19/04/2024 - Edição 540

Ágora Digital

O tempo está se esgotando

Publicado em 16/05/2019 12:00 - Victor Barone

Clique aqui e contribua para um jornalismo livre e financiado pelos seus próprios leitores.

A Presidência de Jair Bolsonaro tem apenas quatro meses e meio de existência. Em condições normais, um governo assim, estalando de novo, deveria transformar o calor das urnas recém-abertas em energia para impulsionar as mudanças prometidas na campanha eleitoral. Mas o capitão conseguiu o inimaginável: transformou a legitimidade do voto em fumaça. Já respira uma atmosfera de final de mandato.

Bolsonaro cria crises do nada. Seu governo tornou-se um ninho de cobras. O guru presidencial Olavo de Carvalho e suas serpentes ideológicas enxergam no pedaço militar da equipe um punhado de víboras golpistas. Ministros como Paulo Guedes (Economia) e Sergio Moro (Justiça), assistem à diluição dos seus hipotéticos superpoderes num caldeirão de polêmicas inúteis.

No Congresso, potenciais aliados do centrão juntam-se à oposição para impor derrotas em série ao Planalto. Faltava o ronco do asfalto para que a tempestade fosse perfeita. Não falta mais. O governo cometeu tantos erros na estratégica área da Educação que conseguiu acordar as ruas, que andavam adormecidas desde o impeachment de Dilma Rousseff.

Com a popularidade em baixa, o capitão poderia considerar a hipótese de sentar à mesa e negociar a sério. Mas ele se comporta como se desejasse virar a mesa. Briga no Congresso com os mesmos atores que retiraram o chão de Dilma. E chama os manifestantes de "idiotas úteis".

O Brasil precisa de bom senso, reformas, emprego e decência. Sob Bolsonaro, crescem a balbúrdia e o desemprego. O filho 'Zero Um' acaba de ter os sigilos bancário e fiscal quebrados. E o presidente, em vez de moderar, atiça. Bolsonaro não consegue governar nem a si mesmo. Seu descontrole devolve a carta do impechment ao baralho.

Por Josias de Souza

Inacreditável

Bolsonaro divulgou, em grupos de Whatsapp, um texto ANÔNIMO que dissemina um baita pânico e termina com a frase: "Infelizmente o diagnóstico racional é claro: 'Sell'." Sim, isso mesmo: o Presidente da República está mandando vocês venderem ações, patrimônio, o escambau. Alguns dos trechos do texto são incríveis. Cito um:

"Descobrimos que não existe nenhum compromisso de campanha que pode [sic] ser cumprido sem que as corporações deem suas bênçãos. Sempre a contragosto.

Nem uma simples redução do número de ministérios pode ser feita. Corremos o risco de uma MP caducar e o Brasil ser OBRIGADO a ter 29 ministérios e voltar para a estrutura do Temer."

O Presidente descobriu agora que não pode reduzir o número de Ministérios para sempre sem passar pelo Congresso! Outro trecho:

"Se não negocia com o congresso, é amador e não sabe fazer política. Se negocia, sucumbiu à velha política."

Uai, mas quem foi mesmo que disseminou a ideia de que negociar com o Congresso era fazer "a velha política"? É um Presidente enrolado nas próprias teorias conspiratórias com as quais se elegeu. Vai ser difícil desenrolar.

Por Idelber Avelar

DE VOLTA AS RUAS

Quarta passada (15) foi dia de sair às ruas na greve geral da educação. Em todos os estados, atos reuniram milhares de… “idiotas úteis“, segundo Bolsonaro. 

“Mais uma vez, ficou claro que a hipótese de ‘onda de apatia” é falsa‘, escreveu Antonio Martins, no Outras Palavras. Ao contrário do que aconteceu no último dia 8, com os atos das universidades públicas, agora a cobertura dos grandes veículos de comunicação foi massiva: ela teve/tem destaque na página inicial dos sites, e na TV não faltaram notícias, o que não é pouca coisa. Também, o movimento nacional foi difícil de se ignorar… 

Houve matérias no Estadão, na Folhano Globo. O Valor entrevistou algumas pessoas que estavam participando pela primeira vez de uma manifestação. E home do site da Veja destacou a participação de 1,5 milhão de pessoas. Os textos não discutiam, via de regra, a política do governo, mas mais a sua inabilidade. No Globo, por exemplo, Paulo Celso Pereira escreveu que “o debate poderia ter sido técnico se ministro não dissesse que universidades com ‘balbúrdia’ seriam retaliadas”

O ministro da Educação Abraham Weintraub não se fez de rogado e, na Câmara, voltou a dizer que as ciências humanas produzem “pouquíssimas” publicações com impacto. Afirmou que as bolsas na pós estão nessas áreas que “não geram produção científica“. Nem é verdade: os estudos brasileiros em Ciências Sociais aparecem mais entre os 1% de artigos científicos mais citados do mundo do que os da área de engenharia, biologia ou economia, segundo o relatório Web of Science.

Tira, tiroso

Weintraub também mentiu ao dizer que a prioridade do governo é a educação básica (quando só o Fundo Nacional de Desenvolvimento de Educação vai perder mais de R$ 2,5 bilhões, 47% do seu orçamento previsto) e o ensino técnico (onde o bloqueio chega a R$ 1,18 bilhão, ou 34% dos recursos previstos no orçamento federal parla a área).

Enquanto ele falava, alguns deputados se dispersavam e, no cafezinho, olhavam as notícias das manifestações na TV. Comparavam as imagens com as do atos pelo impeachment de Dilma em 2016, segundo Vera Rosa, do Estadão. Ela conta que nem a bancada do PSL ficou toda até o fim da sessão. E que o Centrão se afastou do governo, mas ainda timidamente. Houve várias confusões, gritaria, xingamentos. “Com a Bíblia na mão, o deputado Pastor Sargento Isidório (Avante-BA) andava de um lado para o outro e pedia calma. Segurava um cartaz com os dizeres ‘Balbúrdia é armar a população e cortar da educação'”.

Achei Pequeno

Para o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, as manifestações ocorridas na quarta, 15, contra os bloqueios em Educação, foram “importantes, mas não foram grandes”. O ministro comparou os protestos aos de 2016 a favor do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. “Nós esperávamos que fosse assim. Não achei grande, achei importante”, declarou.

Queremos!!!

“‘Querem que eu sofra um impeachment?”. O presidente Jair Bolsonaro usou o argumento exposto pelo filho 02 para apoiar o contingenciamento em educação que levou milhares às ruas do País na tarde de quarta, 15. “Ah, corte? Quem decide corte não sou eu. Ou querem que eu responda um processo de impeachment no ano que vem por ferir a lei de responsabilidade fiscal, por não ter previsto que a receita foi menor do que a despesa? É a realidade. É a verdade que o povo e vocês da imprensa em parte também não estão acostumados a ouvir. Estão acostumados a ouvir parlamentar vaselina”, afirmou ele, em Dallas.

