mundial da Saúde (OMS).

“Em todo noticiário que eu ouvi, o meu colega, repórter, diz assim: mostrou a caixa de hidroxicloroquina, que não tem comprovação científica. E o cara está na frente do presidente que é a comprovação científica de que o uso da hidroxicloroquina dá certo”, afirmou.

Último porta-voz da ditadura militar, que deixou a TV Globo para embarcar de vez no bolsonarismo, Garcia estreou na CNN fazendo defesa categórica do presidente e atacando a postura de colegas da imprensa.

“Eu não entendo, o sujeito parece que vai para a lua, para Marte, para usar aquele chavão, aquele rótulo, que estão mandando, alguém tá mandando todo repórter dizer que ‘não, não tem comprovação científica”, disse Garcia (assista ao vídeo)

GENTE DE BEM 2

O ex-deputado e ativista Jean Wyllys expôs em suas redes sociais um perfil que disparou ataques contra a ex-vereadora Marielle Franco no dia do aniversário da ativista assassinada brutalmente em março de 2018. O ativista fez uma homenagem a ex-correligionária. Wyllys pediu informações sobre o dono do perfil Patriota Paulista (@Kallenfelser1), que disparou ofensas contra Marielle chamando a ex-vereadora de “lixo que foi tarde” e “terrorista igual o desgraçado do pai dela”. Ele ainda ataca Wyllys: “Só dando mesmo doente e asqueroso como você, para enaltecer a vagabunda imunda”.

GENTE DE BEM 3

O pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, foi às redes sociais para pedir boicote à Natura após a empresa divulgar sua campanha de Dias dos Pais com Thammy Miranda, filho da cantora Gretchen.  Em comentário transfóbico, o evangélico se referiu a Thammy, um homem transexual, como mulher e disse que a propaganda da empresa é uma “afronta aos valores cristãos”.  Em outra postagem, Malafaia atacou o jornalista Lauro Jardim, do O Globo, que publicou uma matéria citando outras tentativas – sem sucesso – de boicote do pastor.  O jornalista conta que, em 2015, Malafaia tentou liderar um boicote ao Boticário. A empresa de cosméticos, concorrente da Natura, havia utilizado casais homossexuais em sua campanha do Dia dos Namorados.  Em nota, a Natura respondeu aos ataques transfóbicos contra a campanha e Thammy Miranda. A empresa afirmou que “celebra todas as maneiras de ser homem, livre de estereótipos e preconceitos, e acredita que essa masculinidade, quando encontra a paternidade, transforma relações”.

FRASES DA SEMANA

“São pessoas capazes de mentir, de deturpar, de descontextualizar. Não sei até onde mais são capazes de ir para vencer o que acreditam ser uma batalha do bem contra o mal, onde não percebem que representam o mal.” (Felipe Neto, youtuber, sobre os que o atacam nas redes sociais)

“Em 1979, a torcida abriu uma faixa dizendo anistia para os presos e exilados políticos. Em 82, 83 e até 85, essa camisa era da Democracia Corinthiana. Ela representa liberdade.” (Casagrande, ao reclamar de Marcelinho Carioca que presenteou Bolsonaro com uma camisa do time)

“Para o funcionamento do seu sistema, a [Lava Jato] de Curitiba tem 350 terabytes e 38 mil pessoas com seus dados [ali] depositados. Não se pode imaginar que uma unidade institucional se faça com segredos, com caixa de segredos”. (Augusto Aras, Procurador-Geral da República) 

“No momento em que se recomendava o isolamento social, a política de convocação das pessoas ao trabalho poderia produzir um genocídio, sobretudo nas comunidades pobres. Em nome do direito à vida, o Supremo impediu a difusão dessa campanha”. (Luís Roberto Barroso, ministro do STF) 

“Bolsonaro pode fazer o que quiser: chamar Jesus de palavrão, bater na mãe, andar pelado na rua e será apoiado. Lula está na mesma categoria: faz as maiores loucuras, diz as maiores aberrações e pratica toda sorte de contradição”. (Ciro Gomes, ex-governador do Ceará)

“Liberdade de expressão sempre. Fake News nunca. Elas jamais podem ser encaradas como liberdade de expressão. São crime. Buscam enganar as pessoas e destruir reputações. E para quem pratica crime, só há uma medida: o rigor da lei”. (Camilo Santana, governador do Ceará)

“A democracia tem lugar para conservadores, liberais e progressistas. Só não tem para a intolerância, a violência e a tentativa de destruir as instituições. Quando isso acontece, as instituições de bem têm de agir. São bandidos”. (Luis Roberto Barroso, ministro do STF)

Com informações de Leonardo Sakamoto, Josias de Souza, Ricardo Noblat, Reinaldo Azevedo, Carta Capital, Outra Saúde, Sul 21, o Globo, Fórum, Veja, Dora Kramer, BRPolítico, Vera Magalhães, Marcelo de Moraes e outros.

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Victor Barone

Jornalista, professor, mestre em Comunicação pela UFMS.


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