20/04/2024 - Edição 540

Ágora Digital

Entre zurros e coices

Publicado em 30/01/2020 12:00 - Victor Barone

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O presidente Jair Bolsonaro resolveu se pronunciar sobre o chabu do Enem 2019, "apenas" 11 dias após pipocarem as reclamações de candidatos dizendo que suas notas estavam bichadas. Afirmou que a situação está "complicada" e que o governo tem que apurar "se realmente foi uma falha nossa, se tem uma falha humana, sabotagem". Independentemente do que a (necessária) investigação aponte, houve clara sabotagem. Mas ela foi interna, de seu próprio governo.

Um presidente da República coloca em uma das mais importantes funções do país duas figuras – primeiro, Ricardo Vélez, depois, Abraham Weintraub – claramente incapazes de garantir uma gestão profissional e racional da coisa pública e depois quer que tudo dê certo? Por mais que o bolsonarismo não seja afeito à ciência, deve entender que toda ação leva a uma reação. Em outras palavras, se você deixar um confeiteiro fazendo o trabalho de um pedreiro, o cliente não pode reclamar se vier uma casa de marshmallow com portas e janelas de chocolate.

Estudantes que se sentiram prejudicados pelos erros no Enem 2019 registraram representações no Ministério Público Federal, exigindo revisão geral da correção da prova, auditoria transparente nos processos e comunicação individual dos resultados. A seleção pelo Sisu – o Sistema de Seleção Unificado – chegou a ser suspensa pela Justiça Federal e universidades públicas declararam temer o atraso das aulas ou mesmo o não preenchimento de vagas. O MEC recebeu mais de 172 mil reclamações sobre a nota, mas disse que encontrou erros em menos de 6 mil. Estudantes discordam e a novela ainda vai longe.

Weintraub, que não enviou para os candidatos informações sobre a revisão de suas provas, teve a pachorra de atender, via Twitter, o pedido de um simpatizante do presidente que teve a nota da filha averiguada. Este sim recebeu a comunicação do resultado da checagem, dezenas de milhares de outros, não.

Bolsonaro não indicou profissionais da educação gabaritados para o cargo, pessoas que se dedicariam à educação e não à disputa ideológica. Preferiu se rodear de quem gasta mais tempo pensando em agradar seus delírios do que no bom funcionamento da República. Isso se estivermos considerando que a sabotagem foi não intencional. Pode ser parte de um projeto de país.

Talvez o ato de colocar pessoas incapazes no Ministério da Educação seja o plano de Bolsonaro desde o princípio. Afinal, ele acredita que, para construir um Brasil com valores e princípios conservadores, é necessário destruir primeiro o que havia antes. O que inclui as instituições que garantem o funcionamento da vida cotidiana. Como travar a fiscalização ambiental para atender a pecuaristas, madeireiros, garimpeiros e grileiros e, depois, se espantar quando o desmatamento e as queimadas aparecerem na mídia internacional e na mesa de investidores estrangeiros.

O problema é que a vida não se interrompe para ver a disputa ideológica passar. O Brasil conta com uma formação precária dos docentes e com alunos que saem do Ensino Médio analfabetos funcionais; assiste ao roubo, à ausência e à baixa qualidade da merenda escolar; paga baixos salários aos professores e não fornece estrutura suficiente em todas as escolas – metade não tem esgoto. Mas, para o presidente, o problema é que os livros têm muita coisa escrita, além de fictícias mamadeiras de piroca.

Como já disse aqui, quando o MEC informou, em abril do ano passado, que a gráfica que imprime o Enem, desde 2009, anunciara falência, quem acompanha a prova ficou apreensivo. Isso já seria um problema desgraçadamente grande se o ministério fosse gerido por um governo racional. Mas sem planejamento, comando ou autocrítica e tendo sido loteado, na época, para pupilos de um polemista narcisista de extrema direita, a instituição estaria mais vulnerável a falhas. Deu no que deu.

Em meio à crise no Enem e com reclamações de problemas na plataforma do Sisu, Weintraub se dedicou a ofender os historiadores Leandro Karnal e Marco Antônio Villa, postar carta de apoio ao novo partido do presidente, espalhar fake news sobre o jornalista Reinaldo Azevedo, entre outras estripulias. Sim, a cadeira do ministério segue vaga.

Bolsonaro vai descobrir que ele mesmo sabotou o ministério ao tentar fazer dele uma máquina de guerra cultural com o objetivo de ressignificar o passado e controlar o presente. A questão é que a sociedade não está corrompida e degradada, precisando de refundação, como ele pensa. Já o seu governo, sim.