Mourão sobre protestos: ‘A vida vai seguir’

O vice-presidente Hamilton Mourão, disse que não acredita que as manifestações contra o corte de verba na Educação desestabilizam o governo. O general também avalia que elas não voltarão a ocorrer. “Final de julho, início de agosto irão mudar as expectativas econômicas e a vida vai seguir”, afirmou. Mourão refere-se à aprovação da reforma da Previdência, que, segundo espera o governo, deve gerar empregos e movimentar a economia do segundo semestre, caso seja aprovada até lá. Mourão também questionou uma “exploração política” das manifestações, devido à presença de faixas e cartazes pedindo a libertação do ex-presidente Lula.

“O protesto é uma forma que a sociedade tem de se expressar e de expressar o seu desencanto com coisas que estão acontecendo. Agora, você nota que houve a exploração política, porque se o protesto era contra (cortes na) educação por que tinha ‘Lula Livre’?”, questionou. Anteriormente, Mourão já havia afirmado que os protestos são normais e que fazem parte do “jogo democrático”. Já o presidente Jair Bolsonaro criticou a paralisação e afirmou que os manifestantes são “idiotas úteis” e “massa de manobra”. Hoje, de Dallas, Bolsonaro também criticou a presença de faixas pedindo “Lula livre”.

Frustração

Cientistas que saem do país para ter bolsas que lhes permitam continuar suas pesquisas foram pauta de matéria do Estadão. Incrivelmente, não há um levantamento sobre a dimensão da ‘fuga de cérebros’. “A sensação é de frustração. Vejo o quanto foi investido na formação de pesquisadores que agora não conseguem dar sua contribuição ao Brasil. Outros países agradecem: pegam um pesquisador com capacidade e formação de excelência sem gastar dinheiro”, diz um biólogo que faz pós-doutorado na África do Sul. E “tudo é incerto”, escreve Lucas Bugarelli no El País, sobre o pânico entre pesquisadores no Brasil. Espalha-se o receio de que os cortes atinjam também as bolsas já concedidas.

Mas… “O que dizem os cientistas que defendem os cortes na pesquisa do país”: a manchete da Folha dá a entender que são vários. No corpo, temos entrevistas com três. Só que um é simplesmente assessor do MEC, desde a rápida gestão de Ricardo Vélez Rodríguez. Outro, da Capes, diz que falta eficiência nos gastos em educação porque os artigos brasileiros são menos citados no mundo do que os publicados na Estônia…

Produção sim

Para quem gosta de números (e é preciso conhecê-los), o artigo de Lucindo Quintans no Intercept tem vários. Inclusive sobre a produtividade, que a Capes muito preza. “O Brasil é atualmente o 14º maior produtor de trabalhos científicos do mundo, segundo revela o recente artigo ‘Fábricas de Conhecimento’, publicado pelo Jornal da USP. Das 50 instituições que mais publicaram trabalhos científicos no país nos últimos cinco anos, 44 são universidades, sendo que 36 federais, sete estaduais e apenas uma particular”.

Projetos desenvolvidos em universidades federais também foram foco de matéria do GloboMuitos na saúde, como a pesquisa de tratamentos para crianças com microcefalia e para tuberculose, um instrumento para ajudar na cicatrização de pés diabéticos, um censor para diagnosticar a doença de Alzheimer e monitoramento de bacias hidrográficas. 

Ao mesmo tempo, o jornal publicou esta matéria (que não é assinada por jornalista nenhum) defendendo que a fala chocolatuda do ministro Abraham Weintraub sobre o contingenciamento estava, na verdade, correta. É que os 30% cortados não são sobre as despesas totais das universidades, apenas sobre as discricionárias, ou não obrigatórias. Salários de servidores e pagamentos de aposentados não entram na conta (porque justamente são obrigatórios e não podem ser cortados). Então 30% dos gastos não obrigatórios significam 3,5% das despesas totais. Mas o que afinal está incluído nos discricionários? Contas de luz e água, pagamento de terceirizados e investimentos. Incluindo pesquisa. É isso (tudo) que vai ter que funcionar com 30% a menos de verba.

Não é corte, é talho

O ministro da Educação, Abraham Weintraub, falou sobre o imbróglio do recuo no “contingenciamento”. Ele admitiu que recebeu a ligação do presidente Jair Bolsonaro, mas disse que a confusão aconteceu porque os parlamentares não ouviram toda a conversa. “Falei para o presidente que não tem corte, mas contingenciamento. Que quem fez isso foi o Ministério da Economia e eu tenho que me adequar”, disse. “Fui lá no Planalto à noite é conversei com o presidente. Se a receita volta, vida que segue. Ele falou a verdade. Não fazemos contingenciamento porque a gente quer”, completou.

Grossão

O ministro Abraham Weintraub explicou rapidamente a necessidade de trocar o titular da Educação em menos de 4 meses de governo: “O (Ricardo) Vélez é um acadêmico brilhante, mas não tem experiência de gestão. E eu tenho o couro mais grosso”.

Uns lordes, umas damas

A sessão que ouviu o ministro da Educação, Abraham Weintraub, na Câmara, na quarta-feira (15) teve uma série de confusões entre deputados da base e da oposição.  Durante uma confusão, parlamentares ameaçaram se bater no plenário da Casa.  As deputadas Carla Zambelli (PSL-SP) e Talíria Petrone (PSOL-RJ), foram contidas por seguranças. 

No mesmo momento, os deputados Glauber Braga (PSOL-RJ) e Éder Mauro (PSD-PA), trocavam xingamentos. "Vamos ver se você é homem lá fora", gritava o delegado bolsonarista. "Sai daí, fascista, nazista", gritou Ivan Valente (PSOL-SP). "Sai você, papai Noel", rebateu um deputado da base —o parlamentar da oposição, de 72 anos, tem barba branca como a do bom velhinho.

No meio, o deputado Pastor Sargento Isidório (Avante-BA), conhecido por carregar sempre consigo uma Bíblia, levantava o livro sagrado cantando: "tá, tá, tá, o diabo tá repreendido", para a diversão de deputados do centrão que se aglomeravam em volta. "Se cobrir isso aqui vira circo", brincou um deles, fazendo rir os demais. 

A confusão começou no final da sessão, já esvaziada, em que Weintraub respondeu a questionamentos durante seis horas. Em outro momento de gritaria, pouco depois, o vice-presidente da Casa, Marcos Pereira (PRB-SP), tentava acalmar os ânimos. "Se vocês não se comportarem, eu vou encerrar a sessão." 

