29/03/2024 - Edição 540

Ágora Digital

Sobre marginais e terroristas

Publicado em 03/06/2020 12:00 - Victor Barone

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O presidente Jair Bolsonaro qualificou como “marginais” e “terroristas” os grupos que se denominam “antifascistas” e que foram às ruas no fim de semana passado para protestar contra seu governo. É assim que o presidente da República resolveu tratar movimentos que, a despeito das restrições impostas pela pandemia de covid-19, começam a sair de casa para expressar seu repúdio a ele e a seu sistemático desrespeito à democracia.

Até agora, as ruas pareciam ser um território francamente dominado pelos camisas pardas do bolsonarismo. Hostis à quarentena imposta em quase todo o País para conter a pandemia, esses celerados desafiaram autoridades e realizaram frequentes protestos ao longo dos últimos meses, promovendo aglomerações em locais públicos e, assim, contribuindo para a disseminação do coronavírus, em claro atentado à saúde pública.

Em diversas ocasiões, o presidente da República, em pessoa, participou desses atos, estimulando seus apoiadores a continuar a afrontar governadores de Estado que haviam adotado medidas restritivas – tratados publicamente como inimigos por Bolsonaro. O presidente tampouco pareceu incomodar-se com as faixas de teor golpista que infestavam esses protestos contra o Judiciário e o Legislativo e demandavam “intervenção militar”.

A insolência dos bolsonaristas jamais foi objeto de crítica ou censura por parte do presidente, nem mesmo quando se soube que havia armas no acampamento de seus apoiadores em Brasília – cujos integrantes se apresentam como o “exército que vai exterminar a esquerda”. A líder desse bando chegou a divulgar um vídeo na internet em que faz ameaças diretas de violência contra o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes, dizendo que iria “infernizar a vida” do magistrado.

Além disso, tem sido frequente, nas manifestações bolsonaristas, a presença de símbolos de um grupo paramilitar ucraniano de extrema direita que se identifica com o nazismo. Houve até um deputado bolsonarista que disse que “está na hora de ucrânizar (sic) o Brasil”, referindo-se aos confrontos que derrubaram o governo ucraniano em 2014, especialmente ao momento em que os manifestantes jogaram um deputado em uma caçamba de lixo – sonho de dez em dez bolsonaristas, hostis à política e à democracia representativa.

Para Bolsonaro, esse é o “povo” que “quer liberdade, quer democracia”. Já os cidadãos que, cansados de tanta afronta à democracia, resolveram deixar o confinamento para demonstrar seu absoluto repúdio a essa escalada autoritária, estes são chamados de “terroristas” pelo presidente. “Não podemos deixar que o Brasil se transforme no que foi há pouco tempo o Chile”, disse Bolsonaro, aludindo aos protestos contra o governo chileno em 2019, que em vários momentos se tornaram violentos. “Não podemos admitir isso daí. Isso, no meu entender, é terrorismo. A gente espera que esse movimento não cresça, porque o que a gente menos quer é entrar em confronto com quem quer que seja”, acrescentou o presidente, em ameaça explícita de violência contra seus opositores – exatamente como fez seu ídolo, o presidente americano, Donald Trump, que também chamou os manifestantes que tomaram as ruas dos Estados Unidos de “terroristas” e ofereceu o Exército para enfrentá-los.

Com isso, Bolsonaro reivindica para seus fanáticos devotos o exclusivo usufruto das ruas como local de manifestação. Quem quer que ouse ocupá-las para questionar seu governo, apontar sua inépcia diante da pandemia e da crise econômica e denunciar seus frequentes atentados à democracia é, aos olhos do presidente, um delinquente.

Nada disso é por acaso. Premido pelo coronavírus e seu monumental impacto na vida nacional, obrigado a negociar cargos com a bancada da boquinha no Congresso para evitar um impeachment e assombrado por investigações policiais contra si mesmo e contra os filhos, Bolsonaro parece disposto a derrubar o tabuleiro de xadrez diante do xeque. O presidente inventa um confronto, que tão avidamente deseja, não só para intimidar seus opositores, mas principalmente para desviar a atenção de sua clamorosa incapacidade de governar.

No que depender dos brasileiros decentes, não vai conseguir nem uma coisa nem outra.