Por Leonardop Sakamoto

Quem não consegue acreditar nas coisas em que Jair Bolsonaro acredita não imagina o que está perdendo com seu ceticismo. A metafísica é sempre mais divertida do que esse materialismo tedioso que inspira enredos factuais, nos quais o pau é sempre pau, a pedra é invariavelmente pedra e o Abraham Weintraub é inapelavelmente um ministro inadequado. Teorias conspiratórias são bem mais criativas. Quem resiste a elas acaba se privando dos prazeres que um bom romance pode proporcionar.

No país que se deixa guiar apenas pelos fatos, o Enem virou uma lambança porque Weintraub fez opção preferencial pela inépcia. No Brasil do romance de Bolsonaro, a coisa é mais emocionante. "Nós sabemos que tudo está na mesa", declarou o capitão nesta terça-feira, após retornar da Índia. Você já tem uma opinião formada. Bolsonaro ainda faz concessões à dúvida.

"Eu não quero me precipitar e dizer o que deve ter acontecido com Enem", afirmou o presidente. Para ele, há um leque de possibilidades. Pode ter sido "falha nossa", "falha humana" ou "sabotagem". É curioso notar a forma como o presidente distingue a "falha nossa" da "falha humana". É como se Bolsonaro acomodasse os membros do seu governo num patamar acima do nível em que se encontram os reles mortais que compõem a clientela do serviço público.

Nesse contexto, a hipótese de "sabotagem" compõe o quadro de alternativas para poupar os semideuses do governo do dissabor de ter que admitir que também estão sujeitos à condição humana. Numa entrevista que concedera na Índia, o capitão já havia declarado que "erros no Enem, sempre há." Afirmara também que Weintraub é um ministro "extremamente competente".

Não é à toa que Bolsonaro implica tanto com a imprensa. São muito chatos os jornalistas que insistem em adequar as aparências do Brasil romanceado à realidade do país sem romance. Uma imprensa que adaptasse a realidade às aparências converteria a ficção em versão oficial.

Nessa versão, Weintraub seria um ministro de mostruário submetido a emboscadas de esquerdistas inescrupulosos. Coisa bem mais divertida do que ter que concluir que o vocábulo "sabotagem" virou uma espécie de muleta multiuso da era Bolsonaro.

Por Josias de Souza

O general Augusto Heleno, ministro palaciano, amigo e conselheiro de Bolsonaro, acertou no olho da mosca ao diagnosticar numa entrevista a uma emissora de rádio o problema da pasta da Educação. Nas palavras do general, o ministério está "extremamente contaminado" por ideologias. Precisa ser "descontaminado dos dois lados", ele declarou. A única falha que pode ser apontada na avaliação do ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência é a ausência de nomes. O general Heleno não deu nome aos bois.

Com um ano de existência, o governo Bolsonaro já teve dois ministros da Educação. Uma piada, Ricardo Velez Rodrigues, foi substituída por um astro amador de redes sociais, Abraham Weintraub. Os dois foram escolhidos não por suas virtudes técnicas, mas pela identidade ideológica com o polemista Olavo de Carvalho, ideólogo do bolsonarismo. Meteram-se numa guerra contra o marxismo cultural. A ineficiência de ambos vai ganhando a forma de um míssil disparado contra o próprio governo.

Quando um governo faz uma opção preferencial pelo desastre numa área vital como a Educação, fica evidente que o problema não está localizado na Esplanada dos Ministérios, mas no Palácio do Planalto. No momento, quem nomeia e demite ministros é Jair Bolsonaro. Se o ministério está "contaminado" pela ideologia, foi Bolsonaro quem transmitiu o vírus. Se a "descontaminação" demora a acontecer é sinal de que o presidente não está curado da moléstia ideológica.

O caso do Enem reforça a sensação de que a ideologia é o caminho mais longo entre um projeto e sua realização. Abraham Weintraub imaginava ter produzido "o melhor Enem de todos os tempos". Entregou, na verdade, um fiasco gerencial. O MEC falhou na correção das provas. Coube aos estudantes, não ao sistema de checagem oficial, apontar o erro. Ao dizer que a lambança pode ter sido provocada por "sabotagem", Bolsonaro, que foi eleito como solução contra erros de governos anteriores, vira parte do problema.

Por Josias de Souza

A passagem de Weintraub pelo MEC tem sido marcada por uma longa série de polêmicas, ataques a estudantes, professores, universidades públicas e à União Nacional dos Estudantes (UNE). Sobretudo, é considerada causadora de grave retrocesso na educação brasileira. “Para a educação, 2019 não foi nem um ano perdido, foi de retrocesso”, disse recentemente, por exemplo, o presidente da UNE, Iago Montalvão.