Antes, outra gritaria havia explodido no plenário. O deputado André Janones (Avante-MG) subiu à tribuna para falar e tentava chamar a atenção do ministro. "Tenha um pouco mais de humildade, que o senhor está aqui para ouvir todos, não só quem está aqui para puxar o seu saco", afirmou. Neste momento, a mesa diretora cortou o microfone do deputado, iniciando uma confusão. O filho do presidente Jair Bolsonaro, Eduardo (PSL-SP), reagiu: "Fala logo, palhaço! Respeita o ministro, porra", gritou das fileiras de deputados. 

Torres de marfim

O ministro da Educação, Abraham Weintraub, declarou que não estão descartados novos cortes no orçamento do MEC e que a liberação dos recursos congelados está condicionada à aprovação da reforma da Previdência. O ministro também disse que é favorável à entrada da polícia nas universidades. “Autonomia universitária não é soberania”, repetiu, durante café da manhã com jornalistas. Weintraub argumentou que, no passado, a regra pode ter feito sentido, mas atualmente é dispensável. “Entendo por que no passado foi criada essa soberania universitária. Mas hoje não tem necessidade de a polícia não poder entrar no campus”, disse, para mais tarde completar: “Por que as universidades têm regras diferentes do resto do Brasil?”.

Weintraub se referiu às universidades como “torres de marfim” e afirmou que a autonomia das instituições deve se dar também na área financeira, com a criação de mecanismos que permitam a busca de recursos e patrocínios. “Hoje elas não podem… Não estou falando em cobrar, sou contra cobrar dos alunos de graduação.” Mas, emendou, “o ideal seria a criação de mecanismos para que empresas se tornem patronas de instituições, possam construir prédios, colocar nomes nas novas instalações”, disse. “Essas torres de marfim que a gente criou impedem que renda possa ser gerada para ser usada na pesquisa”, completou.

MPF quer entender cortes na Educação

O MPF iniciou na quarta-feira, 15, uma força-tarefa para apurar os cortes na Educação em 21 Estados. Em uma ação coordenada, o órgão enviou ofícios às instituições afetadas e aos Ministérios da Educação e da Economia a fim de obter esclarecimentos sobre os “bloqueios no orçamento e extinção de cargos e funções”. Cerca de 30 instituições em todo o Brasil já foram acionadas, na capital ou no interior dos Estados. No pedido feito às universidades, o MPF quer saber se as medidas do Decreto nº 9.725/2019 resultarão na extinção de cargos em comissão e funções de confiança naquele estabelecimento, e se o fim desses postos atinge negativamente atividades administrativas e acadêmicas – indicando os eventuais problemas decorrentes dessa determinação, bem como riscos administrativos e acadêmicos. Já os ministérios, a explicação que precisarão dar é de se houve estudo prévio aos cortes e as razões para o congelamento. O prazo estabelecido pelo MPF para o recebimento das respostas é de 15 dias, segundo o Valor.

FIEIS DA BALANÇA

Pesquisa realizada pelo Ideia Big Data para o BR18 mostrou que a maioria dos entrevistados (62%) concorda que os militares são um dos principais grupos de sustentação do governo. Quando questionados se Olavo de Carvalho e seus seguidores agem corretamente quando atacam militares, 66% discordam da afirmativa e 34% concordam. Indagados se uma crise com os militares pode trazer instabilidade ao governo, 54% dos participantes concordam com a afirmação e 46% discordam. Aplicada nos últimos dias 7 e 8 com 1.300 pessoas, pelo método de Unidade de Resposta Audível, a pesquisa tem margem de erro de 2,5 pontos percentuais, para mais ou para menos.

ADEUS À SEGURANÇA?

Jair Bolsonaro quer mesmo acabar com tudo isso que está aí e, mais uma vez, anunciou novidades provavelmente danosas em nome de um suposto aumento no número de empregos. Agora é a segurança no trabalho que vai ser revista. E dizemos ‘provavelmente’ apenas porque ainda não há indicações claras sobre o que vai de fato ser feito.

O presidente deu a notícia ontem pelo Twitter. Colou uma imagem com um texto (sem dizer de onde veio) segundo o qual há mais de 5 mil documentos usados “de forma arbitrária” para a fiscalização, que um empresário é submetido a 6,8 mil regras distintas e que a ideia é reduzir isso em 90%

O secretário especial da Previdência e Trabalho do Ministério da Economia, Rogério Marinho, falou sobre isso em um vídeo em redes sociais. A justificativa, ao que parece, são os encargos financeiros para os empregadores se adequarem às normas, considerados muito altos.

De acordo com Marinho, 9 das 37 normas de segurança e saúde no trabalho vão ser modificadas, o que será um “marco nessa nova era de modernidade e simplificação”. Ele disse ainda que isso será feito “com muito cuidado para evitar, inclusive, que isso impacte de forma negativa a saúde e segurança dos trabalhadores”.

A primeira a ser alterada, até junho, vai ser a NR 12, que trata de segurança do trabalho em máquinas e equipamentos. As outras são a 1 (segurança e medicina do trabalho); 2 (inspeção prévia); 3 (embargo e interdição constatados a partir da constatação de situação de trabalho que caracterize risco ao trabalhador); 9 (prevenção de riscos ambientais); 15 (atividades e operações insalubres); 17 (ergonomia no ambiente de trabalho); 24 (condições sanitárias e conforto no local de trabalho) e 28 (fiscalização e penalidade).

HISTORINHA MAL CONTADA

O presidente Jair Bolsonaro voltou de sua primeira versão e disse que não houve nenhum acordo com o ministro da Justiça, Sergio Moro, para que ele assumisse uma vaga no STF (Supremo Tribunal Federal) após cumprir um período como titular no governo. "Quem me acompanhou ao longo de quatro anos, sabe que eu falava que precisamos de alguém no Supremo com o perfil de Moro. Não teve nenhum acordo, nada, ninguém nunca me viu com Moro [antes da eleição]", afirmou o presidente durante transmissão ao vivo em suas redes sociais. No último domingo (12), porém, Bolsonaro afirmou que assumiu o compromisso de indicar Moro para uma vaga no Supremo. "Eu fiz um compromisso com ele, porque ele abriu mão de 22 anos de magistratura. Eu falei: 'a primeira vaga que tiver lá [no STF], está à sua disposição'", disse o presidente em entrevista à rádio Bandeirantes.

Em seguida, Moro foi a público dizer que não existia nenhum acordo prévio entre ele e Bolsonaro para uma cadeira na corte. "Não vou receber um convite para ser ministro estabelecendo condição sobre circunstâncias do futuro que não se pode controlar."