Editorial de O Estado de S. Paulo (4/6/2020)

Jair Bolsonaro voltou a participar de uma manifestação golpista em Brasília. Como um general diante de sua tropa, chegou a montar em um cavalo para saudar os camisas pardas travestidos de patriotas que o festejavam e, como sempre, empunhavam faixas em que defendiam o fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal (STF). Na noite anterior, o punhado de golpistas armados que acampam na capital federal em apoio ao presidente fez um protesto diante do Supremo, com direito a tochas que remetiam à estética nazi-fascista.

Ou seja, tinha tudo para ser um fim de semana como outro qualquer desde que Bolsonaro e seus celerados seguidores resolveram testar a resistência das instituições ante seus arroubos autoritários, apostando que a maioria absoluta dos brasileiros permaneceria inerte. Mas algo aparentemente se moveu na sociedade.

Enquanto Bolsonaro dava mais uma de suas rotineiras demonstrações de profundo menosprezo pela democracia, alguns grupos foram para as ruas protestar contra o presidente e foram publicados diversos manifestos em defesa dos valores democráticos e republicanos. O mais notável, em todos os casos, foi o caráter suprapartidário de várias dessas manifestações.

No manifesto intitulado Estamos Juntos, por exemplo, milhares de signatários de esquerda e de direita se qualificam como “a maioria dos brasileiros” e conclamam os líderes da sociedade – em especial na política e no Judiciário – a assumir “a responsabilidade de unir a Pátria e resgatar nossa identidade como Nação”.

Outro manifesto, de profissionais do Direito, se intitula Basta!. Afirmam seus signatários que Bolsonaro “exerce o nobre mandato que lhe foi conferido para arruinar os alicerces de nosso sistema democrático, atentando, a um só tempo, contra os Poderes Legislativo e Judiciário, contra o Estado de Direito e contra a saúde dos brasileiros”. O manifesto diz que “é preciso dar um basta a essa noite de terror”.

Uma terceira nota, assinada pelas principais associações de juízes e procuradores do País, pede que haja “cautela e ponderação” de todos os que “exercem parte do poder estatal”, para que “a democracia, construída a partir de esforços de gerações, possa ser resguardada e aprimorada”. Adverte, contudo, que qualquer “ato que atente contra o livre exercício dos Poderes e do Ministério Público” será objeto de “imediata e efetiva reação institucional”.

Essa reação já está acontecendo. O próprio Bolsonaro, em mensagem nas redes sociais, enumerou todas as medidas tomadas pelo Judiciário contra si próprio e contra seu governo, e declarou: “Tudo aponta para uma crise”. Para o presidente, portanto, há “crise” quando o Judiciário e o Congresso o impedem de governar sem qualquer limite institucional – visão típica de quem “odeia a democracia”, nas duras palavras do ministro Celso de Mello, decano do Supremo Tribunal Federal.

A exemplo dos manifestos da sociedade civil, o ministro Celso de Mello exortou seus interlocutores a “resistir à destruição da ordem democrática”. Para ilustrar esse risco, deu como exemplo a ascensão do regime nazista – que chegou ao poder na Alemanha pela via democrática e, em seguida, arruinou a democracia.

O primeiro passo para evitar essa ruptura é fazer valer o que está na lei. A atitude do Judiciário de investigar as manifestações antidemocráticas bolsonaristas – que, como salientou o ministro do STF Gilmar Mendes, “não são apenas inconstitucionais, mas também se revelam criminosas e por isso têm que ser repudiadas e punidas” – é apenas um exemplo da disposição das instituições sadias de frustrar aventuras golpistas.

Outro passo fundamental é superar momentaneamente as diferenças políticas em favor da preservação da democracia ante a ameaça real representada pelo bolsonarismo. A luta pelo poder deve agora ficar reservada para o período eleitoral. Ante o múltiplo desastre que o Brasil enfrenta – a pandemia de covid-19 e um presidente incapaz de governar e tomado de devaneios liberticidas –, é preciso, como diz o manifesto Estamos Juntos, que os líderes políticos “deixem de lado projetos individuais de poder em favor de um projeto comum de País”. Que assim seja – do contrário, será a treva.

