25/04/2024 - Edição 540

Mato Grosso do Sul

Acabamos no centro e não tivemos sintonia com pensamento brasileiro, diz Azambuja

Publicado em 31/10/2018 12:00 -

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Reeleito governador de Mato Grosso do Sul, o tucano Reinaldo Azambuja defendeu que o PSDB discuta internamente, o quanto antes, o futuro do partido, que desidratou nesta eleição.

Além do fracasso de Geraldo Alckmin, que terminou em quarto lugar no primeiro turno da eleição presidencial, com apenas 4,76% dos votos válidos, os tucanos perderam as disputas em MG, CE, MA, PI, GO, MT, RO e RR, fazendo apenas os governadores de SP, RS e MS.

"Acabou polarizando entre uma extrema direita e esquerda. Acabamos no centro e não tivemos uma sintonia com o pensamento brasileiro. Isso serve para a gente fazer uma reflexão sobre qual a pauta do PSDB para o futuro, que política vamos defender", disse Azambuja em entrevista ao jornal Folha de SP.

O governador, que declarou apoio a Jair Bolsonaro (PSL) no segundo turno, quer saber quais as prioridades da futura equipe econômica do presidente eleito e se diz favorável às reformas administrativa e tributária, além de pedir parceria federal para o controle da fronteira.

O tucano defende também as pautas conservadoras como a facilitação do porte de arma. "Esta é uma pauta da direita que tem que ser discutida. O que precisa é o governo atentar à área de segurança. Precisa mudar a questão penal no Brasil. A questão da maioridade, da legislação penal para a tipificação de certos tipos de crime", diz o tucano.

O sr. disse no fim de semana que o PSDB precisava fazer um mea culpa diante de sua atual situação. Gostaria que o sr. começasse. Onde o PSDB errou? 

Eu disse que não deveríamos entrar no governo Michel Temer porque era um governo novo com a cara velha, que não representava os nossos pensamentos. Fui voto vencido. Este foi um dos grandes erros. O partido precisa se reciclar, fazer um mea culpa, sentar, discutir. Qual a prioridade? O PSDB é um partido de reformas, qual vai ser nosso posicionamento nas reformas do Estado brasileiro? Como vamos nos manifestar? São questões importantes. E [é preciso] olhar o futuro, entender a voz das ruas, que deu um recado muito claro do que a população espera de todos nós.

O que mais contribuiu para o desempenho ruim do ex-governador Geraldo Alckmin na disputa presidencial? 

Geraldo é um grande homem público, admiro ele como governador de São Paulo, mas não soubemos comunicar com a voz das ruas, com as prioridades das pessoas. Acabou polarizando entre uma extrema direita, o Bolsonaro, e esquerda, o Lula, PT, Haddad. Acabamos no centro e não tivemos uma sintonia com o pensamento brasileiro. Isso serve para a gente fazer uma reflexão sobre qual a pauta do PSDB para o futuro, que política vamos defender.

É preciso mudar o comando do partido para fazer esta discussão? 

Temos uma regra estabelecida da eleição dos dirigentes partidários. O Geraldo deve convocar uma reunião da executiva para discutir o futuro, quais encaminhamentos que serão dados no partido. Ele tem essa prerrogativa como presidente do partido. Vamos aguardar o chamamento. Mas temos pressa em saber qual a posição.

Ainda há espaço para a convivência entre Alckmin, como presidente do partido, tendo sido derrotado na disputa pelo Planalto, e João Doria, eleito governador de São Paulo, sabendo que eles não se dão bem? 

Se depender de mim, temos que buscar o diálogo. Temos que ter as discussões internas, mas nunca cessar o diálogo. São dois grandes homens públicos. Muitas vezes o estresse eleitoral cria essas cisões, mas tem espaço para a gente sentar na mesa e buscar o avanço desta pauta do PSDB.

Com o que o sr. concorda com Bolsonaro em relação às terras indígenas e que compromissos que o sr. assumiu com essa população? 

Conseguimos distensionar muito aqui as questões dos conflitos, tanto que, no nosso mandato, tivemos só dois conflitos nestes três anos e dez meses. Invasões são todas remanescentes de governos anteriores. Nós criamos uma subsecretaria de políticas indígenas, os indígenas fazem parte desta secretaria com todas as etnias e a gente está fazendo política pública. Tem o programa de apoio às comunidades indígenas, que leva assistência técnica, equipamentos, melhorias para as comunidades, investimos no artesanato, no turismo, [tem o vale-universidade indígena, programa que criamos para dar acesso à universidade privada. Essa questão da demarcação é muito mais jurídica, de interpretação das leis. A Constituição Brasileira é muito clara.

Outro assunto que dialoga com MS por causa da quantidade de produtores rurais é a unificação dos ministérios do Meio Ambiente e da Agricultura. Qual sua posição? 

Quando comecei o governo, uma das partes da reforma administrativa, foi unificar Meio Ambiente e Desenvolvimento. Melhorou muito, principalmente os avanços nos licenciamentos ambientais, preservando a legislação vigente. Aqui, o resultado foi positivo porque conseguimos conciliar preservação ambiental com desenvolvimento do estado. Sou favorável a isso. Já temos a regra, que é o código florestal. Agora, é seguir esta regra, mas com agilidade.

Na FPA (Frente Parlamentar do Agronegócio) não existe um consenso. O Ministério do Meio Ambiente tem outras atribuições ligadas a infraestrutura, esgoto, lixo, e alguns representantes do agronegócio não querem ficar com este elefante branco. 