Na entrevista à rádio Bandeirantes, Bolsonaro foi questionado sobre uma fala recente do ex-juiz da Lava Jato, que no final de abril disse ao jornal português Expresso que ir para o STF seria “como ganhar na loteria”. “Eu vou honrar esse compromisso. Caso ele [Moro] queira ir pra lá [STF], será um grande aliado. Não do governo, mas dos interesses do nosso Brasil dentro do STF”, disse o mandatário.

Moro foi anunciado ministro da Justiça em 1º de novembro do ano passado, poucos dias depois da vitória do atual presidente no segundo turno das eleições presidenciais.

O jogo de versões despertou o mundo político e, na avaliação de parlamentares, expôs o ex-juiz a um desgaste antecipado no Congresso —a indicação do presidente para o STF precisa ser aprovada pelo Senado.

Aposta dobrada

A pretensão de indicar o ministro Sergio Moro (Justiça) para a primeira vaga que for aberta no Supremo, anunciada – e depois negada – por Jair Bolsonaro pode ser frustrada pelo Congresso. Integrantes do STF foram avisados de que uma nova revisão da chamada PEC da Bengala está sendo discutida por deputados e senadores. A ideia é incluir no texto da reforma da Previdência uma emenda que eleva a idade de aposentadoria obrigatória de ministros da corte de 75 para 80 anos.

É ruim…

O ministro Marco Aurélio Mello, do STF, não gostou da maneira como o presidente Jair Bolsonaro anunciou a indicação do ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, para “a primeira vaga que surgir” na Corte. “É ruim para o candidato (Moro, para a Presidência da República, e para a instituição Supremo, porque parece que os cargos que lá existem são destinados a um troca-troca”, disse, de acordo com o Painel da Folha.

Dino: ‘Bolsonaro enfraquece ainda mais Moro’

O governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB) considerou que a exposição precoce da vontade de Jair Bolsonaro indicar Sérgio Moro ao STF “enfraquece ainda mais o ministro”. “Anunciar um candidato a ministro do Supremo com 18 meses de antecedência serve para 3 coisas: evitar um barulhento pedido de exoneração, em face de derrotas; mobilizar outros postulantes e adversários do candidato; enfraquecer ainda mais o ministro da Justiça”, escreveu o governador.

Gil: ‘No Moro, mora um mistério’

O cantor e compositor Gilberto Gil falou sobre vários temas em entrevista ao blog Inconsciente Coletivo, do Estadão. Sobre as inspirações vindas da política, afirmou que o presidente Jair Bolsonaro o inspira a orar. “Tudo que me coloca diante da incompreensão me inspira a oração. Quando eu não sei o que as coisas são eu oro, medito, peço para que elas se revelem com clareza e adequação”, disse. Sobre o ministro Sérgio Moro, a “contemplar o mistério”: “Desde sempre me inspirou a contemplação do mistério. Mais do que alguém diferente de mim, ele me inspirava como alguém que é portador do enigma. Um certo ar permanente de interrogação, um não deixar bem claro aonde quer chegar, o que quer dizer, o que quer provar. No Moro, mora um mistério!”.

Sobre o que passa por sua cabeça: “Passa uma hora que chora, passa um dia de alegria; passa um fragmento imenso de um momento congelado que não passa de um fiapo de tempo preso ao passado, que não passa de um fio de cabelo embaraçado no agora, já enrolado no logo mais sem cabeça”, respondeu.

Dilemas e Sapos

Em artigo no Estadão nesta sexta-feira, 17, o colunista Fernando Gabeira escreve sobre os dilemas do ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, ou sobre os sapos que o ex-juiz tem de engolir no governo. E, tudo isso antecipa uma provável derrota do pacote anticrime no Congresso, mesmo que Moro se empenhe pelo contrário. “Moro decidiu entrar no governo para completar seu trabalho, uma vez que a Lava Jato dependia de novas leis. Agora, corre o risco de retrocesso e tudo o que lhe prometem é uma compensação, um cargo de ministro, uma capa preta, lagosta com manteiga queimada, vinhos quatro vezes premiados e espaço na TV para falas intermináveis”, comenta Gabeira.

“É ÓBVIO QUE EU QUERO”

falando em Moro… Sua ideia diminuir impostos dos cigarros segue em discussão. Edson Vismona, presidente do Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial e atuante no combate a contrabando desses produtos, conversou com o El País. Ao contrário de pesquisadores da saúde, gosta da ideia de Moro: “Queremos que aumente o consumo do cigarro legal. Aí você pergunta: você quer tomar o mercado do contrabandista? É óbvio que eu quero. É uma necessidade absoluta. Não podemos deixar que as marcas líderes brasileiras sejam as contrabandeadas”, disse o advogado, afirmando que o consumo total não vai crescer. 

Já Drauzio Varella se posiciona, mais uma vez, contra a ideia, em artigo na Folha: “A redução de tributos pretendida é uma estratégia vil, destinada a aumentar o número de fumantes pobres, justamente os que serão atendidos pelo SUS. Um mínimo de vergonha na cara evitaria a desculpa dos malefícios dos cigarros paraguaios. Quer dizer que os fumantes de cigarros brasileiros só terão ataques cardíacos, derrames cerebrais e cânceres de alta qualidade?”

VAI DESGASTAR?

Líderes do Centrão estão preocupados com a possibilidade de o futuro do Coaf ser decidido no plenário da Câmara. O medo é pelo desgaste que pode ser causado se a Casa vier a derrotar o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, em uma longa sessão, transmitida ao vivo em redes sociais dos deputados tuiteiros. O PSL sabe que, matematicamente, não tem chances de ajudar o ministro. Mas usa a tática de insistir no discurso eleitoral e deixar a digital do Centrão na provável derrota de Moro, segundo a Coluna do Estadão.

Para juízes, votação de destino do Coaf foi ‘inconstitucional’

A União Nacional dos Juízes Federais do Brasil (Unajuf), que representa magistrados de 1.º grau, emitiu nota na tarde de segunda-feira, 13, em que afirma que a votação que devolveu, por ora, o Coaf para o Ministério da Economia é institucional. Segundo a entidade, a votação viola o processo legislativo, por “vício de iniciativa de tramitação”.

Para o juiz Eduardo Cubas, presidente da Unajuf, “o Coaf vai ficar no Ministério da Justiça independentemente da aprovação da MP”. Ele justifica: “O que vale é o decreto do presidente. A sociedade está ansiosa por ver a atuação dessa fiscalização”, diz Cubas. A mudança foi aprovada na última quinta, 9, por 14 votos a 11, na comissão de deputados e senadores que analisa a Medida Provisória da reforma ministerial, informou o Blog do Fausto.