Editorial de O Estado de S. Paulo (2/6/2020)

MANIFESTAÇÕES

As torcidas organizadas pretendem fazer novas manifestações a favor da democracia, contra o fascismo e Jair Bolsonaro neste próximo fim de semana. Os organizadores não querem divulgar detalhes, mas os atos podem se multiplicar para além das 14 cidades em que foram registrados no último domingo.

No último dia 1º, aconteceu uma manifestação antifascista em Curitiba. Como em São Paulo, também houve repressão da Polícia Militar, com uso de bombas de gás lacrimogêneo. A justificativa da PM é, como sempre, vandalismo. Segundo o Estadão, imagens de câmeras mostram pessoas colocando fogo em uma bandeira do Brasil que teria sido retirada do Palácio Iguaçu, sede do governo do Paraná. 

Na PiauíRenato Sérgio de Lima, presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, e Glauco Carvalho refletem sobre o papel das PMs na sustentação do governo federal – e numa possível escalada autoritária promovida pelo presidente. Segundo eles, apesar dos acordos com o Centrão e a saída de Sergio Moro terem prejudicado a imagem de Bolsonaro frente ao segmento dos oficiais (tenentes, capitães, majores, tenentes-coronéis e coronéis), o segmento dos praças (soldados, cabos, sargentos e subtenentes) permanece “quase que monoliticamente atado ao bolsonarismo”. E esses policiais podem vir a se insubordinar contra governos estaduais e fortalecer o governo federal protagonizando os próximos passos da crise política.  

Em outro artigo, publicado também na Piauí, Lima ilustra a reflexão sobre as PMs diante da atuação das polícias na repressão às manifestações de domingo em São Paulo e no Rio. As cenas de simpatia ao bolsonarismo, como a do PM que escoltou uma mulher que portava um taco de beisebol abraçado a ela servem de alerta: “A filmagem mostra que a manifestante estava visivelmente alterada. Mesmo assim, o policial militar não só não apreendeu o taco de beisebol que poderia ser usado como arma branca como, mais grave, deixou sua arma de fogo ao alcance da mão da manifestante, que poderia tê-la sacado e atirado no policial ou em quem estivesse ao redor. O policial assumiu um padrão de risco completamente diferente daquele recomendado. Fica a pergunta se fez isso por simpatia à causa defendida pela mulher.”

Ao mesmo tempo, cresce a adesão aos movimentos mais virtuais (pelo menos até agora) e suprapartidários que defendem a democracia. Em dois dias, o manifesto do “Estamos Juntos” já havia sido assinado por mais de 224 mil pessoas. Entre os novos endossos, está o de Luiz Henrique Mandetta. A iniciativa criou grupos de WhatsApp por cidades e bairros e, segundo os organizadores, engajou muitos desempregados, motoristas de Uber, bancários…

Já a hashtag “Somos 70 por cento”, criada pelo economista Eduardo Moreira em alusão à rejeição que o presidente tem da maioria da população brasileira, foi usada até pela Xuxa. E o manifesto “Basta!”, organizado por ex-ministros do STF e juízes, já angariou mais de 25 mil adesões desde o sábado. 

O ex-presidente Lula, contudo, tem críticas às iniciativas, que na sua interpretação têm “pouca coisa de interessa da classe trabalhadora”, não falam nos direitos sociais perdidos e são subscritos por pessoas que apoiaram o impeachment de Dilma Rousseff. “Sinceramente, eu não tenho mais idade para ser maria vai com as outras. O PT já tem história neste país, já tem administração exemplar neste país. Eu, sinceramente, não tenho condições de assinar determinados documentos com determinadas pessoas“, afirmou.

Um manifestante negro, identificado na internet como Emerson Balboa, enfrentou sozinho, No último dia 31, uma roda com dezenas de bolsonaristas. Emerson, que vestia uma camiseta com a foto de Malcon X, parou em frente aos fascistas e alertou: “O Brasil está cansado do fascismo. Estes caras vieram com a bandeira de racistas da Ucrânia. Vocês acham que a gente vai recuar? Não vamos recuar. Pela democracia!”. Logo após sua fala, Emerson foi cercado por manifestantes bolsonaristas que o xingavam e faziam gestes obscenos. Ele se manteve de punho erguido até ser retirado do meio da roda.

