29/03/2024 - Edição 540

Ágora Digital

Nossa herança ariana

Publicado em 08/08/2018 12:00 - Victor Barone

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O polêmico vice de Jair Bolsonaro (PSL), general da reserva Antonio Hamilton Mourão (PRTB), causou espécie ao afirmar nesta semana que o Brasil herdou a "indolência" dos indígenas e a "malandragem" dos africanos. A declaração foi feita durante evento da Câmara de Indústria e Comércio de Caxias do Sul (RS).

"Temos uma herança cultural, uma herança que tem muita gente que gosta do privilégio (…) Essa herança do privilégio é uma herança ibérica. Temos uma certa herança da indolência, que vem da cultura indígena. Eu sou indígena. Meu pai é amazonense. E a malandragem (…) é oriunda do africano", afirmou. "Então, esse é o nosso cadinho cultural. Infelizmente gostamos de mártires, líderes populistas e dos macunaímas."

Questionado, Mourão ressaltou que também falou do privilégio dos brancos. "Não tem nada demais, até porque sou descendente de indígenas. Não é acusação para nenhum grupo, isso não existe. Temos uma raça brasileira, a junção de tudo isso aí", disse.

Torpeço na língua

Para tentar pôr panos quentes na fala desastrada de seu vice (leia a nota acima), Jair Bolsonaro (PSL) agrediu a língua portuguesa.  “O que é a indolência? É a capacidade de perdoar? Veja aí no dicionário. É a capacidade de perdoar? O índio perdoa. Não é isso?” Os dicionários anotam muitas acepções para o vocábulo “indolência”. Nenhuma delas se parece com perdão: ociosidade, preguiça, desleixo, negligência, apatia… Quanto à malandragem, Bolsonaro encontrou um sinônimo dicionarizado: esperteza. “É a mesma coisa? É isso? Ôhhhh… Me chamam de malandro carioca o tempo todo.” No contexto em que foi usada pelo vice, a palavra “malandragem” é sinônimo de vagabundagem.

Ignorância e preconceito

O Conselho Indigenista Missionário (CIMI) emitiu nota afirmando repudiar veementemente as “declarações injuriosas e injustas aos povos indígenas e à população negra do Brasil”. Dia a nota: “Tais declarações explicitam profunda ignorância e alimentam o racismo de parcela da sociedade brasileira contra essas populações historicamente injustiçadas e massacradas em nosso país. As afirmações do General Mourão corroboram a posição manifestada em diversas ocasiões pelo candidato Jair Bolsonaro, já denunciado pela Procuradoria Geral da República (PGR) por racismo”.

Boquirroto

Conhecido por manifestações questionáveis, o vice de Jair Bolsonaro (PSL), general da reserva Antonio Hamilton Mourão (PRTB), já defendeu intervenção militar e chamou de herói um dos torturadores da ditadura. Em fevereiro, quando passou para a reserva após ter criticado o presidente Michel Temer (MDB), Mourão disse que o ex-chefe do DOI-CODI do II Exército, Carlos Alberto Brilhante Ustra, um dos principais órgãos da repressão durante o governo militar, é um herói por ter combatido o terrorismo. Ustra é reconhecido pelo Poder Judiciário, em ação declaratória, como torturador e é acusado pelo Ministério Público Federal de crimes como assassinatos e desaparecimentos. A Comissão da Verdade contou ao menos 45 casos relacionados a ele. Além da homenagem, Mourão já afirmou que uma intervenção militar poderia ser adotada se o Poder Judiciário não solucionasse "o problema político", em referência aos casos de corrupção. Ele disse também, em outra ocasião, que o regime em que vivemos é frágil, "onde a moral e as virtudes foram enxovalhadas". 

Explicando…

O general da reserva do Exército Antonio Hamilton Martins Mourão (PRTB), vice na chapa à Presidência de Jair Bolsonaro (PSL), tentou explicar, durante a convenção de seu partido em São Paulo, o comentário que fez em setembro do ano passado sobre a possibilidade de uma intervenção militar por causa da crise política.

Amém, Messias?

Porta-voz de bandeiras conservadoras, Jair Bolsonaro (PSL) teria alto potencial de atração do voto evangélico, não fossem as posições mais radicais apresentadas pelo candidato à Presidência, avaliam lideranças de igrejas. “Acredito que de 70% a 80% de evangélicos vão votar em Bolsonaro”, diz chefão da igreja Vitória em Cristo, pastor Silas Malafaia. Pesquisa feita pelo Datafolha em junho, porém, mostra que a intenção de votos do deputado entre os evangélicos está em 17%, contra 28% do ex-presidente Lula. O apoio é tecnicamente igual ao dado a ele por católicos ou pessoas sem religião.