LADEIRA ABAIXO

Deveria ser uma cerimônia de premiação do presidente brasileiro nos EUA como Personalidade do Ano – e acabou sendo uma suja batalha política. A Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos queria homenagear nesta semana o presidente Jair Bolsonaro no Museu Americano de História Natural, em Nova York, junto com o secretário de Estado americano, Mike Pompeo. O evento de gala anual, generosamente patrocinado por empresas brasileiras e americanas, é uma festa de rotina em que investidores e empresários comparecem buscando o acesso exclusivo aos premiados.

Mas desta vez tudo deu errado. Primeiro os patrocinadores do museu pressionaram e exigiram o cancelamento do jantar – devido ao conteúdo populista de direita e misantropo das opiniões de Bolsonaro. Quando a cerimônia de premiação foi transferida para um hotel, os primeiros patrocinadores retiraram o apoio. Aí o prefeito de Nova York, Bill de Blasio, entrou na discussão: o presidente brasileiro não era bem-vindo "por causa de seus pontos de vista homofóbicos e racistas".

Por causa da resistência, os diplomatas de Bolsonaro transferiram o evento para Dallas, no Texas, onde a visita de 24 horas do presidente brasileiro quase não chamou a atenção. De Blasio ironizou, afirmando que Bolsonaro é covarde demais para aparecer em Nova York.

Jogo sujo?

A atitude do prefeito de Nova York pode ser explicada principalmente pelo ângulo da política interna. Como membro do Partido Democrata, ele quer polir sua reputação como um verdadeiro ativista dos direitos humanos. O fato de não hesitar em insultar o presidente democraticamente eleito do Brasil mostra, acima de tudo, como o Brasil perdeu força no exterior. Pois não se sabe de protestos de De Blasio contra a presença em Nova York de ditadores economicamente influentes do Extremo Oriente e do Oriente Médio. Mas também nenhum defensor conservador de Bolsonaro nos EUA veio a público para se solidarizar com ele. Como um cão escorraçado, o presidente brasileiro teve que pegar seu prêmio na província americana. Nenhum representante político e de negócios de alto nível dos EUA conseguiu ser persuadido a comparecer à reunião no Texas.

Paria

O presidente Jair Bolsonaro é um pária entre os círculos liberais justamente quando precisa de investimentos estrangeiros, disse reportagem do jornal britânico Financital Times. O presidente, segundo a publicação, não teve a mesma receptividade em Nova York, como ocorreu quando visitou o presidente dos EUA, Donald Trump, em Washington em março. Leia reportagem abaixo.

‘Bush não convidou Bolsonaro’, diz assessor

O assessor de imprensa do ex-presidente George W. Bush, Freddy Ford, afirmou à jornalista Lúcia Guimarães, da revista Veja, que não foi informado previamente sobre a visita do presidente Jair Bolsonaro a Dallas e tampouco convidou o brasileiro para um encontro na cidade texana, conforme afirmara Bolsonaro na semana passada. “Ao contrário de algumas reportagens, o presidente Bush não esteve envolvido nos arranjos da viagem e não estendeu o convite para (Bolsonaro) vir a Dallas”, afirmou o assessor, em resposta ao questionamento da publicação.

“Mas claro que ele (Bush) concordou em se encontrar com o presidente Bolsonaro em seu escritório quando soube de sua visita à cidade – uma cortesia que ele regularmente estende aos dignatários estrangeiros quando estão nesta região”, acrescentou. Visitas entre chefes e ex-chefes de Estado, especialmente por questões de segurança, obedecem a protocolos extensos no tocante a datas, horários, local e temas a serem abordados no encontro. Bolsonaro passou pela cidade para receber uma homenagem da Câmara de Comércio Brasil-EUA após o presidente cancelar ida a Nova York em função de protestos contra sua presença na cidade.

Haddad: ‘Presidente está na pátria que ele escolheu servir’

Presente nos protestos da Avenida Paulista na quarta, 15, o ex-presidenciável derrotado Fernando Haddad (PT) provocou o presidente Jair Bolsonaro, que se encontra em Dallas, nos EUA, para receber uma homenagem da Câmara de Comércio Brasil-EUA. “Temos hoje mais de um milhão de pessoas nas ruas pela educação no país e o presidente Bolsonaro está no Texas, a pátria que ele escolheu servir”, disse o ex-prefeito de São Paulo à Folha.

NINGUÉM SOLTA A MÃO

O empresário e youtuber Felipe Neto, fenômeno do universo digital, revela que sofre frequentes ameaças de morte e vive com segurança “pesadíssima” porque tem criticado milicianos e “gente ligada a pensamentos de extrema violência”. As declarações foram feitas para a revista Veja, que publicou nesta sexta (10) entrevista com o Felipe Neto, hoje com 31 anos, 32 milhões de seguidores no Youtube, 10 milhões no Instagram e quase 9 milhões no Twitter. Felipe Neto surgiu nas redes sociais há quase dez anos, criticando ícones da cultura adolescente do momento, como Justin Bieber e os filmes da saga “Crepúsculo”, e também ganhou destaque criticando o Partido dos Trabalhadores (PT). Veja abaixo trechos da entrevista da revista Veja.

AVE MARIA

Um vídeo gravado por um rapaz que mostra a avó arrependida de ter votado em Jair Bolsonaro (PSL) viralizou nas redes. As imagens mostram a senhora criticando Bolsonaro e arrancando o adesivo colado na parede de sua casa. “Ave, Maria. Vou arrancar esse satanás da minha parede que isso é um cão”, diz a senhora, revoltada com o corte de recursos nas universidades. “Acabou com a faculdade dos pobres. Isso é um sapiroco. Me arrependi de votar nesse corno”, diz.

LULA NA BBC

Confira a entrevista do ex-presidente na íntegra.

HANG FANFARRÃO

Linha de frente na defesa das políticas de Jair Bolsonaro, o empresário Luciano Hang, dono da rede de lojas Havan, tomou uma invertida no Twitter ao compartilhar reportagem sobre desvios de bolsas na Universidade Federal do Paraná (UFPR) com críticas à “doutrinação comunista com dinheiro do povo”, segundo ele o “maior problema de nosso país”.

A reportagem, de 2017, cita a jornalista Débora Sögur Hous, que descobriu enquanto era estudante de jornalismo da UFPR um esquema de desvio de dinheiro em ofertas de bolas de estudos na universidade. A jornalista comentou a publicação de Hang em três tuítes sequenciais, em que chama o empresário de “desonesto” por “promover a desinformação com o tuíte”.

“O senhor é desonesto e promove a desinformação com o tuíte. Os desvios foram feitos por funcionárias q podiam ser qualquer coisa, menos comunistas. Em fevereiro, 13 pessoas foram condenadas pelos desvios. ALGUMAS DELAS NUNCA PISARAM EM UMA UNIVERSIDADE”, tuitou Débora.