O bloqueio de 30% das verbas do orçamento para custeio das universidades federais foi o primeiro ato de destaque do ministro, que em abril de 2019 substituiu o ex-chefe da pasta Ricardo Vélez Rodríguez: no final do mesmo mês, o MEC anunciou o corte global de R$ 1,7 bilhão das instituições. Como resultado de sua medida orçamentária, Weintraub provocou uma onda de manifestações em mais de 200 cidades de todo o país, reunindo mais de um milhão de pessoas. O governo recuou e as verbas voltaram às universidades.

Outra ação do MEC sob Weintraub foi o corte das bolsas de mestrado e doutorado, que caíram pela metade no orçamento de 2020, de R$ 4,25 bilhões, em 2019, para R$ 2,20 bilhões em 2020. Muitos estudantes abandonaram projetos ou deixaram de ingressar em pesquisas.

Durante sua gestão, o ministro foi pródigo em declarações nada edificantes sobre o ensino público e suas instituições. Para ele, as universidades são antros de “balbúrdia”, abrigam plantações de maconha e produzem drogas sintéticas. A intenção do ministro é “desqualificar o ambiente das universidades”, na opinião do dirigente da UNE. Ele defende ações da polícia nas universidades. Sobre os professores, Weintraub afirmou, em setembro, que é preciso “atacar a zebra mais gorda”, referindo-se ao salário dos docentes universitários das instituições federais.

O ministro da Educação tem sido eficaz em protagonizar cenas polêmicas e às vezes “bizarras”. Em post no seu site, a Associação dos Professores da Universidade Federal do Paraná (APUFPR) diz que “as declarações do ministro da educação são bizarras” e que ele “é o ministro de Educação, em toda a história da República, que mais vociferou sandices enquanto ocupante do cargo”.

No dia da proclamação da República, após enaltecer no Twitter figuras da monarquia brasileira, uma internauta se dirigiu a ele: “Se voltarmos à monarquia, certamente você será nomeado bobo da corte”. Weintraub respondeu: “Uma pena, prefiro cuidar dos estábulos, ficaria mais perto da égua sarnenta e desdentada da sua mãe”. As ofensas são dirigidas indiscriminadamente a pessoas ou entidades. À UNE, ele fez uma ameaça: “a gente vai quebrar mais uma das máfias do Brasil”. Por isso, foi notificado pelo Supremo Tribunal Federal.

Verborragia à parte, em sua gestão, algumas iniciativas – além das questões financeiras – são frontalmente contra a universidade pública enquanto esteio da democracia. Embora assinada pelo presidente da República, esse é o caso da Medida Provisória 914, editada no final de 2019, que muda o rito para a eleição e nomeação dos reitores das universidades e institutos federais. Por ferir princípios constitucionais como a autonomia universitária (protegida pelo artigo 207 da Constituição), a MP foi duramente atacada no meio acadêmico, incluído o ex-ministro da Educação Renato Janine Ribeiro. O programa Future-se, lançado pelo MEC, foi combatido por toda a comunidade das acadêmica: alunos, reitores, professores e servidores. A proposta fracassou.

A pressão sobre o presidente Jair Bolsonaro, vinda das redes sociais, do Congresso e da ala não ideológica do governo, para demitir Weintraub é grande. O chefe da pasta, contudo, conta com uma rede de apoio aparentemente mais forte junto ao presidente: bolsonaristas estratégicos, em especial os filhos do mandatário.

Só Eduardo Bolsonaro fez três posts desde terça (28) favoráveis ao ministro. 

O vereador Carlos Bolsonaro, o 03, segue com as postagens em tom institucional que vem adotando desde, especialmente, o início do ano, como informativo de ações do governo. Em uma mensagem sequencial, falou de Capes, creches, piso salarial, escolas cívico-militares e ideologia no ensino. 

Nesta semana, a hashtag #FicaWeintraub esteve entre as mais tuitadas, impulsionada por bolsonaristas. O irmão do ministro, Arthur Weintraub, assessor especial de Jair Bolsonaro, é um dos entusiastas, como também o empresário Luciano Hang, um aliado bastante próximo do presidente. 

A QUE PONTO…

Foi nomeado o novo presidente da Capes. E trata-se do reitor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Benedito Guimarães Aguiar Neto, que defende o estudo do chamado “design inteligente”, uma “roupagem contemporânea do criacionismo“, segundo a Folha. O Mackenzie tem desde 2017 um núcleo de estudos sobre isso. E no ano passado, em um congresso sobre o tema na universidade, Aguiar Neto afirmou querer disseminar esse entendimento na educação básica: “Queremos colocar um contraponto à teoria da evolução”.