Fantasminha Pluft


Queria ir de táxi, chamou o Uber

Convidado para falar em um evento sobre uso de tecnologia por governos, o presidenciável Geraldo Alckmin (PSDB) despertou mais reações por chamar a apresentadora Angélica de Eliana. Sentada na primeira fila, a poucos metros do tucano, a artista estava no encontro acompanhando o marido, Luciano Huck, que entrevistou os convidados. Huck é casado com Angélica desde 2004, mas no fim da década de 1990 namorou a também apresentadora Eliana, hoje no SBT. O ex-governador cometeu a gafe ao cumprimentar a plateia e dizer que queria "saudar a Eliana". Huck o interrompeu na sequência: "Preciso fazer uma correção, não vai ter jeito". E disse algo no ouvido dele.

Depopis tentou fazer graça para reparar o estrago…


Riquinho

Juntos, os nove partidos que fazem parte da coligação de Geraldo Alckmin (PSDB) vão receber metade do fundo público criado para bancar gastos de campanha na falta do financiamento de empresas. Do total de R$ 1,72 bilhão destinado às legendas pelo chamado fundão, R$ 828 milhões ficarão com PSDB, PP, PR, PTB, SD, PPS, PSD, PRB e DEM.

Forçando a barra

O PT ensaia uma coreografia grandiosa para o registro da candidatura de Lula na Justiça Eleitoral, na próxima quarta-feira (15). Nesse dia, haverá manifestações nas principais capitais. Três marchas de movimentos sociais devem chegar a Brasília no início da semana. A multidão gritará ‘Lula livre’. Mas o PT já não cultiva a ilusão de que a cela de Curitiba será aberta antes da eleição. Embora seus dirigentes não admitam publicamente, o que está em curso é a montagem da ‘candidatura’ de Lula ao posto de cabo eleitoral, não mais à Presidência da República. O enquadramento de Lula na Lei da Ficha Limpa é tratado internamente como fava contada.

Plano Baaaa

Setores do PT temem que o lançamento do nome de Fernando Haddad como vice esvazie a candidatura de Lula se abateu sobre parte do PT. Há o entendimento de que tanto ele como Manuela D’Ávila deveriam submergir num primeiro momento, para evitar que a certeza de que Lula não será candidato seja disseminada. Outra ala acha que mais cedo ou mais tarde esse esvaziamento ocorreria. A hora seria, portanto, de correr o país com os dois vices.

Passou mal

A presidente nacional do PT, senadora Gleisi Hoffmann, e a assessoria de Lula, por meio do perfil oficial do ex-presidente, publicaram mensagens no Twitter desmentindo que Pabllo Vittar seria vice na chapa do petista, conforme imagem que circulou nas redes sociais. Nas mensagens, Gleisi e o perfil oficial de Lula mostram a imagem de Lula com Vittar e a tarja "FakeNews" e outra imagem de Lula com Fernando Haddad e a tarja "Verdade" e explicam: "Está circulando essa imagem na rede então vamos explicar: o vice de Lula é @Haddad_Fernando e não @pabllovittar, pessoal."


Tudo na mesma

A Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) negou por unanimidade um recurso do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para que tivesse garantido o direito de recorrer em liberdade contra sua condenação no caso do triplex em Guarujá (SP). O pedido já havia sido negado pelo relator, ministro Felix Fischer, em 11 de junho. Em sessão realizada no início do mês, os ministros Jorge Mussi, Reynaldo Soares da Fonseca, Ribeiro Dantas e Joel Ilan Paciornik o acompanharam.

Jogo bruto

"O jogo foi muito bruto em cima do Ciro", diz a senadora Kátia Abreu (PDT), vice na chapa do presidenciável Ciro Gomes (PDT). Para ela, a ação dos adversários para isolar o pedetista na eleição "não deixa de ser um bom sinal", porém. "Se eles estão preocupados em esvaziar o tempo de TV, é porque ele tem algo a dizer", afirmou.

Vice comportada

A senadora Kátia Abreu (PDT), candidata a vice-presidente na chapa de Ciro Gomes (CE), disse que será uma vice obediente. “Serei uma vice disciplinada, a exemplo de meu querido e saudoso amigo Marco Maciel, que era um vice exemplar e invejado por todos os vices do país. Terei o meu papel, que estarei pronta para desempenhar, mas sob o seu comando, sob a sua direção, porque confio totalmente no comandante deste navio”, declarou.

