16/04/2024 - Edição 540

True Colors

Stonewall

Publicado em 27/06/2014 12:00 - Guilherme Cavalcante

Clique aqui e contribua para um jornalismo livre e financiado pelos seus próprios leitores.

28 de junho de 1969. Em uma época na qual exercer a sexualidade fora da norma padrão (hétero-cis-normativa) era razão de violência institucionalizada, houve quem decidiu fazer diferente. O cenário foi o famoso Stonewall Inn, um club LGBT em Nova Iorque, uma espécie de gueto que reunia gays, lésbicas, transexuais e drag queens. Porém, diferentemente das outras abordagens agressivas da polícia nova-iorquina, em 28 de junho, no Stonewall, não houve braços cruzados.

Vale lembrar: até 1990, ser homossexual era considerado doença. Transexualidade e travestilidade, ainda são. Assim, o Stonewall Inn era tido como um reduto de loucos, dementes, pederastas e criminosos. E alvos fáceis, já que nunca respondiam à ofensiva policial.

O episódio, no entanto, ganhou um significado especial quando a comunidade frequentadora do bar viu-se unida na busca por defender a própria existência. Nascia, ali, o embrião do movimento LGBT. E a data ganhou tanta importância que é nela que se comemora o Dia Mundial do Orgulho LGBT.

Com o passar dos anos, Stonewall Inn seguiu sendo tratado como uma espécie de Meca Gay, onde turistas da comunidade fazem questão de ostentar uma foto em frente à vitrina do bar, que funciona até hoje. Mas existe uma diferença entre conhecer a história do Orgulho LGBT e colocar seu discurso em prática. Explico a seguir.

O tempo inteiro se observa que, na comunidade, algumas letras são sufocadas pelo superprotagonismo dos grupos mais fortes – sobretudo os gays, que menos resistentes ao patriarcado, conseguiram inserção social bem mais rápida. Assim, uma foto em frente ao Stonewall Inn é vazia de significado se o fotografado reproduz em seus discursos ideias de senso comum: pouco ou nenhum pouco refletidas e que submetem e subjugam os outros grupos da comunidade.

Dentre as opressões reproduzidas por gays (não todos, mas parte significativa deles) estão machismo, misoginia, transfobia e bifobia. Por esta razão, esta irmandade de homens chegou até a ser “carinhosamente” apelidada de movimento “GGGG”, um trocadilho para LGBT. Afinal, cientes de que ocupam o topo de uma espécie de “cadeia alimentar LGBT” (sobretudo os ativos e viris) e que sofrem menos com a discriminação, pouco se importam de mudar o cenário, seja por qual meio for.

É preciso lembrar que durante a rebelião de Stonewall, há 45 anos, quem primeiro decidiu não se calar diante da corriqueira violência policial foi Sylvia Rivera (1951-2002), uma transexual que atualmente é um dos ícones do movimento trans. Aos 18 anos, ela foi quem primeiro revidou as agressões. Portanto, é no mínimo irônico que a liberdade usufruída pelos gays de hoje seja consequência da primeira pedra atirada por uma transexual, da mesma forma que é absolutamente incoerente que a comunidade T seja ainda tão hostilizado dentro do próprio movimento.

Assim, para fazer jus à história do Orgulho LGBT e de seu fato histórico, para aquela foto em frente à vitrina do Stonewall Inn ganhar sentido, é preciso que cada integrantes da nossa comunidade faça o dever de casa e pare de reproduzir as opressões. Compreender e respeitar os conceitos de identidade de gênero, de orientação e expressão sexuais é o mínimo a se fazer. Só assim haverá uma unidade neste movimento que luta por respeito e dignidade. Só assim não continuaremos tão fracos, ainda mais diante do movimento conservador que a cada dia ganha força mundo a fora.

Pinups, só que masculinas

Sabe as pinups, aquelas modelos que posavam para ilustrações que dominaram o mercado publicitário em boa parte do Século XX? Mulheres como Joan Crowford, Bettie Page, Mae West, Ingrid Bergman, Marilyn Monroe, Ginger Rodgers, Rita Hayworth e muitas outras são os rostos mais conhecidos. Mas e se em vez de belas mulheres, as pinups fossem compostas por ilustrações sensuais de… homens?

Esta é a proposta do Pinup0s, um acervo de ilustrações hospedado no Tumblr que tem como tema as, digamos assim, “pinups masculinas”. O formato, no entanto, foge das tradicionais ilustrações de homens (tais como o trabalho de Tom of Finland) por trazer tanto estéticas mais contemporâneas de ilustração como também por subverter, por meio das representações do masculino, com algo tido como maioritariamente feminino.

Pelo que andei vendo, o site está sendo alimentado e é possível que o número de ilustrações cresçam cada vez mais. Lembrando que algumas ilustrações podem não ser adequadas para serem vistas no ambiente de trabalho, ok? Enjoy!

Leia outros artigos da coluna: True Colors

Victor Barone

Jornalista, professor, mestre em Comunicação pela UFMS.


Voltar


Comente sobre essa publicação...

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *