28/03/2024 - Edição 540

Ágora Digital

Todos de mãos dadas rumo ao abismo

Publicado em 01/08/2018 12:00 - Victor Barone

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Sob protestos em suas bases regionais, as cúpulas do PT e PSB decidiram sacrificar candidaturas estaduais em nome de um pacto nacional que levará ao isolamento do candidato do PDT à Presidência, Ciro Gomes. Ele terá de se contentar com o tempo de 2 minutos e 20 segundos no horário eleitoral gratuito caso não consiga se aliar a outro partido. Ciro contava com os 3 minutos e 50 segundos a que o PSB tem direito para aumentar sua exposição no rádio e na televisão.

O candidato do PDT afirmou que sabia ser um "cabra marcado para morrer", e disse que MDB, PSDM e PT articularam seu isolamento: "Trabalham juntos, para me isolar, o PMDB, do Temer, o PSDB, do Alckmin, e o PT, do Lula". Ciro não poupou críticas ao PT. "A burocracia do PT não está pensando no país. Eles simplesmente não querem que eu seja o candidato que vá representar uma renovação do pensamento progressista brasileiro. Mas eu não sei se eles vão conseguir porque eles têm aí um negócio muito maravilhoso, que é o povo", disse.

Para Ciro, o PT ensaia uma “valsa no abismo” ao insistir na candidatura de Lula, condenado e preso na Operação Lava Jato. “Isso não é política, é caudilhismo do mais barato”, disparou. O partido vai oficializar o nome do ex-presidente como seu candidato na disputa presidencial em convenção marcada para este sábado (4).

"O PT entrou numa que eu tenho que respeitar, tenho que ter paciência. Mas, francamente, eu não sei o que eu fiz para merecer esse tipo de conduta, de desapreço e de hostilidade. Porque, se nós olharmos, eu até pago um certo preço, eu apoiei Lula todos os dias sem faltar nenhum ao longo dos últimos 16 anos", afirmou o candidato.

Vice

No encontro dos dirigentes dos partidos de esquerda, na terça (31), Gleisi Hoffmann disse ao presidente do PDT, Carlos Lupi, que o PT estava oferecendo a vaga de candidato a vice de Lula a Ciro Gomes (PDT). Lupi, a princípio, levou na brincadeira. Quando percebeu que era sério disse que o convite deveria ter vindo há duas semanas, antes da convenção do PDT que oficializou a candidatura de Ciro ao Palácio do Planalto. Os petistas admitem que a operação não será fácil, mas dizem acreditar que o isolamento de Ciro na disputa pode acabar na formação de uma aliança da esquerda

Esquartejado

No fim das contas, o ex-presidente Lula esquartejou a candidatura de Ciro Gomes (PDT). Mas, sua “morte” não foi contabilizada ainda. Na pior hipótese, tombará atirando. Na melhor, entrará na briga pela simpatia dos 51% de eleitores que informaram ao Datafolha que não votariam em ninguém indicado por Lula. A vitória não é provável. Mas está claro que o esquartejamento de sua coligação pode custar caro a Lula. Ciro não é o tipo de personagem que dá ponto sem nó.

Difícil

Coordenador do programa de governo da candidatura presidencial do PT, Fernando Haddad, disse que será difícil fechar uma aliança com o presidenciável Ciro Gomes (PDT), ao menos no primeiro turno. “Às vezes as declarações do Ciro de que é muito difícil uma aliança no primeiro turno [dificultam as conversas]. O PDT tem todo direito de lançar candidatura própria, assim como o PT está fazendo. Nenhum problema, mas às vezes a aliança fica mais difícil”, afirmou.

Diante da insegurança jurídica da candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva, Haddad reconheceu que a união da esquerda foi dificultada pela prisão e condenação em segunda instância do ex-presidente. “Se o Lula fosse candidato, realmente tenho dúvidas se Ciro, Boulos e Manuela teriam colocado suas candidaturas. Com todo respeito a eles, mas duvido que isso aconteceria. Todo mundo estaria reunido em torno do Lula”, disse Haddad.