[Em MS] Essa parte está na Secretaria de Infraestrutura, mas o licenciamento ambiental está dentro da pasta de Desenvolvimento.

O sr. já se diz favorável a que propostas do governo Bolsonaro? 

Reforma administrativa, em primeiro lugar. Diminuir o tamanho do estado brasileiro. Reforma tributária, vamos sentar à mesa. Qual a proposta? Tem que mexer numa reforma mais completa, desburocratizar as questões tributárias, facilitar a vida do empreendedor e que não tire recursos dos estados. Discutir a Lei Kandir também é uma prioridade, principalmente para nós, estados exportadores. Segurança pública: quais as prioridades? Que tipo de parcerias quer fazer com os estados? As fronteiras do Brasil estão escancaradas há muito tempo. Precisamos de uma atenção nas fronteiras.

E da pauta mais à direita, como facilitação da posse de arma? Qual a sua posição? 

Hoje não é impedido de você ter armas registradas em casa. O estatuto do desarmamento permite que você tenha armas dentro de casa. Ele pode mudar a questão do porte, de você poder andar armado. Esta é uma pauta da direita que tem que ser discutida. O que precisa é o governo atentar à área de segurança. Isso que a população quer. Precisa mudar a questão penal no Brasil. A questão da maioridade, da legislação penal para a tipificação de certos tipos de crime. A polícia prende e o Judiciário solta. [É preciso] endurecer a legislação para a gente poder endurecer contra o crime organizado.

Em relação ao estatuto do desarmamento, o sr. é favorável a uma flexibilização? 

Sou favorável. Flexibilizar para o produtor poder ter um porte de arma com mais facilidade, eu sou a favor. Isso também é importante. Acabou o Brasil desarmando o cidadão de bem e o bandido continua armado, cometendo criminalidade. Precisamos ter uma legislação penal mais dura na questão de tipificação dos crimes e a manutenção do delinquente preso. E, na questão do desarmamento, acho que poder portar uma arma, uma pessoa que tenha bons antecedentes, não é problema no nosso país.

Em alguns estados, ao menos no PR e em PE, já vemos movimento da sociedade civil para que alunos registrem aulas dos professores para se verificar doutrinação de esquerda. Como o sr. vê esta questão? 

A função do ensinamento é levar o bom aprendizado sem tendência nem para a extrema direita nem para a extrema esquerda. Isso não é função da escola nem dos professores. Tem que ter uma escola pública que trate de temas de aprendizado e não politizar a escola. Não precisamos politizar a sala de aula. Não precisa chegar a este extremismo [de filmar professores] porque você ficaria fazendo uma vigilância dentro da sala de aula. A gente tem que confiar nos nossos professores. O Brasil ficou muito politizado nos últimos anos, principalmente no setor educacional. Agora é ter um novo olhar para a educação pública brasileira.

No seu discurso da vitória, o sr. disse que é hora de unificar a eleição. Na teoria, isso é interessante. Na prática, é possível? 

Esta é uma missão de todos nós, da classe política, da imprensa, da sociedade. Extremismo não leva a nada. A pacificação depende de todos. Dialogar com a sociedade organizada, ver pontos de convergência e divergência e fazer avançar uma pauta Brasil, independente de lado A ou lado B.

Para um estado exportador como MS, quais devem ser as prioridades de negociação internacional? Paulo Guedes [futuro ministro da área econômica] disse que o Mercosul não é uma prioridade. O sr. concorda? 

O Brasil tem que ter negociações com todas as regiões, inclusive com o Mercosul. Nós, aqui, abrimos frente de exportação muito forte com a Argentina. Tanto Argentina como Bolívia, países sul-americanos. O agronegócio tem dado respostas rápidas na economia. É preciso olhar os blocos e não restringir países. Oportunidades vão surgir.

O que o sr. pretende priorizar neste seu segundo mandato? 

Temos um trabalho de regionalização da saúde. Outra questão importante é a nossa vigilância quanto à questão da segurança pública. MS evoluiu, melhorou os indicadores, mas temos a questão da fronteira, que está desguarnecida. Precisamos muito desta parceria com o governo federal nesta polícia de fronteira, nos investimentos para a gente fortalecer uma blindagem na área de fronteira com o Paraguai e com a Bolívia, que a maior quantidade de drogas e armas que adentram o Brasil passa por MS. Fazendo isso, a gente tem um resultado melhor na segurança.

Como se chegou a um segundo turno entre o sr., que está na política há 21 anos, e um estreante que perdeu, mas teve uma boa votação? 

Tivemos um governo que fez transformações num momento difícil de governar no pais. Tomamos atitudes: encolhemos o tamanho do estado, fizemos reforma previdenciária, reforma fiscal, implantamos teto de gastos e fizemos políticas públicas. Mesmo neste ambiente da política de renovação, de mudança, de uma campanha muito forte contra a questão da corrupção aqui e no Brasil todo, a gente teve um apoio. O que sustentou foi o resultado do trabalho realizado.

Perfil

Reinaldo Azambuja da Silva (PSDB), 55, é governador de Mato Grosso do Sul e foi reeleito para o cargo no domingo (28) com 52,35%, derrotando o Juiz Odilon (PDT), que obteve 47,65%. Já foi prefeito de Maracaju (1997 a 2000 e 2001 a 2004), deputado estadual (2007 a 2010) e deputado federal (2011 a 2014). Em 2012, disputou a prefeitura de Campo Grande, mas perdeu. Dois anos depois, foi eleito governador de Mato Grosso do Sul (2015 até agora).


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