Poder
Publicado em 04/07/2014 12:00 -
Clique aqui e contribua para um jornalismo livre e financiado pelos seus próprios leitores.
A corrente de indignados com a prisão do servidor público Fábio Hideki Harano, na capital paulista, vem crescendo nas ruas e nas redes sociais. No último dia 3, funcionários da Universidade de São Paulo (USP) que são colegas de Hideki divulgaram uma carta aberta à sociedade, em que manifestam "assombro" e "repúdio" pelas acusações que pesam contra o rapaz de 27 anos.
"[As suspeitas de associação criminosa e incitação à violência] nos causaram verdadeira indignação pois não condizem, em absoluto, com o Fábio Hideki Harano, militante, comprometido e não-violento, que conhecemos", diz a carta assinada pelos trabalhadores do Centro de Saúde Escola Butantã Samuel Barnsley Pessoa, unidade da Faculdade de Medicina da USP.
Hideki trabalha na farmácia do centro de saúde, onde a conduta dele é de "inquestionável retidão", de acordo com os colegas. "Fábio é reconhecido por sua gentileza e atenção dispendida a cada pessoa e pela consciência de seu papel de educação em saúde nos seus atendimentos", assinala o documento.
É mais um extenso depoimento que mostra um Fábio Hideki Harano muito diferente do retrato feito pela Secretaria de Segurança Pública de São Paulo.
Segundo o secretário Fernando Grella, Hideki é líder de black blocs e estimula quebra-quebra e violência contra os policiais. Ele foi preso em flagrante no dia 23 de junho por associação criminosa, posse ilegal de explosivo, incitação ao crime, desobediência e resistência a prisão.
Denúncia de provas forjadas
Vídeos compartilhados na web mostram que, durante a revista de Fábio Hideki, não foram encontrados explosivos. Ele grita para ser filmado e pede para exercer sua liberdade de expressão, mas em nenhum momento insta outros manifestantes a atacar os policiais civis que o abordaram.
Testemunhas acreditam que provas foram forjadas para efetuar a prisão em flagrante. O padre Julio Lancellotti, da Arquidiocese de São Paulo, chamou de "delirantes" as acusações da Polícia Civil de São Paulo.
A ONG internacional Human Rights Watch já alertou o Brasil sobre a prisão de Hideki e de outro manifestante, Rafael Marques Lusvarghi, no mesmo protesto dia 23 do mês passado.
"A menos que as autoridades de São Paulo possam apresentar evidências críveis de que Harano e Lusvarghi cometeram crimes, deve ser concedida liberdade imediata e incondicional para esses dois homens", afirmou a diretora do Human Rights Watch no Brasil, Maria Laura Canineu.
Pedido de habeas corpus negado
Na última quinta-feira (3), o Superior Tribunal de Justiça (STJ) negou liminar para a liberdade de Rafael Lusvarghi e Fábio Hideki. A desembargadora Marilza Maynard entendeu que a decisão de juiz do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), que havia negado liminar para a soltura dos jovens, está "suficientemente motivada".
Como o mérito do habeas corpus ainda não foi julgado no TJ-SP, a magistrada considera que a análise do pedido pelo STJ não respeitaria o rito do processo por instâncias.
A Defensoria Pública do Estado de São Paulo recorreu ao STJ alegando que o juiz do TJ-SP ignorou depoimentos e provas favoráveis aos manifestantes presos.
Procurada pelo Brasil Post, a assessoria da Defensoria informa que agora vai esperar a análise do mérito do habeas corpus por turma do TJ-SP.
Deixe um comentário