É… A matéria do Globo lembra que no ano passado, durante a crise que levou a cortes na Capes e no CNPq, Bolsonaro citou a Mackenzie como exemplo de universidade que faz pesquisa no Brasil, em detrimento das públicas.

ENQUANTO ISSO NA SECOM

Uma característica curiosa da corrupção se observa na administração pública. O corrupto está sempre nos outros governos. Jair Bolsonaro gasta baldes de saliva para sustentar que não há malfeitores à sua volta. Não convém discutir com um perito no assunto. Mas os órgãos de controle parecem decididos a conferir a situação de Fabio Wajngarten, o chefe da Secretaria de Comunicação da Presidência da República.

O Ministério Público Federal em Brasília acaba de requisitar a abertura de um inquérito criminal. Pede que a Polícia Federal verifique se Wajngarten cometeu crimes de corrupção, peculato e advocacia administrativa.

Do lado de fora, Wajngarten é sócio de empresa que presta serviços a tevês e agências. Do lado de dentro, assina contratos que favorecem sua clientela.  O chefe da Secom é protagonista também de um processo aberto no Tribunal de Contas da União sobre o rateio de verbas publicitárias. E deve ser convocado para prestar esclarecimentos em comissões do Congresso.

Todos parecem desconfiar de Fabio Wajngarten, exceto Jair Bolsonaro. Questionado, o capitão exibe reações destemperadas. Já mandou uma repórter calar a boca. "Se foi ilegal, a gente vê lá na frente", declarou, ao comentar a aparente dupla militância do empresário que virou seu auxiliar. No momento, a dúvida que flutua na atmosfera é a seguinte: até onde Bolsonaro deixará o melado escorrer?

Por Josias de Souza

O governo Bolsonaro gastou R$ 4,3 milhões em merchandising como parte da sua campanha para aprovar a reforma da Previdência, informa o jornal Folha de S. Paulo. Merchandising é aquela propaganda inserida durante um programa e, usualmente, lida pelo apresentador.

Desse montante, 91% foram destinados para atrações da Record, Band e SBT, as duas primeiras clientes da empresa do secretário de Comunicação, Fabio Wajngarten, a FW Comunicação. O maior investimento foi feito no programa Hoje em Dia, da Record, apresentado por César Filho e Ana Hickmann. Cada apresentador recebeu um cachê de R$ 34 mil por fala em prol da reforma, e o programa recebeu, no total, R$ 983 mil.

O Programa do Ratinho recebeu R$ 915 mil por quatro elogios, entre os quais “As mudanças são claras e boas para o Brasil”, dito pelo apresentador em um dos programas. Em outro, ele disse: “Você acha que se a Previdência fosse ruim para o povo, eu estaria a favor?” O governo também destinou verbas para outros apresentadores, como Osvaldo Mesquita (R$ 218 mil), Datena (R$ 331 mil), Eliana (R$ 269 mil) e Milton Neves (R$ 119 mil).

A contratação de merchandising não é proibida, mas, segundo a Folha, o Tribunal de Contas da União (TCU) está investigando se a campanha seguiu critérios técnicos (como audiência) ou critérios políticos, o que feriria o princípio constitucional da impessoalidade.

De acordo com o jornal, desde que Wajngarten assumiu a Secom, em abril, o governo passou a priorizar o direcionamento de verbas para emissoras consideradas aliadas e que tem ligações coma a empresa do secretário. Anteriormente, o governo tinha promovido uma campanha de R$ 11,5 milhões em que a Globo, líder nacional de audiência, tinha recebido o maior montante da verba.

Confira a íntegra da reportagem.

WITZEL DIVULGA CONVERSA AO TELEFONE COM MOURÃO

O governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, publicou no Twitter um vídeo no qual telefona para o presidente em exercício, Hamilton Mourão, para pedir ajuda para resolver a situação das enchentes que atingem o Estado desde a última semana. O vídeo tem 1’22” e, em momento algum, o governador avisa Mourão que a ligação está no viva-voz e sendo filmada. O governador relata a situação e pede ajuda, sobretudo para a água. “Senhor presidente, boa tarde, estou em Porciúncula, região de Itaperuna, uma região muito afetada…” Mourão interrompeu: “Estamos cientes, governador, estamos cientes”, conversam os dois no início do vídeo. Da Índia, o presidente Jair Bolsonaro demonstrou que não gostou da atitude de se desafeto. “Eu acho que não é usual alguém fazer isso. Eu não gostaria que fizessem comigo, não interessa qual seja o assunto. O que se trata por telefone tem que ser reservado”, disse Bolsonaro.