PT e PSB

Às vésperas de suas convenções nacionais, as direções do PT e do PSB enfrentam dois focos de conflito: a resistência da vereadora Marília Arraes (PT), em Pernambuco, e do ex-prefeito Márcio Lacerda (PSB), em Minas Gerais, em retirar suas respectivas candidaturas. Em movimento articulado, os dois não aceitam sair da disputa eleitoral para que o PSB declare neutralidade na corrida presidencial, decisão que deverá ser ratificada neste domingo (5) em reunião da executiva do partido em Brasília. Pelo trato, uma legenda apoiará a outra nesses estados. Em Pernambuco, o PT apoiaria a candidatura à reeleição do governador Paulo Câmara (PSB), em Pernambuco, e o PSB a de Fernando Pimentel, em Minas. Ambas as medidas têm como objetivo asfixiar a candidatura de Ciro Gomes (PDT), vista como obstáculo às pretensões do PT por avançar sobre o eleitorado de esquerda e centro-esquerda.

Assombrado

Tarso Genro reagiu com assombro ao acordo PT-PSB, costurado por Lula desde a cela especial de Curitiba. O que mais lhe causou espanto foi a decisão do PT de implodir a candidatura da vereadora petista Marília Arraes ao governo de Pernambuco, retirando-a do caminho do governador Paulo Câmara, candidato à reeleição. Em nota veiculada no Twitter, Tarso duvidou de sua própria sanidade: “Peço a Deus e às forças do além, que eu não esteja entendendo bem que foi feito um acordo PT-PSB, que descarta a candidatura da Marília Arraes ao governo de Pernambuco, o grande quadro renovador da esquerda do Nordeste! Aguardemos!”


Ommmmmm…

Preso há quase quatro meses, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) diz estar mais filósofo e manso. Foi o que afirmou a jornalistas a monja budista Coen Roshi, que visitou o petista na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba (PR). "Estou ficando mais filósofo, mais manso. Eu acalmo pessoas que vem falar comigo com muita raiva, com muita angústia. Eu faço com que eles fiquem bem, porque as coisas são como são e não são eternas, são transitórias", teria dito Lula segundo a monja. 

Durona

A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, enviou ao Supremo Tribunal Federal (STF) uma das manifestações mais duras que já fez contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, condenado no caso do tríplex de Guarujá (SP) e preso em Curitiba desde abril. Na peça, Dodge expôs os motivos que, para ela, justificam a alta pena imposta pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), de 12 anos e um mês de prisão. Ela afirmou que a dosimetria (o tamanho da pena) não está sujeita a critérios puramente matemáticos, e que cumpre ao juiz "definir o quanto é necessário para a correta prevenção e reprovação do delito, conforme o grau de reprovabilidade da conduta do réu".

Se Fux…

O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Luiz Fux, rejeitou o pedido de um advogado para declarar o ex-presidente Lula inelegível desde já, mas ajustou o texto de sua decisão para incluir nele a expressão “inelegibilidade chapada”, ou seja, evidente, em referência ao petista.

Cabo de guerra

O Supremo está dividido a respeito do timing da análise do recurso que pede a liberdade de Lula e pode antecipar a discussão de sua inelegibilidade. Enquanto o ministro Edson Fachin, relator do caso, pede celeridade, colegas acham que é bobagem puxar a pauta para a corte. sses magistrados acreditam que o melhor é deixar a análise da inelegibilidade de Lula com o Tribunal Superior Eleitoral, que seria o leito natural da discussão.

Nos meandros

Questionado por jornalistas sobre o julgamento de um pedido de soltura feito em junho pelo ex-presidente Lula, o ministro Edson Fachin, relator do processo no Supremo Tribunal Federal (STF), defendeu que haja celeridade, já que o caso influencia as eleições. “Toda celeridade em matéria eleitoral é importante para não deixar dúvida no procedimento”. Os jornalistas perguntaram ao ministro se o ideal é que o pedido do petista seja analisado pelo Supremo ainda em agosto. Fachin concordou. O caso está fora da pauta prevista para este mês, mas a presidente da corte, Cármen Lúcia, já disse que marcará a data quando o pedido estiver pronto para ser julgado.