NAZISTAS

Integrantes do autointitulado “300 do Brasil”, que apoia o presidente Jair Bolsonaro e defende o fechamento de instituições democráticas, marcharam no fim de semana passado, com máscaras e tochas de fogo, até o Supremo Tribunal Federal (STF), onde protestaram aos gritos contra a corte e o ministro Alexandre de Moraes, relator do inquérito das fake news. O ato (veja o vídeo mais abaixo) se assemelha a manifestações feitas por racistas americanos da Ku Klux Klan. As imagens também remetem às manifestações feitas por supremacistas brancos na Universidade da Virginia, em 2017, em Charlottesville. O episódio foi marcado pela violência deflagrada pelo movimento neonazista “Unite the right” (unir a direita, em português) contra a comunidade negra.

Em frente ao Supremo, os participantes do grupo, que está acampado na Esplanada dos Ministérios, fizeram uma performance, com fundo musical, e gritavam “ahu”, expressão que tem sido utilizada por movimentos de extrema-direita em vários países. “Viemos cobrar, o STF não vai nos calar” e “Careca togado, Alexandre descarado”, repetiam os manifestantes sob o comando da líder, Sara Winter, um dos alvos do inquérito das fake news e da operação de busca e apreensão realizada pela Polícia Federal. Sara fez novos ataques ao ministro depois da ação dos policiais e o desafio a prendê-la. Moraes remeteu o caso dela para a primeira instância nesse sábado.

O grupo 300 do Brasil está fazendo treinamentos paramilitares, onde ensinam técnicas de desobediência civil e serviços de inteligência antirrevolucionária. "Em nosso grupo, existem membros que são CACs (Colecionador, Atirador e Caçador), outros que possuem armas devidamente registradas nos órgãos competentes. Essas armas servem para a proteção dos próprios membros do acampamento e nada têm a ver com nossa militância", disse Sara à BBC News Brasil. Além de terem entre seus membros gente que defende o fechamento do Congresso e do STF, líderes do movimento dizem que um de seus principais obejtivos é "exterminar a esquerda".  O grupo, que se organizou por redes sociais e aplicativos de conversa, conta com apoio de parlamentares alinhados ao governo. O grupo já é alvo de investigação pela Procuradoria-Geral da República, que respondeu a um pedido de abertura de inquérito por suposta "formação de milícia" apresentado pelos partidos de oposição.

O ex-ministro da Justiça Sergio Moro ironizou em post feito no Twitter, a manifestação realizada por um grupo bolsonarista liderado pela ativista Sara Winter. “Tão loucos, mas, ainda bem, tão poucos. O único inverno que está chegando é o das quatro estações”, escreveu o ex-juiz da Lava Jato, num trocadilho com o sobrenome Winter (inverno), adotado por Sara Fernanda Geromini e a uma frase que ficou célebre na premiada série Game of Thrones (“The winter is coming” ou “O inverno está chegando”).

Nas redes sociais, a estética do protesto foi comparada à de marchas nazistas na década de 1930 na Europa, às manifestações lideradas pelo grupo supremacista branco Ku Klux Klan e aos atos racistas de Charlotesville em 2017 – estas duas últimas nos EUA.

Sara Winter é uma das personalidades do bolsonarismo que foram alvo de operação da Polícia Federal na semana passada em ação decorrente do inquérito conduzido pelo ministro Alexandre de Moraes, que investiga fake news e ameaças contra o Supremo. A ativista se defendeu das acusações de que o ato teria tido inspiração nazista e disse que a ideia nasceu de um “apoiador judeu”. Ela afirmou também que mobilizou quatro advogados para processar quem fizer essa associação entre a manifestação e o nazismo e o raciscmo.

Ministro do Supremo Tribunal Federal desde 1989, o decano Celso de Mello enviou mensagem a colegas da corte (veja a íntegra mais abaixo), alertando para o risco de uma "intervenção militar, como pretendida por bolsonaristas e outras lideranças autocráticas que desprezam a liberdade e odeiam a democracia". Segundo o ministro, isso nada mais é "senão a instauração, no Brasil, de uma desprezível e abjeta ditadura militar". No texto, Celso de Mello compara o momento vivido pelo Brasil com o da Alemanha de Adolf Hitler.