PSDB IRÔNICO

O perfil oficial do PSDB no Twitter ironizou a estratégia defendida pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula de Silva, que decidiu orientar o PT a se aproximar dos evangélicos para ampliar sua força política no setor. Na visão dos petistas, hoje, o partido está muito distante dessa fatia da sociedade, ao contrário dos bolsonaristas. Os tucanos, entretanto, não deixaram passar em branco o movimento de Lula. “O próximo passo é abrir uma igreja e se intitular bispo”, postou o perfil oficial do PSDB.

FRITURA

O presidente Jair Bolsonaro disse que não precisa “fritar” publicamente ministros com a intenção de demiti-los. Em entrevista ao Jornal da Band , da TV Bandeirantes, ele elogiou o trabalho do ministro Sérgio Moro à frente da pasta de Justiça e Segurança, mas ressaltou o papel de governos estaduais na melhoria de índices de segurança pública do País, discrepando do discurso de Moro. “(Moro) está fazendo um bom trabalho no tocante à segurança, juntamente com os secretários de Estado. Não é o trabalho nosso apenas, ele faz a parte dele”, disse Bolsonaro. “Eu não preciso ‘fritar’ ministro para demitir.”

BEBIANNO PREPARA LIVRO SOBRE BASTIDORES DA FASE BOLSONARO

O ex-ministro da Secretaria-Geral da Presidência Gustavo Bebianno prepara um livro sobre os bastidores de sua temporada ao lado do presidente Jair Bolsonaro. Hoje líder do PSDB no Rio, o advogado pretendia lançá-lo em julho, mas o projeto vai levar mais tempo. “Eu tenho evoluído com esse livro. Será um livro muito detalhado, que trará bastidores que ninguém tem, porque ninguém viveu, além de um grupo muito pequeno. Eu vivi esse leque de A a Z. Eu comecei a ler o livro da Thaís Oyama (Tormenta), mas tem algumas imprecisões. Mas no geral o livro dela é muito bom. Mas o livro que estou fazendo é mais profundo e detalhado em termos de bastidores. Em princípio eu pensava em lançá-lo em julho deste ano, mas não sei se vou conseguir cumprir o cronograma”, afirmou ele ao jornal O Dia.

MAIS UM OLAVISTA NO GOVERNO?

Meio escanteado após o esvaziamento da atribuições da Casa Civil, o ministro Onyx Lorenzoni foi até os EUA buscar um aliado de peso para continuar no primeiro escalão do governo Bolsonaro. Onyx fez uma visita a ninguém menos que o “guru” presidencial, Olavo de Carvalho, que com meia dúzia de cliques nas redes sociais queima ou salva membros do governo. Segundo Onyx, a conversa foi sobre “o presente e o futuro” do Brasil. “Sempre defendemos as ideias liberais e hoje podemos vê-las aplicadas com grandes resultados”, disse Onyx. Olavo, por sua vez, tem feitos críticas frequentes aos liberais, por colocarem as reformas econômicas como prioridade ao invés da “guerra cultural” defendida por ele e seus seguidores.

ERNESTICES

O ministro de Relações Exteriores, Ernesto Araújo, integrou a delegação na viagem oficial do presidente Jair Bolsonaro à Índia. Pela sua conta no Twitter, o chanceler celebrou o encontro dos governos dos dois países e os acordos que estão sendo firmados. Mas não perdeu a chance de exaltar a união dos dois governos contra o globalismo, um dos maiores fantasmas dos bolsonaristas. “Nova parceria Brasil-Índia. Um Plano de Ação e 15 acordos (investimentos, energia, tecnologia, saúde, defesa, agricultura). A força de duas nações q se unem pelo crescimento econômico e contra as estruturas do pensamento globalista. Brasil subindo para ser grande entre os grandes”, escreveu.

ANTICIENTÍFICO

Na sua entrevista para o canal DD India, Jair Bolsonaro oi perguntado sobre o risco que as mudanças climáticas representam. O presidente afirmou que “há um exagero enorme” nessa discussão. Bolsonaro saiu em defesa da política ambiental feita no Brasil e defendeu um equilíbrio entre preservação e desenvolvimento.

NAZISTAS BRAZILEIROS

O fazendeiro José Eugênio Adjuto, de 57 anos — que usou uma suástica em um bar no interior de Minas Gerais — tornou-se réu por apologia ao nazismo. O juiz Rafael Lopes Lorenzoni, da Vara Criminal de Unaí, aceitou a denúncia do Ministério Público de Minas Gerais. Adjuto passou a ser investigado depois de ir a um bar no centro de Unaí, usando uma braçadeira com o símbolo nazista. No dia do ocorrido, em 14 de dezembro, clientes do bar chegaram a acionar a Polícia Militar. Agentes do 28º Batalhão foram ao local, mas entenderam que o “caso em tela não se almodava com precisão ao crime previsto no artigo 20”, conforme nota divulgada pela corporação. Segundo o texto, os policiais orientaram a retirada da braçadeira “para evitar problemas de segurança”, e a “situação foi resolvida no local”.