Convenção

O PT fará sua convenção neste sábado (4) sem indicar o candidato a vice de Lula. O partido delegará a definição à executiva. O nome deve ser apresentado no limite do prazo, em 15 de agosto. Uma ala do PT voltou a falar na presidente do partido, Gleisi Hoffmann, como opção, caso o ex-ministro Jaques Wagner não tope substituir o ex-presidente. Essa possibilidade entrou no radar da fatia do partido que não tem simpatia pelo ex-prefeito Fernando Haddad (PT-SP).

Que fome

Um grupo de militantes pretendia iniciar uma greve de fome pela libertação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na sede do Supremo Tribunal Federal (STF), em Brasília. Cerca de dez pessoas tentaram permanecer em frente a entrada exclusiva dos ministros e os manifestantes foram retirados por um cordão humano formado por seguranças do tribunal. Alguns manifestantes chegaram a cair no chão, mas deixaram o local.

Cármen reclama

A presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministra Cármen Lúcia, abriu a primeira sessão da corte no semestre afirmando ser inaceitável qualquer forma de descumprimento das decisões judiciais.

Manu e o líder

Candidata pelo PCdoB, Manuela D'Ávila criticou a prisão de Lula no âmbito do que ela classificou como "estado de exceção". "Nesse momento, o maior líder popular da história do nosso país está encarcerado de forma injusta. Lula está preso porque lidera as pesquisas, porque solto venceria as eleições […] A democracia brasileira está presa naquela cela em Curitiba. É por isso que a nossa pré-candidatura sempre se somou aos gritos de 'Lula livre'", declarou. A candidata argumentou que no Brasil não há mais presunção de inocência ou separação entre juiz e acusador. "O estado de exceção, que a periferia, diga-se de passagem, já vivia, se generalizou".

Show de horrores

Foi um verdadeiro show de horrores a entrevista de Jair Bolsonaro (PSL) no programa Roda Viva.  Afirmou ser vítima de fake news, mas repetiu várias afirmações falsas ou distorcidas sobre sua própria trajetória. Afirmou não ser homofóbico, misógino e racista, embora sejam numerosos os registros em que ele expressa os tr~es tipos de preconceito.

Vice?

O vídeo abaixo exibe declarações feitas por Jair Bolsonaro após o encerramento da transmissão de sua entrevista ao programa Roda Viva. O presidenciável do PSL sinalizou que a advogada Janaína Paschoal deve ser confirmada como sua companheira de chapa. Co-autora do pedido de impeachment de Dilma Rosseff, Janaína integrou o séquito de correligionários que acompanhou o candidato nos estúdios da TV Cultura.


Senso crítico pra que?

Com a ambição de instalar colégios militares em todas as capitais se eleito, Jair Bolsonaro (PSL) acha que "ninguém quer saber de jovem com senso crítico" e diz que, na nova rede de escolas, "ninguém vai assistir a filme de sacanagem em nome da diversidade". A fala do capitão reformado, para uma plateia de militantes num ginásio com pouco público em Vitória (ES), ocorreu justamente num contexto em que em 2018 a proporção de jovens de 16 e 17 anos que tiraram título de eleitor teve a primeira alta desde 2006. Nos planos do presidenciável, até o ensino do uso e da importância de métodos contraceptivos nas aulas de biologia seriam extintos, porque "quem decide o sexo é papai e mamãe". 

