18/04/2024 - Edição 540

Poder

Dispara o número de mulheres militares que vão concorrer às eleições

Publicado em 06/07/2018 12:00 -

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Como milhões de mulheres no país, Fátima Souza chefia seu lar desde o divórcio, há 11 anos. Ela conta que, desde então, é “pai e mãe” e cuidou sozinha dos cinco filhos enquanto lutava contra uma depressão. “Quando o pai separa da mulher, ele esquece também que é pai. Muitas passam por isso”, conta a cabo da Polícia Militar do Estado de São Paulo (PMESP), que dá palestras e é instrutora do Programa Educacional de Resistência às Drogas (Proerd). E, como se isso não bastasse, é uma das cerca de 200 mulheres ligadas às forças militares que deverão disputar algum cargo eletivo em outubro.

O número estimado de mulheres militares na corrida eleitoral em 2018 deve crescer 57% na comparação com o total desse tipo de candidatura registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em 2014, quando 127 da ativa concorreram.

Aos 50 anos de idade, dos quais 20 dedicados à PM, Fátima deverá concorrer a uma vaga na Câmara dos Deputados em outubro pelo PSL. Mas DEM e PR são as outras legendas que abrigam aliados e simpatizantes à candidatura do deputado Jair Bolsonaro (PSL-RJ), militar da reserva, ao Palácio do Planalto.

O partido de Bolsonaro deve lançar cerca de 20 candidatas militares da ativa e da reserva apenas em São Paulo, o equivalente a pelo menos 10% do total esperado de candidaturas de militares femininas neste ano.

O número de mulheres deve satisfazer o mínimo de 30% exigidos por lei dos aproximadamente 600 candidatos ligados ao serviço militar. São policiais, bombeiros e membros do Exército que devem se candidatar aos cargos deputado estadual, federal e senador, de acordo com as contas do deputado Major Olímpio (PSL-SP), presidente do partido em São Paulo e responsável pela coordenação das candidaturas dos militares. O número já havia sido adiantado pelo próprio Major, em meados de junho. Esse pode não ser o número real. As candidaturas ainda não foram registradas e os 30% de mulheres dependem de cada partido.

“Nós teremos, sim, no estado de São Paulo candidaturas de militares femininas, entre deputadas federal e estadual, pelo menos umas 40 candidaturas, sendo metade delas comigo no PSL. Naturalmente, por eu ser presidente do partido [no estado] e pelo Jair Bolsonaro, o PSL acaba tendo uma tendência maior de procura”, disse o deputado à reportagem.  

Segundo ele, o crescimento do número de candidaturas de mulheres militares não está ligado à exposição que a também cabo da PM paulista Kátia Sastre teve recentemente. Após reagir a uma abordagem e matar o homem que tentou assaltá-la na porta da escola de sua filha, no domingo de Dia das Mães, a policial foi homenageada pelo governador do estado, Márcio França (PSB), e convidada a concorrer a uma vaga na Câmara pelo PSL e pelo PR. Deve disputar uma das 513 cadeiras pelo PR.

"A maioria dessas mulheres que estão participando do processo [eleitoral] já vinha de entendimentos conosco, mesmo antes da ação da Sastre. Então, eu não vejo que possa ter aumentado a procura", disse Major Olímpio.

Sem “suavizar”

Fátima, que deve sair com o nome de urna Fátima “Pérola Neggra”, afirmou à reportagem que não sabia quantas mulheres deverão ser suas correligionárias, quantas colegas de profissão vão concorrer este ano e que desconhecia a opinião delas sobre o presidenciável.

“Também gostaria de saber que mulheres são essas que estão apoiando o Bolsonaro. Até porque a gente só vê o contrário, que mulher não vota no Bolsonaro, que as mulheres não votam nele… E eu estou muito curiosa para entender as razões”, diz Fátima.

Para o deputado, as pré-candidatas procuraram o partido por identificação dos propósitos delas como mulheres e como policiais. Olímpio afirmou à reportagem que a imagem de Bolsonaro não precisa ser “suavizada” das frequentes acusações de machismo. “Nós não temos esse tipo de preocupação porque nós sabemos que [repercussão de declarações] foram mais distorções e foco de interesses escusos para tentar diminuir a imagem do Bolsonaro para a opinião pública. Não tem essa história de suavizar o que não deve ser suavizado”, afirma ele.

Fátima contou que faz parte de grupos de mulheres que apoiam o pré-candidato do PSL ao Planalto, mas que considera que ainda há poucas, no geral, apoiando o deputado fluminense”. “Estou achando poucas. Não sei se é por conta do militarismo”, diz ela, que também afirma ter “apreço” pelo deputado e que não vê machismo nas atitudes e declarações dele. “Mas quero saber qual a opinião das colegas. Vou estudar um pouco nos próximos dias”, disse ela.

Financiamento de campanha

Em 22 de maio, o TSE determinou que os partidos deverão repassar no mínimo 30% dos recursos recebidos do Fundo Especial de Financiamento de Campanha (FEFC) para as candidaturas de mulheres. Além dos recursos, o tempo de rádio e TV também deve ser 30% delas.

Segundo Fátima, o partido ainda não havia abordado a questão do financiamento, mas as chamadas “vaquinhas” eleitorais e as doações voluntárias devem ser a base de sua campanha.

De acordo com Major Olímpio, o PSL não deve usar recursos do fundo especial, criado no ano passado e apelidado de “fundão”, por considerá-lo “imoral”. A sigla, que cobrou uma fatia maior do FEFC ao mesmo tempo em que tentava extinguí-lo, terá direito a R$ 9,2 milhões apenas deste fundo.

Prazo de filiação

O prazo para a filiação partidária de uma pessoa ligada ao serviço militar é mais flexível, o que dá mais tempo para que os partidos cortejem possíveis candidatos vindos do militarismo. Como a atividade partidária é proibida aos militares, eles só podem se filiar na época das convenções partidárias – desde que não ocupem posições de comando nas corporações.

As convenções partidárias deste ano ocorrerão entre 20 de julho e 5 de agosto. A filiação passa a ser entendida a partir do momento em que ele é confirmado pelo partido para concorrer a uma vaga, quando o então candidato deve comunicar a decisão ao seu superior.

As regras também são diferentes para aqueles que têm mais ou menos de dez anos de serviço nas corporações. O candidato que tem mais de uma década como militar é considerado “agregado”, o que significa que ele é afastado para que possa exercer uma outra função temporariamente. Se eleito, ele passa à reserva, do contrário poderá voltar ao posto.

Os que têm menos de dez anos de serviço são considerados militares inativos a partir da filiação e não podem voltar ao posto se não forem eleitos.


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