No primeiro comentário, ela diz que é a “moça que está no foto da reportagem” e ressalta que, depois da matéria, foi contratada pela Folha de S.Paulo “trabalhando duro na editoria de política da Folha de S.Paulo, principalmente durante as eleições, em que a @Folha fez um belíssimo trabalho”.

Durante as eleições, a Folha revelou um esquema de financiamento de fake news pró Bolsonaro financiando por empresários, entre eles, Luciano Hang, da Havan.

Leia a sequência de tuítes.

SÓ UM TAPINHA!

No vídeo abaixo, que circula no Facebook, a deputada Joice Hasselmann (PSL-SP) figura como uma valente jornalista que é sequestrada e ameaçada por um brutamontes. O moço está fortemente armado e parece um Rambo. Uma legenda explica que as imagens são baseadas em fatos reais vividos pela hoje líder do governo Bolsonaro no Congresso. Em um dos trechos do drama, o 'Rambo' coloca Hasselmann na parede e a revista, como se fosse um policial que procura arma em bandido. No final da abordagem, dá um 'tapinha' na bunda da deputada. A peça 'dramática' — claramente — visa mostrar a parlamentar como uma pessoa incorruptível e destemida, diante de um sequestrador e do chefe deste, um poderoso do tráfico de drogas do Rio de Janeiro que ajuda a financiar campanhas eleitorais de políticos. Veja, após o anúncio.

CONDENADO

A maioria dos desembargadores da Câmara Cívil do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ) decidiu manter a condenação do presidente Jair Bolsonaro (PSL) por ter feito declarações homofóbicas e racistas no extinto programa CQC, da TV Bandeirantes, em março de 2011. Com a sentença, ele terá que pagar R$ 150 mil por danos morais coletivos. A indenização será destinada ao Fundo de Defesa dos Direitos Difusos, do Ministério da Justiça.

DOIDAÇA

“Chega de mulher vitimizada, chega de mulher carente de tutela estatal”, foi assim que a deputada Janaina Paschoal (PSL-SP) justificou pelo Twitter sua iniciativa de protocolar um projeto de lei na Alesp para ensinar alguma modalidade de luta às alunas nas aulas de Educação Física como forma de reduzir os índices de violência contra as mulheres. A parlamentar afirmou estar “convencida de que as mulheres precisam aprender a se defender”, uma vez que grande parte dos crimes contra as vítimas de violência ocorre “em situações de intimidade”.

GILHOTINA NELE

Descendente da família imperial brasileira, o deputado Luiz Philippe de Orleans e Bragança (PSL-SP) provocou revolta em colegas e integrantes do movimento negro durante discurso em sessão solene na Câmara, na terça-feira (14), pelos 131 anos da Lei Áurea. O deputado disse que a escravidão, abolida pela lei, é “tão antiga quanto a humanidade” e, por isso, "é quase um aspecto da natureza humana".

O discurso dele foi interrompido por gritos de “luta, resistência e sobrevivência” e de “parem de nos matar” por lideranças do movimento negro e deputados aliados da causa. A sessão só foi retomada dez minutos depois. Chamado de “Príncipe”, por ser trineto da Princesa Isabel, que assinou a Lei Áurea, ele citou que a escravidão se repetiu em vários momentos da história, incluindo os povos indígenas e tribos africanas. “Independente de raça, sim, mas entre si. Faz parte do aspecto do ser humano”, afirmou.

Flávio suspeito de lavar dinheiro ao comprar 19 imóveis

O Ministério Público do Rio de Janeiro suspeita que o investimento de R$ 9,425 milhões do senador Flávio Bolsonaro (PSL-SP) na compra de 19 imóveis no período de 2010 a 2017 tenha sido feito para lavar dinheiro, segundo documentos obtidos e revelados pela revista Veja nesta noite de quarta, 15. Nas transações, o parlamentar, que no período era deputado estadual, teria obtido lucro de R$ 3,089 milhões, de acordo com a publicação. As suspeitas embasam o pedido recente de quebra dos sigilos bancário e fiscal do filho do presidente Jair Bolsonaro.

Os investimentos imobiliários suspeitos de Flávio haviam sido apresentados pela Folha em janeiro, quando documentos obtidos pela publicação mostraram a aquisição pelo então deputado de dois apartamentos, entre 2014 e 2017, no valor declarado de R$ 4,2 milhões. Esse período corresponde ao mesmo verificado pelo Coaf em que o ex-assessor de Flávio, Fabrício Queiroz, movimentou “atipicamente” R$ 7 milhões. Dessa vez, segundo a Veja, os promotores suspeitam que houve prática dos crimes de peculato, lavagem de dinheiro e organização criminosa. Pelo Twitter, Flávio negou nesta noite as suspeitas do MP. “Continuo sendo vítima de seguidos e constantes vazamentos de informações contidas em processo que está em segredo de justiça”, escreveu.

Perdidinho

A quebra dos sigilos bancário e fiscal do senador Flávio Bolsonaro deixou Onyx Lorenzoni desnorteado. O ministro tem dificuldades para se situar. Oscila entre o otimismo exacerbado e o mundo da lua. Ambas as posições parecem inadequadas para um chefe da Casa Civil.

Quando está com a cabeça enfiada no otimismo, à moda do avestruz, Onyx acredita que o caso que envolve o Zero Um "de jeito nenhum" afetará a imagem do governo de Jair Bolsonaro. Sustenta que a encrenca será "resolvida dentro do processo". E declara que "nós temos total confiança no Flávio."

Quando vai para o mundo da lua, o ministro sustenta que "o governo está conduzindo o seu trabalho", avalia que ainda há chance de manter o Coaf nas mãos de Sergio Moro e assegura que que a medida provisória que reestruturou os ministérios não corre perigo no Congresso —"risco zero", declarou.

No mundo real, a oxidação da biografia de Flávio Bolsonaro enferruja a fachada ética do Planalto. O governo não conduz, é conduzido pelas circunstâncias. O Coaf continua distante do organograma da pasta da Justiça. E a medida provisória que reestruturou os ministérios migrou da pauta de votações da semana para cima do telhado.

Há algo de melancólico nesta perambulação de Onyx entre o otimismo e o mundo da lua. O chefe da Casa Civil comporta-se como um sujeito que salta do décimo andar e, ao passar pelo sétimo, celebra: "Até aqui, tudo bem."

Por Josias de Souza

Moro e Flavio

A proximidade é complacente. A distância é implacável. É o que revela o ministro Sergio Moro (Justiça) ao adotar pesos e medidas diferentes para analisar os dramas penais que assediam as biografias do senador Flávio Bolsonado e do ex-presidente Michel Temer. Quando fala sobre o filho 'Zero Um' de Jair Bolsonaro, Moro é brando. Quando se refere a Temer, soa draconiano.