Rejeição


Príncipe do bem

O empresário e príncipe dom João Henrique de Orleans e Bragança, o príncipe Joãozinho, trineto de dom Pedro 2º, falou sobre a possibilidade de seu primo Luiz Philippe de Orleans e Bragança ser vice na chapa do pré-candidato Jair Bolsonaro (PSL). “Nossa família tem uma tradição de tolerância —Dom Pedro 1º, Pedro 2º, a princesa Isabel. É uma tradição de liberdade, de respeito às minorias, à diversidade. Nossa posição, e a de qualquer família real no mundo, hoje, é de suprapartidarismo. O Luiz Philippe destoa dessa posição. Primeiro, participando da política partidária [ele se filiou ao PSL e fundou o movimento antipetista Acorda Brasil]. Segundo, ele escolhe um candidato absolutamente intolerante. [Bolsonaro] é uma figura perigosa para o Brasil. Faz Trump parecer um menino bonzinho!”

Mussolini tupiniquim

Impaciente com a imprensa que cumpre o dever de imprensar homens públicos, Jair Bolsonaro (PSL) vinga-se até de quem ainda não o criticou. O capitão pendurou no Twitter uma nota acusando o francês Le Monde de “baixar o nível” numa reportagem sobre seu perfil. Na verdade texto fora veiculado na editoria de mundo —monde, em língua francesa) do jornal suíço Tribune de Genève. Logo no título, a reportagem chama Bolsonaro de “Trump brasileiro”, pespegando nele três adjetivos: “machista, homofóbico e racista.” Na sequência, o candidato é definido como “deputado de extrema-direita nostálgico da ditadura.” Como se vê, nada que já não tenha sido fartamente mencionado em publicações nacionais.

O santinho e a velhinha

Geraldo Alckmin deu um passo largo à direita ao escolher Ana Amélia (PP) como vice em sua chapa presidencial. A senadora gaúcha se incorpora ao esforço dos tucanos para retomar um eleitorado conservador que votava no PSDB, mas migrou para Jair Bolsonaro (PSL). Ana Amélia tentará devolver fôlego a Alckmin em cinco nichos: 1) no antipetismo; 2) no setor rural; 3) nos movimentos conservadores; 4) no debate anticorrupção; 5) no Sul.

Moro e o tucanato

O desembargador Fernando Wowk Penteado, do Tribunal Regional Eleitoral do Paraná (TRE-PR), que livrou o ex-governador Beto Richa (PSDB) da alçada do juiz Sérgio Moro, tem uma filha filiada ao PSDB e com cargo comissionado no governo, para o qual foi nomeada por Richa em novembro de 2017.

Chama o Meirelles…

Candidato do presidente Michel Temer à Presidência, o ex-ministro Henrique Meirelles teve seu nome aprovado, pela convenção nacional do MDB, como candidato à Presidência da República pelo partido. Ele contou com o apoio de 85% dos votantes. Esta é a primeira vez que o maior partido do país lança candidatura presidencial própria desde 1994, quando Orestes Quércia concorreu. Largando com apenas 1% das intenções de voto, segundo as últimas pesquisas, o ex-ministro enfrentará a falta de alianças e de unidade dentro do próprio partido.

Meirelles usa elogio de Lula, Ciro e Alckmin em vídeo

O anão e os gnomos

O presidente Michel Temer (MDB) atacou os adversários de Henrique Meirelles na disputa à Presidência logo após a confirmação da candidatura própria do MDB. "[Nossos adversários] são uns pobres coitados. Como não têm projeto, vão para a baixaria. Nós não somos pigmeus. O MDB é feito de gigantes", disse para aplausos de lideranças e militantes emedebistas.

Maior mico

O ex-presidente do Senado Renan Calheiros (MDB) fez um apelo aos colegas de partido para que votassem contra a indicação da candidatura de Henrique Meirelles à Presidência da República na convenção do MDB. Ele defendia que a legenda não tivesse candidato próprio ao Planalto para não atrapalhar as alianças regionais. Na avaliação dele, a candidatura de Meirelles é um "mico" e sobrecarrega os palanques estaduais com a "rejeição universal" do governo Michel Temer.

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Victor Barone

Jornalista, professor, mestre em Comunicação pela UFMS.


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