"GUARDADAS as devidas proporções, O “OVO DA SERPENTE”, à semelhança do que ocorreu na República de Weimar (1919-1933) , PARECE estar prestes a eclodir NO BRASIL ! É PRECISO RESISTIR À DESTRUIÇÃO DA ORDEM DEMOCRÁTICA, PARA EVITAR O QUE OCORREU NA REPÚBLICA DE WEIMAR QUANDO HITLER, após eleito por voto popular e posteriormente nomeado pelo Presidente Paul von Hindenburg , em 30/01/1933 , COMO CHANCELER (Primeiro Ministro) DA ALEMANHA (“REICHSKANZLER”), NÃO HESITOU EM ROMPER E EM NULIFICAR A PROGRESSISTA , DEMOCRÁTICA E INOVADORA CONSTITUIÇÃO DE WEIMAR, de 11/08/1919 , impondo ao País um sistema totalitário de poder viabilizado pela edição , em março de 1933 , da LEI (nazista) DE CONCESSÃO DE PLENOS PODERES (ou LEI HABILITANTE) que lhe permitiu legislar SEM a intervenção do Parlamento germânico!!!! “INTERVENÇÃO MILITAR”, como pretendida por bolsonaristas e outras lideranças autocráticas que desprezam a liberdade e odeiam a democracia, NADA MAIS SIGNIFICA, na NOVILÍNGUA bolsonarista, SENÃO A INSTAURAÇÃO , no Brasil, DE UMA DESPREZÍVEL E ABJETA DITADURA MILITAR !!!!"

DUDU DO FAKE

A informação de que o ex-primeiro ministro britânico Winston Churchill teria dito a frase “Os fascistas do futuro se chamarão a si mesmos de antifascistas” é falsa, mas isso não impediu que o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) a publicasse em suas redes sociais. No entanto, o Facebook decidiu avisar os seguidores do parlamentar de que a informação ali vista não era verídica – o que não o estimulou a apagar a postagem até a publicação desta reportagem. “Winston Churchill, o primeiro-ministro do Reino Unido durante a 2ª guerra mundial. Mais profético impossível!”, escreveu na legenda da foto com a frase falsa. O filho do presidente e sua rede de apoiadores se mobiliza contra protestos pró-democracia que aconteceram no último domingo 31, e que tiveram como um dos motes a luta contra identidades autoritárias e similares ao fascismo dentro do governo Bolsonaro.

QUEM QUER DINHEIRO?

O governo Bolsonaro bateu em abril o recorde mensal de liberação de emendas parlamentares desde 2016, quando esse monitoramento começou a ser feito. Foram R$ 6,2 bilhões empenhados e R$ 4 bilhões pagos. As emendas têm sido largamente utilizadas pelo governo para barganhar votos. Houve uma enxurrada delas na época da reforma da Previdência. Agora, é claro, há a necessidade de barrar um impeachment. Em abril, os maiores pagamentos foram para deputados do Centrão.

E mais um cargo foi para esse grupo ontem. O chefe do gabinete do senador Ciro Nogueira (Progressistas-PI), Marcelo Lopes da Ponte, foi nomeado presidente do FNDE, que tem um orçamento de R$ 54 bilhões neste ano.

A estratégia oferece alguma blindagem contra processos de impeachment, mas ao mesmo tempo é mal vista pela população. Segundo o Datafolha, 67% dos brasileiros são contra essa negociação descarada com o Centrão. Entre os eleitores de Bolsonaro, 52% acham que o presidente age mal.

Aliás, a Agência Pública reuniu em uma página informações sobre 30 pedidos de impeachment de Bolsonaro que se acumulam na mesa de Rodrigo Maia, assinados por mais de 500 pessoas e organizações. Em entrevista ao UOL, o presidente da Câmara disse que esse não é o momento adequado para pautar nenhum deles.

FALTA UM PRESIDENTE

Nos últimos cem dias, a pandemia matou 34.021 brasileiros, guindando o Brasil ao terceiro lugar no pódio mundial de vítimas do coronavírus. Nesse mesmo período, Jair Bolsonaro formulou a teoria da gripezinha, afastou dois ministros da Saúde, converteu o ministro da Justiça de "ícone" em delator, tornou-se investigado num inquérito criminal, inaugurou uma temporada de distribuição de cofres para o centrão, informou ao país que não é "coveiro", perguntou "e daí?" e declarou que "todos morrerão um dia", é coisa do "destino". Fica claro que há dois países no mesmo pedaço de mapa. Há o Brasil da pandemia, que perde a guerra para o vírus, e o Brasil em que Bolsonaro decidiu viver, num estado de isolamento institucional. O brasileiro começa a sentir a falta que faz um presidente.