Mais do mesmo

Ao tomar conhecimento da notícia sobre a suspeita de fraude numa licitação da Secretaria de Educação de São Paulo (leia aqui), o ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot indagou: “Até quando?”. Assim, com apenas duas palavras e um ponto de interrogação, o ex-chefe do Ministério Público Federal resumiu o desalento de uma era.


Mafia de toga

O Supremo Tribunal Federal (STF) aprovou o projeto eleva o salário dos magistrados de R$ 33,7 mil para R$ 39 mil, variação de 16,38%. O Ministério Público Federal endossou e as associações de classe bateram palminhas. Os magistrados do STF ganham 33,7 mil reais por mês. Com reajuste de 16%, o valor irá a 39 mil. No Brasil, pertencem ao 1% mais endinheirado quem embolsa a partir de 27 mil mensais, segundo o IBGE. Para ter validade, o Congresso Nacional precisa aprovar a mudança no Orçamento de 2019, que será votado pela Casa até dezembro.

Um togadinho vale por 40 brazucas

Em 2016, os 18 mil juízes brasileiros receberam em média 47,7 mil por mês, conforme um relatório de 2017 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). É como se cada juiz valesse 40 brasileiros. Naquele ano, a renda per capita no País foi de 1,2 mil, segundo o IBGE.

Privilégios nossos

Juízes ganham bem em todo o globo, pois é uma carreira com particularidades, por exemplo não ter motivos para cair em tentação e se deixar corromper por réus ricos. Mas nada parecido com o que se vê aqui. O Brasil tem o Judiciário mais caro do planeta. Consumiu 1,4% do PIB em 2016, segundo o CNJ. Um professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Luciano da Ros, já pesquisou o tema. Não é que o Brasil tenha juiz demais. A explicação é salário alto. Na Alemanha, há 24 juízes para cada 100 mil habitantes. Aqui, oito.

Cirão mete a boca

O candidato do PDT à sucessão presidencial, Ciro Gomes, criticou a proposta aprovada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) de reajuste salarial para o próximo ano (Leia as notas acima) Segundo ele, o aumento de 16,38% foi feito de maneira inábil, em um momento inapropriado e parece um "achincalhe" diante da realidade da população brasileira. "É uma absoluta falta de sensibilidade, com todo o respeito às excelências da Suprema Corte, quanto mais aos quatros que votaram contra, que em um momento de sacrifício para a população, os maiores salários da administração considerem atribuir-se a si um reajuste nessa ordem", disse.

Boa reflexão


Das antigas

Propostas, acusações, polêmicas e até bom humor. Alguns dos momentos mais marcantes da vida pública brasileira, nas últimas décadas, puderam ser vistos nos debates eleitorais televisionados. E, às vésperas de um novo ciclo de embates entre os candidatos, selecionamos alguns dos momentos que ajudaram a escrever a história política do país. Dos históricos confrontos entre Paulo Maluf e Leonel Brizola, passando pelas trocas de ironias entre Lula e Geraldo Alckmin, até chegar às últimas eleições, quando as atenções se voltaram para a exaltação de ânimos de Aécio Neves e Luciana Genro. Não faltaram momentos memoráveis, nos quais os candidatos puderam apresentar as suas plataformas e se tornar mais próximos do eleitorado.

Debate na Band

A Band realizou na noite de 5ª feira (9) o primeiro debate da eleição de 2018 com candidatos à Presidência da República. Oito candidatos participaram: Alvaro Dias (Podemos), Cabo Daciolo (Patriota), Ciro Gomes (PDT), Geraldo Alckmin (PSDB), Guilherme Boulos (Psol), Henrique Meirelles (MDB), Jair Bolsonaro (PSL) e Marina Silva (Rede).

Em nome de Xessuix!

Antes de participar do debate dos presidenciáveis na Band, o primeiro debate da TV aberta (veja a nota acima), o candidato Jair Bolsonaro (PSL) fez uma oração, pedindo a Deus ajuda para entrar no “covil dos ursos” e vencer a eleição. No vídeo abaixo, gravado em um hotel em São Paulo, ele e seus principais aliados, como o senador Magno Malta (PR-ES) e os deputados federais Onyx Lorenzoni (DEM-RS) e Eduardo Bolsonaro (PSL) e o estadual Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) – os dois últimos, filhos dele – aparecem ajoelhados.

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Victor Barone

Jornalista, professor, mestre em Comunicação pela UFMS.


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