Em entrevista à GloboNews, o ex-juiz da Lava Jato foi instado a comentar a penúltima notícia que despencou sobre o primogênito do presidente. Documento do Ministério Público do Rio de Janeiro anota que o senador aplicou R$ 9,4 milhões na aquisição de 19 imóveis. Farejaram-se nas transações indícios de lavagem de dinheiro.

Moro deu um voto de confiança ao investigado: "Acredito que o senador vai ter plenas condições de esclarecer esses fatos com o tempo, desde que seja dado a ele algum tempo." Considerou "inapropriado emitir qualquer juízo a esse respeito." Escorregadio, alegou que "o ministro da Justiça não é um supertira, não cuida de todas as investigações do país."

Perguntou-se também a Moro que diferenças enxerga entre os casos de Lula e de Michel Temer. Menos evasivo, o ex-juiz realçou que Lula está preso porque foi condenado na primeira e na segunda instância. Quanto à reiterada prisão preventiva a de Temer, revogada pelo STJ, considera que é "uma decisão mais atacável, porque não é um juízo conclusivo, ainda, sobre provas."

A despeito de reconhecer que Temer ainda não foi abalroado por nenhuma sentença, Moro foi implacável com o réu: "O que eu vi, à distância, nas argumentações das decisões das prisões preventivas, somente no aspecto das provas, me pareceu bastante robusto. Infelizmente, muito infelizmente."

No caso de Flávio Bolsonaro, Moro disse coisas definitivas sem definir muito bem as coisas: "Essa questão do senador está com o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro, não está no ministério." Realçou que, sempre que lhe perguntam "o que vai fazer em relação a isso?", responde: "Meu amigo, não está comigo, está em outro lugar." Absteve-se de recordar que o Coaf, ainda sob seus cuidados, é fornecedor de matéria-prima usada contra o 'Zero Um'.

Temer frequenta o banco dos réus em seis ações penais. Nenhuma delas está com Moro. Todos os processos estão "em outro lugar". O caso que rendeu duas passagens do ex-presidente pela prisão corre na 7ª Vara Federal do Rio de Janeiro, sob a supervisão da Procuradoria. Mas a localização geográfica não foi obstáculo para que Moro desejasse a Temer um futuro sombrio.

"O Brasil passa por uma situação dessa! Mas, veja, até o país aqui do nosso lado, o Peru, também teve presidentes presos que receberam vantagem indevida. E estão fazendo sua lição de casa. […] Nós temos que fazer com que o crime não compense, porque isso nos leva a um patamar melhor de institucionalidade. Isso vai ser bom para a ecomomia, para a Justiça, para a nossa democracia. As pessoas que cometeram crimes têm que responder pelos seus atos. Simples assim."

É uma pena que a proximidade impeça Sergio Moro de tratar Flávio Bolsonaro com a mesma objetividade. O ministro declarou a certa altura: "Não vou ser advogado de ninguém." Bom, muito bom, excelente. Agora só falta advogar em nome do interesse público, aplicando ao filho do presidente a mesma simplicidade: "Se cometeu crimes, tem que responder pelos seus atos." De um ministro da Justiça não se espera que emita sentença, mas que ofereça boas referências.

Por Josias de Souza

Investigados trabalharam para Bolsonaro

Quando era deputado no Rio de Janeiro, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) empregou oito alvos da quebra dos sigilos bancário e fiscal na investigação que envolve o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), segundo o Estadão. Os nomes, que incluem uma irmã e uma prima de Ana Cristina Valle, ex-mulher de Bolsonaro, aparecem em decisão do juiz Flávio Itabaiana de Oliveira Nicolau, de 24 de abril, que listou 95 pessoas e empresas na investigação. Um levantamento feito pelo Estadão Dados, com base em documentos obtidos por meio da Lei de Acesso à Informação, mostra que a família Bolsonaro manteve, em quase três décadas de vida parlamentar, a prática de alternar a contratação de funcionários entre seus gabinetes na Câmara, em Brasília, na Alerj e na Câmara Municipal do Rio. Ao todo, 30 pessoas já passaram por mais de um gabinete de Jair Bolsonaro ou dos três filhos que têm atuação política: Flávio (que era deputado estadual no Rio), Eduardo (deputado federal pelo PSL por São Paulo) e Carlos (vereador do PSC no Rio).

Esculachados

O presidente Jair Bolsonaro (PSL) se manifestou sobre a quebra de sigilo bancário e fiscal na investigação sobre as movimentações financeiras de seu filho, o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ). O presidente disse que “fizeram aquilo” (a quebra de sigilo) para “me prejudicar”. Segundo ele, “estão fazendo um esculacho em cima” do senador. “Querem me atingir? Venham pra cima de mim. Eu abro o meu sigilo, não vão me pegar”, provocou Bolsonaro, segundo o Broadcast Político. Desde de que o Coaf revelou movimentações suspeitas nas contas de Flávio e de seu ex-assessor, Fabrício Queiroz, Bolsonaro adotou o discurso de que investigam o filho para atingir o pai.

OLHA A BOMBA

O deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) afirmou que o Brasil seria levado “mais a sério” se tivesse bomba nuclear, durante uma palestra a alunos do curso superior de Defesa da Escola Superior de Guerra, realizada na Câmara, informa a Folha. “Se tivéssemos um efetivo maior, um poder bélico maior, talvez fossemos levados mais a sério pelo (presidente da Venezuela, Nicolás) Maduro, ou temido quem sabe pela China ou pela Rússia (…) São bombas nucleares que garantem a paz ali no Paquistão. Como seria a relação do Paquistão com a Índia se só um dos dois tivesse bom nuclear? Será que seria da mesma maneira do que hoje? Claro que não”, diz. Ele assume ser “entusiasta dessa visão. Pouco me importa, vão falar que eu sou agressivo ou que eu quero tocar fogo no mundo. Mas de fato, por que o mundo inteiro respeita os Estados Unidos? É o único país que têm condições de abrir duas frentes militares, duas guerras em qualquer lugar do mundo”, afirmou o parlamentar, que é presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara.

OLAVO X CAETANO

O escritor Olavo de Carvalho, guru de Jair Bolsonaro, registrou uma queixa-crime contra Caetano Veloso após um artigo publicado pelo músico na Folha.  O documento pede que Caetano responda pelos crimes de calúnia, difamação e injúria.

NÃO VALE A TOGA QUE VESTE

O STJ (Superior Tribunal de Justiça) aceitou uma queixa-crime contra a desembargadora Marília Castro Neves, do TJ-RJ (Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro) por injúria contra o ex-deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ). A decisão foi tomada pela Corte Especial do STJ, que avalia casos de pessoas que têm foro privilegiado. O placar da corte especial que determinou a aceitação da queixa-crime foi de 10 a 2.