VAI CAIR, CAIU

O presidente Jair Bolsonaro levou um tombo ao tropeçar em uma mangueira, após chegar de helicóptero na área onde foi inaugurado o hospital de campanha contra a Covid-19 na cidade de Águas Claras de Goiás, distante 50 km de Brasília, nesta sexta-feira. A cena mostrada pela CNN Brasil repercutiu nas redes sociais com a hashtag "Bolsonaro Caiu" virando um dos assuntos mais comentados no Twitter, onde o vídeo virou memes, como a versão da queda ao som de música clássica abaixo.

GENTE DE BEM 1

O deputado federal bolsonarista Daniel Silveira (PSL-RJ) gravou e postou em suas redes sociais vídeo em que diz que manifestantes de oposição a Jair Bolsonaro vão “achar” o que estão “procurando”. “Um de vocês vai achar o de vocês. Na hora que um de vocês tomar um na testa, no meio do peito, vocês vão entender com quem vocês estão se metendo”, diz o deputado no vídeo, gravado enquanto dirige um carro.

GENTE DE BEM 2

Apoiadores do presidente Jair Bolsonaro conseguiram prosseguir com sua manifestação no último dia 31 após a Polícia Militar de São Paulo expulsar das ruas a multidão de torcedores e movimentos sociais antifascistas que havia tomado a Avenida Paulista. Sem a reação dos antifas, os apoiadores do presidente se sentiram confortáveis em colocar no carro duas bandeiras com o brasão de armas da Ucrânia, símbolo adotado por movimentos neonazistas.

FRASES DA SEMANA

“Estatisticamente falando, a maioria dos crimes é cometida pela população negra. Isso não quer dizer que todos são ruins, mas será sempre natural, normal e instintivo do ser humano ter um pouco de racismo, julgar a pessoa pela raça”. (Luísa Nunes Brasil, blogueira, no Instagram)

“O que faz o produto, afinal, de uma civilização que chegou à Lua ajoelhar na garganta de outro ser humano e ignorar seus protestos de que não pode respirar, que está morrendo, mesmo que a técnica de submissão seja correta?” (Luis Fernando Verissimo, escritor)

“Tenho reiterado que as Forças Armadas são instituições permanentes que devem ser compreendidas na sua acepção republicana. É incompatível com a Constituição a ideia de que elas possam fechar o STF ou o Congresso. O Exército não é milícia”. (Gilmar Mendes, ministro do Supremo)

“Comparar o nosso amado Brasil à Alemanha de Hitler é algo, no mínimo, inoportuno e infeliz. A Democracia Brasileira não merece isso. Por favor, respeite o Presidente Bolsonaro e tenha mais amor à nossa Pátria!”. (De Luiz Eduardo Ramos, general, para o ministro Celso de Mello) 

“Ainda temos democracia. Está sendo destroçada, atacada. É responsabilidade do presidente velar pela democracia? Sim. Está velando por ela? Não. Está dizendo coisas que não são apropriadas ao chefe de Estado”. (Fernando Henrique Cardoso, ex-presidente da República)

“É risível e trágico: aqueles que incorporam a linguagem e a estética nazista agora acusam os outros da mesma coisa para se vitimizarem. Apenas parem. Vocês ofendem a memória das verdadeiras vítimas do nazismo e não enganam ninguém.” (Instituto Brasil-Israel, em nota oficial) 

“Um homem com essa qualidade não poderia ser ministro de pasta nenhuma […]. O homem que desrespeita democracia não poderia estar em um governo que se diz democrático”. (Rodrigo Maia, presidente da Câmara, sobre o ministro Abraham Weintraub, ministro da Educação)  

Com informações de Leonardo Sakamoto, Josias de Souza, Ricardo Noblat, Reinaldo Azavedo, Carta Capital, Outra Saúde, Sul 21, o Globo, BR-18, Folha de SP, Fórum, Veja, Dora Kramer, BRPolítico, Vera Magalhães, Marcelo de Moraes e Radar

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Victor Barone

Jornalista, professor, mestre em Comunicação pela UFMS.


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