Zecão Adjuto, como é conhecido, é dono de uma empresa que cria bois para corte, em Unaí. De acordo com a denúncia, a braçadeira usada por ele foi feita artesanalmente e posicionada no braço esquerdo, “acima do cotovelo, como tradicionalmente usavam os nazistas”. Em depoimento à polícia, o pecuarista afirmou que não teve intenção de fazer alusão ao nazismo. Disse que “usou símbolo religioso antigo de felicidade”.

A versão, porém, não convenceu os promotores Sofia Miziara Oliveira e Stefano Boglione. Segundo eles, Adjuto teve “evidente intenção de propagar ideias nazistas”.  Por duas vezes, o homem se recusou a retirar a braçadeira com a cruz suástica, mesmo advertido sobre a indignação provocada aos demais presentes. Os promotores também afirmam que Adjuto “possui posicionamentos extremistas e inegável conhecimento histórico sobre a II Guerra Mundial, bem como ciência sobre a espécie de cruz suástica por ele utilizada”.

O artigo 20 da Lei nº 7.716, de 1989, diz que é proibido “fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou propaganda que utilizem a cruz suástica ou gamada, para fins de divulgação do nazismo”. A pena é de dois a cinco anos de prisão e multa.

Dez dias depois da demissão de Roberto Alvim, o governo exonerou da Secretaria Especial de Cultura três funcionários que foram nomeadas como cargo de confiança do dramaturgo. Foram exonerados o assessor Alexandre Leuzinger; o coordenador de projetos especiais, Marco Aurélio Franco; e o coordenador de empreendedorismo e inovação, Alessandro Loiola. Na semana passada, a assessora Denia Magalhães também já havia deixado o governo.

NÃO PODE MAIS PRENDER? QUE PENA

Durante uma brincadeira com o jornalista André Marinho, o ministro da Justiça Sérgio Moro disse que com Abuso de Autoridade, não pode mais prender jornalista, se referindo a lei de abuso de autoridade sancionada pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) no ano passado. A frase foi quando Moro participou como entrevistado no programa Pânico, da rádio Jovem Pan. Durante o programa, o jornalista, André Marinho imitou Moro e fez uma pergunta direcionada ao ministro. Moro, então, respondeu: "Eu não falo assim não. Tem como recorrer?", em meio a brincadeira, os integrantes falaram que o ex-juiz poderia prender o jornalista e Moro respondeu ironicamente que "agora tem a Lei de Abuso de Autoridade, não pode mais prender jornalista, né?".

Moro também lançou ironia ao abordar o documentário Democracia em Vertigem, de Petra Costa, indicado ao Oscar e que narra o processo que levou ao golpe parlamentar contra Dilma Rousseff em 2016. Indagado sobre o documentário, Moro disse que assistiu, ressaltando que “tem alguns fatos ali que não correspondem à realidade”. “A cineasta é bastante honesta no começo quando ela fala ‘eu sou petista e o Lula é meu herói’. E o filme segue nessa toada”, afirmou.

O diretor do The Intercept Brasil, Glenn Greenwald, desmentiu o comentarista José Maria Trindade, da rádio Jovem Pan. O jornalista afirmou que o Ministério Público Federal (MPF) teria descoberto novas conversas. “Uma mentira total: a PF analisou exatamente o mesmo áudio que o MPF citou. Como pode ser tolerado?”, disse Glenn. Indignado, Glenn ainda pergunta ao final de seu post: “Como pode ser tolerado?” “É chocante, mesmo pra Jovem Pan, ver alguém mentir tão descaradamente: Ele mencionou que a PF concluiu que não cometi crimes, mas ele alegou que “depois” o MPF descobriu novas conversas. Uma mentira total: a PF analisou exatamente o mesmo áudio que o MPF citou. Como pode ser tolerado?”

DAMARES NO CHILE

A ministra da Família, Mulher e Direitos Humanos, Damares Alves, foi alvo de protestos na 14ª Conferência Regional sobre a Mulher da América Latina e Caribe, que acontece no Chile. A ministra discursava sobre o combate à violência contra a mulher no Brasil, quando um grupo se levantou e ficou de costas para a ministra, que continuou seu discurso. O evento aconteceu na sede da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), em Santiago. Este é o principal fórum inter-governamental sobre os direitos das mulheres e a igualdade de gênero na região. A conferência é convocada regularmente desde 1977. Dentre outros pontos, ela busca apresentar "recomendações em termos de políticas públicas de igualdade de gênero e realizar avaliações periódicas das atividades voltadas ao cumprimento dos acordos regionais e internacionais".

MENOR EM 11 ANOS

O governo Bolsonaro usou menos de um terço dos recursos previstos no Orçamento para prevenção de desastres naturais durante o primeiro ano de sua gestão. O resultado é que o gasto com obras estruturantes e projetos de contenção de inundações atingiu o menor patamar em 11 anos, segundo levantamento da Folha feito com dados de execução orçamentária. Em 2019, essa verba foi de R$ 306,2 milhões, mas só foram gastos R$ 99 milhões. Ainda por cima, o valor total dessa rubrica foi bem menor do que em anos anteriores: em 2012, por exemplo, o montante chegou a R$ 4,2 bilhões em valores corrigidos pela inflação. Essas verbas são destinadas a contenção de cheias e inundações, prevenção e erradicação de riscos em assentamentos precários e obras preventivas de desastres, além de ações de manejo de água de chuva.

UNIVERSALMENTE HIPÓCRITA

O apoio da Igreja Universal a presidentes da República não se orienta por ideologias de esquerda ou direita. Vai de Fernando Collor a Jair Bolsonaro, passando por Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso, Lula, Dilma Rousseff e Michel Temer. “Eles apoiaram todos os governos. Collor, Itamar, FHC, Lula, Dilma, Temer, Bolsonaro. Agora, todos também querem, né? Se eles chamam o PT de Satanás, mas amanhã resolvem apoiar o PT de novo, o PT vai aceitar provavelmente”, afirmou o autor do livro O Reino, o jornalista Gilberto Nascimento, à Agência Pública. A obra conta a história do bispo Edir Macedo, comandante da Universal, desde sua infância à construção do império da fé que hoje tem 10 mil templos, 14 mil pastores e milhões de fieis em 95 países.

Nascimento registra a relação de Macedo com o ex-ministro da Justiça de Lula, o advogado Márcio Thomaz Bastos (2003 a 2007). “Tem momentos que vão e voltam. Quando o bispo é preso (1992), um dos raros políticos que vai lá prestar solidariedade é o Lula. E mesmo assim ele (Lula) continua sendo chamado de Satanás ou de demônio. E acho que a relação começa a mudar um pouquinho quando o Márcio Thomaz Bastos vai defender o bispo, e é quem consegue tirar o homem lá da prisão. Parece que aos poucos o Bastos, que era advogado do Edir e advogado do PT, vai fazendo uma aproximação que é consumada quando o Lula ganha a eleição. Mas o bispo tem uma visão muito pragmática. Para mim, é claro que “se há poder eu tô junto”. Eles querem estar com o poder”, resumiu.

PIORA DEPOIS DE SETE ANOS

Acidentes em estradas federais cresceram no ano passado, chegando a 18,6 mil feridos graves —5% a mais que no ano anterior. O número de mortes também aumentou ligeiramente: foram 5.332 vítimas em 2019, 61 a mais do que o ano anterior. Não parece muito, mas é a primeira vez em sete anos que o número piora. O problema coincide com o primeiro ano do governo Bolsonaro. Embora não seja possível afirmar que o aumento tenha ocorrido devido à orientação do presidente de diminuir a fiscalização por radares nas estradas e mudar o Código de Trânsito Brasileiro, especialistas ouvidos pela Folha afirmam que a sinalização do governo pode, sim, ter colaborado para um alteração no comportamento dos motoristas. Os dados foram divulgados pela Polícia Rodoviária Federal.

OS MAIORES MULTADOS

O De Olho nos Ruralistas identificou, a partir de dados do Ibama, os proprietários rurais que mais receberam multas por desmatamento nos últimos 25 anos. A equipe lançou um mapa que mostra os resultados em cada município, e escreveu no Intercept sobre os achados. Foram ao todo R$ 34,8 bilhões em multas, e só 25 pessoas físicas ou jurídicas são responsáveis por cerca de 10% do valor: R$ 3,58 bilhões, ou quase o orçamento do Meio Ambiente inteiro para este ano. Se corrigido, o montante ultrapassa os R$ 6 bi. E mais: entre esses 25, nada menos do que 24 foram multados mais de uma vez.

No geral, apenas 487 pessoas físicas e jurídicas levaram um conjunto de multas totalizando mais de R$ 10 milhões. Outras 466 receberam autuações que somam mais de R% 5 milhões. Só uma pequena fatia das multas, de 1,42%, foi quitada. Muitas prescreveram e outras ainda estão em fase de recursos, mesmo décadas depois.

O campeão das multas é o Incra, mas não por culpa dos assentados e sim de grileiros. Muitos locais onde as autuações foram aplicadas já não são mais assentamentos. são focos de grilagem, como São Félix do Xingu, “capital da pecuária em terras do governo federal”. Para espanto do Paulo Guedes e de mais ninguém, os maiores desmatadores são “algumas das pessoas mais ricas e poderosas do Brasil” – há desde políticos e empresários do agronegócio até um organizadores do carnaval baiano.

MUITO LENTAMENTE

Por falar em desmatamento, uma matéria da BBC conta que a regeneração de áreas devastadas na Amazônia é mais lenta do que se imaginava. Há 18 anos, foram medidos o diâmetro e a altura de árvores que cresciam em áreas desmatadas perto de Bragança, no Pará. Agora, as mesmas árvores foram revisitadas por pesquisadores do Brasil e do Reino Unido e eles viram que o crescimento foi inferior ao que pesquisas anteriores haviam previsto. Uma razão provável é o fato de que se trata da primeira região de colonização da Amazônia, desmatada há muito tempo. O solo já está, portanto, muito pobre. “Considerado o cenário atual da Amazônia, com desmatamento aumentando, e considerando que os eventos de seca severa estão cada vez mais frequentes, nós podemos inferir que as florestas da Amazônia inteira poderão ter esse tipo de comportamento a médio ou longo prazo”, alerta o biólogo Fernando Elias, um dos pesquisadores envolvidos.

REAÇÕES

Em vídeo enviado à diretora do filme Democracia em Vertigem, Petra Costa, o cantor e compositor Chico Buarque afirmou que o Brasil atualmente  é “um país governado por loucos”. Na mensagem, ele parabeniza a cineasta, que “soube captar, no calor da hora, com sensibilidade, com senso de oportunidade, os bastidores da cena política”. O filme foi indicado ao Oscar de 2020 na categoria Melhor Documentário. A cerimônia de premiação do Oscar, em Los Angeles, acontece no próximo dia 9 de fevereiro.  Confira o vídeo abaixo.

O músico Caetano Veloso também ergueu sua voz para alertar que “o fascismo está mostrando suas garras” no Brasil. Cinquenta e um anos depois de ser encarcerado pela ditadura militar, o cantor afirma, num vídeo em inglês divulgado pelas redes sociais neste fim de semana, que “o Governo brasileiro não só empreendeu uma guerra contra as artes e os criadores, mas também contra a Amazônia e os direitos humanos em geral”.

A banda de punk rock russa formada apenas por mulheres, Pussy Riot, que se apresenta nesta semana no Brasil, divulgou um cartaz crítico ao presidente brasileiro Jair Bolsonaro (sem partido). O grupo é reconhecido por postura politizada e feminista. Eles se apresentam nesta quinta-feira (30), no Centro Cultural São Paulo. O show é parte do Festival Verão Sem Censura, que começou no dia 17 e vai até sábado (1º).

FRASES DA SEMANA

“Ontem, me denunciaram de novo, dessa vez por causa daquela invasão no tal do triplex. Eu e o companheiro Guilherme Boulos. Ora, se eles diziam que eu era o dono, aquilo não foi invasão”. (Lula)

“Se vocês me provarem, cientificamente, que o canal de vagina de uma menina de 12 anos está pronto para ser possuído todo dia por um homem, eu paro agora de falar [em abstinência sexual].” (Damares Alves, ministra da Mulher e dos Direitos Humanos) 

“Flávio Dino é uma liderança que está se colocando no cenário nacional, é preparado e está fazendo um movimento legítimo. Ele pode ser uma alternativa”. (Gleisi Hoffmann, presidente do PT, depois que o governador do Maranhão foi sondado por Luciano Huck para ser seu vice) 

“Ele [Bolsonaro] está honrando o compromisso que assumimos juntos. Vai terminar o mandato, provavelmente vai ser reeleito, vai terminar o outro mandato, e a democracia vai continuar igual. A imprensa podia dar uma folguinha e destacar o lado positivo do governo.” (Sérgio Moro

“Com esse ministro da Educação, nosso país não tem futuro”. (Rodrigo Maia, presidente da Câmara dos Deputados, sobre Abraham Weintraub, discípulo do autoproclamado filósofo Olavo de Carvalho e administrador desastrado)

Com informações de Leonardo Sakamoto, Josias de Souza, Ricardo Noblçat, Reinaldo Azavedo, Carta Capital, Outra Saúde, Sul 21, o Globo, BR-18, Folha de SP, Fórum, Veja, Dora Kramer, BRPolítico, Vera Magalhães, Marcelo de Moraes e RadaR

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Victor Barone

Jornalista, professor, mestre em Comunicação pela UFMS.


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