Marília se torna ré e vai responder criminalmente por ter publicado uma postagem em uma rede social em 2015, na qual se referia ao ex-parlamentar dizendo que, no caso dele, ela seria a favor de um "paredão profilático". Se for condenada, ela poderá ser sentenciada a penas que podem chegar a oito meses de prisão ou pagamento de multa. Em sua defesa, a desembargadora afirmou que a sua publicação foi tirada de contexto e que ela não quis ofender Jean. O STJ determinou que, enquanto responde pelo crime, a desembargadora continuará no seu cargo.

A publicação foi feita pela desembargadora no dia 29 de dezembro de 2015 em sua conta pessoal no Facebook. "Eu, particularmente, sou a favor de um 'paredão profilático' para determinados entes…o Jean Wyllys, por exemplo, embora não valha a bala que o mate e o pano que limpe a lambança, não escaparia do paredão", disse, na postagem.

Desembargadora coleciona polêmicas

Esta não foi a primeira vez que a desembargadora Marília Castro Neves criou polêmica nas redes sociais. Em dezembro de 2015, ela fez uma postagem atacando o líder Zumbi dos Palmares, um dos heróis cujo nome está no Panteão da Pátria e da Liberdade, em Brasília. Segundo ela, Zumbi era um "mito histórico" criado pela esquerda para "estimular o racismo que o Brasil até então não conhecia".

Em 2018, ela divulgou uma notícia falsa sobre a vereadora carioca Marielle Franco que dizia que a parlamentar assassinada a tiros teria ligação com o tráfico de drogas. Após a repercussão negativa do caso, a desembargadora publicou uma carta pedindo desculpas por ter publicado a informação falsa e por ter questionado se professores com síndrome de Down poderiam lecionar.

LIBERA GERAL

Para comprar um agrotóxico, é preciso ter a receita de um agrônomo, que deve visitar sua propriedade e avaliar as melhores práticas. Mas o MP do Paraná descobriu que alguns desses profissionais estão emitindo receitas às cegas, sem visita. E são muitas, muitas receitas: em 2017, um único profissional assinou mais de 15 mil. Uma receita a cada 10 minutos.

Sobre o salto nas aprovações de novos registros: o projeto Por trás do alimento, da Agência Pública e do Repórter Brasil, lançou Robotox. É um robô que publica no Twitter todas as novas liberações concedidas pelo governo federal.

E esses mesmos sites fizeram um levantamento mostrando que o turbilhão de aprovações de agrotóxicos nos últimos meses vai beneficiar empresas estrangeiras. Dos 166 registros, 64 foram para empresas brasileiras e só 9 são totalmente produzidos aqui.

Por falar nisso… 

Após reavaliação, a Anvisa decidiu manter o registro do agrotóxico 2,4 D, o segundo mais vendido no país. Mas traz novas medidas de segurança. Segundo a agência, o veneno não traz risco para consumidores, mas trabalhadores e moradores de áreas próximas às aplicações têm maiores riscos de intoxicações. 

KAFKA

Um dia depois dos protestos em defesa dos recursos para a educação, a livraria Leonardo da Vinci, do Rio de Janeiro, viralizou na internet com a foto de uma carta e um livro cortado, endereçados ao ministro Abraham Weintraub.

A imagem exibe uma edição cortada do clássico “A Metamorfose”, de Franz Kafka, a quem o ministro já se referiu como “Kafta”, em uma confusão com o nome do tradicional prato da culinária árabe.

O livro aparece sem uma parte, em uma alusão aos cortes de verba nas universidades federais anunciados pelo governo. “Pedimos desculpas pelo corte de 25% no livro, mas a situação das livrarias brasileiras está difícil”, diz, ironicamente, a postagem.

Apoiando as manifestações contra os cortes na educação, a tradicional livraria independente do Rio já havia feito outras postagens semelhantes.

Durante a polêmica da exposição “Queermuseu”, a Leonardo da Vinci convocou os clientes para uma “queima de livros” que tivessem referências à nudez ou à palavra “sexo”.

Segundo Daniel Louzada, dono da pequena livraria —que funciona há 62 anos no mesmo endereço—, desta vez o alcance da postagem foi ainda maior. “Fiz a publicação ao meio-dia de hoje e de fato nos surpreendeu”, diz. “Temos uma base forte de clientes fiéis, mas dessa vez extrapolou.”

Louzada, que serrou ele mesmo a edição ilustrada de “A Metamorfose”, diz aguardar uma resposta do ministro Weintraub. "Esperamos que chegue para ele."

ENFIM, UMA BOA NOTÍCIA

O polemista Olavo de Carvalho, guru da família Bolsonaro, disse na quinta-feira (16) que não fará mais comentários sobre a política brasileira por enquanto. "O que eu estou fazendo, estou decidindo hoje, é me ausentar temporariamente do debate político nacional, do dia a dia, das miudezas da política, porque se tornou uma coisa absolutamente insustentável", afirmou Olavo durante entrevista em vídeo para o site Crítica Nacional, de perfil simpático ao presidente Jair Bolsonaro.

FAKES

Segundo o Fake Followers Audit, mais da metade dos seguidores do presidente Jair Bolsonaro (PSL) no Twitter são fakes. Isso significa que se trata de perfis falsos, inativos ou robôs – programas desenvolvidos para simular um usuário comum.

“Para o uso político, eles têm chamado cada vez mais atenção. Muitas vezes, curtem e comentam em fotos, em outras, levantam até um assunto nas redes sociais, reagindo da maneira que seus programadores desejam”, disse Thiago Rondon, co-diretor do Instituto de Tecnologia e Equidade, ao UOL Tecnologia.

Segundo a reportagem do UOL, de 2.000 seguidores analisados, 59% não falam português, 61% são perfis criados nos últimos 90 dias e 18% apresentam apenas o ‘ovinho” padrão do Twitter.

DILMA BOLADA

Dilma Rousseff anunciou que vai processar cível e criminalmente Jair Bolsonaro. O motivo é a declaração do presidente, em Dallas, quando recebeu o prêmio personalidade do ano da Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos. Bolsonaro afirmou que "quem até há pouco ocupava o governo teve em sua história suas mãos manchadas de sangue na luta armada". Em nota, a ex-presidente diz que a declaração é "mentirosa e caluniosa", e afirma: "Durante a resistência à ditadura — e muito menos no período democrático —, jamais participei de atos armados ou ações que tivessem ou pudessem levar à morte de quem quer que seja. A própria Justiça Militar — as auditorias, o STM e até o STF — em todos os processos que foram movidos contra mim, comprovaram tal fato." Leia a íntegra no link abaixo postado pela petista.

 

Leia outros artigos da coluna: Ágora Digital

Victor Barone

Jornalista, professor, mestre em Comunicação pela UFMS.


Voltar


Comente sobre essa publicação...

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *