16/04/2024 - Edição 540

Brasil

50 milhões vivem em deserto de rádio e TV locais no Brasil

Publicado em 05/07/2018 12:00 -

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Para 50 milhões de brasileiros, ter rádio ou televisor em casa não significa ter acesso a conteúdo local, principalmente de informação.

Levantamento do Atlas da Notícia mostra que 25% da população do país vive em municípios sem emissoras locais de radiodifusão (rádio e televisão).

Quando muito, têm retransmissoras do conteúdo de rede nacional ou regional. O resultado é semelhante ao levantamento do Atlas em novembro, que apontou um “deserto” de jornais impressos e sites para 70 milhões (leia mais abaixo).

O Atlas da Notícia é um estudo do Projor (Instituto para o Desenvolvimento do Jornalismo) com a agência de jornalismo de dados Volt Data Lab.

É inspirado no projeto de “desertos de notícias” americanos da Columbia Journalism Review, veículo ligado à Universidade Columbia.

Para Angela Pimenta, presidente do Projor, “quanto menor a cidade, maior a tendência de que não haja jornalismo, e é claro que isso é preocupante”.

Sérgio Spagnuolo, editor da Volt, chama a atenção para o impacto concreto: “Quem está cobrindo a vida cívica local? E o buraco na rua?”.

O estudo de radiodifusão cruzou dados obtidos através de contribuição online (crowdsourcing) com os registros do Ministério das Comunicações.

Uma edição ampliada e revisada do Atlas, tanto para jornais e sites como para rádio e televisão, já está programada para o final deste ano.

Além do levantamento quantitativo, foi prevista também uma série de reportagens, para um estudo qualitativo das cinco regiões do país.

O projeto, que é apoiado pelo Facebook, contratou para tanto a jornalista Elvira Lobato.

Ela deve visitar cidades como a mineira Mariana e as alagoanas Arapiraca e Palmeira dos Índios, para retratar seus jornais, sites e emissoras.

Lobato, que lançou em novembro o livro “Antenas da Floresta” (Objetiva, 360 págs.), sobre TVs na Amazônia, pretende repetir o processo, que mudou sua visão.

Por exemplo, ela hoje vê qualidades no conteúdo de emissoras locais de políticos. “Ele não exerce controle em tempo integral, o ano todo”, diz.

“Vi reportagens muito interessantes, por incrível que pareça. E qual é a alternativa que você tem? Só a informação que vem dos grandes centros urbanos.”

Sem jornais ou sites locais

Aproximadamente 70 milhões de brasileiros –cerca de 35% da população nacional– vivem em áreas sem a presença de um jornal ou de um site de notícias local.

O estudo chamou essas áreas, mais amplas nas regiões Norte e Nordeste do Brasil, de "desertos de notícias". O levantamento não leva em consideração, no entanto, a presença de emissoras de rádio e TV nesses locais.

"A gente quer futuramente incluir radiodifusão, inclusive rádios comunitárias", diz Angela Pimenta, presidente do Projor. "Esse não é um retrato rígido. Estamos olhando de telescópio para algumas regiões mais remotas do país."

De acordo com a Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão, estão ativas 9.776 rádios –entre comunitárias, educativas e comerciais– e 542 emissoras de televisão em todo o país.

Para a presidente do Projor, há uma dificuldade maior ao acesso a informação nesses "desertos" do que há em um grande centro, como São Paulo. "Há uma correlação entre lugares com maior Índice de Desenvolvimento Humano e uma maior existência de veículos", diz Pimenta.

Mapeamento

O relatório mapeou 5.354 veículos de imprensa distribuídos em 1.125 cidades. Eles atendem regiões onde vivem aproximadamente 130 milhões de pessoas.

Dessas 1.125 cidades, 426 contam apenas com um jornal impresso ou online. A maior delas é Jaboatão dos Guararapes (PE), com 644 mil habitantes, segundo o Censo de 2010 do IBGE.

De acordo com o estudo, a maior parte da mídia está concentrada nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília. Juntas, elas possuem mais de 20% dos veículos do país, embora correspondam a 10% da população brasileira.

As três cidades não-capitais que concentram maior número de jornais ou sites noticiosos ficam no Estado de São Paulo: Campinas e Santos, com 30 veículos mapeados em cada. Na sequência vem Ribeirão Preto, com 22.

O Estado de São Paulo é também o que concentra maior número de veículos: 1.641. Também aparecem entre os três maiores os estados do Rio Grande do Sul (600) e de Santa Catarina (547).

Ao levar em consideração a população, Santa Catarina está à frente com 6,8 veículos mapeados a cada 100 mil habitantes –a média no Estado de São Paulo é de 4 a cada 100 mil habitantes.

O relatório cruza dados do governo federal, da ANJ (Associação Nacional de Jornais) e informações enviadas pela comunidade.


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