Poder
Publicado em 18/05/2018 12:00 -
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O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), preso há mais de um mês na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba (PR), diz que não aceita receber um indulto. Foi o que afirmou a presidente do partido, a senadora Gleisi Hoffmann, na tarde da última quinta-feira (17). Ela visitou o petista ao lado do ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad.
"Hoje ele me disse claramente: 'Tem que parar de falar em indulto para mim. Eu não aceito indulto. Eu sou inocente, quero provar minha inocência'", relatou.
A ideia de defender o indulto a Lula não é consensual no PT. Paulo Okamotto, presidente do Instituto Lula, e Ciro Gomes, pré-candidato à Presidência pelo PDT, já se manifestaram dizendo que prometer o indulto seria "uma loucura".
Gleisi voltou a afirmar que Lula é o candidato do partido no primeiro turno e argumentou que o ex-presidente tem os direitos políticos preservados. No entendimento da senadora, a Lei da Ficha Limpa não impede que Lula concorra —ela fez referência a 145 prefeitos condenados que foram candidatos nas últimas eleições e ao artigo 26-C do texto.
O artigo citado determina: "O órgão colegiado do tribunal ao qual couber a apreciação do recurso (…) poderá, em caráter cautelar, suspender a inelegibilidade sempre que existir plausibilidade da pretensão recursal".
A senadora também disse que, "se nada der certo", Lula "saberá encaminhar o processo com a direção do PT".
Fernando Haddad, tratado como o plano B da legenda, tem mantido conversas com outros partidos de esquerda. Nesta quinta, ele afirmou que o ex-presidente recomendou que o diálogo continue. "Lula é o primeiro a estabelecer o diálogo. É do interesse dele que os partidos progressistas, que se opõem ao governo Temer, mantenham o diálogo, independentemente de ter candidato próprio."
Questionada se Lula havia comentado sobre a foto do juiz Sergio Moro com o ex-prefeito João Doria (PSDB), Gleisi disse que não. "Não precisa nem de comentários, a foto é autoexplicativa. Já esteve com Aécio [Neves], [Michel] Temer, vive de convescotes com o pessoal do establishment."
Apoio internacional
O ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes, rebateu uma carta assinada por líderes europeus criticando a prisão do ex-presidente Lula.
“Recebi, com incredulidade, as declarações de personalidades europeias que, tendo perdido audiência em casa, arrogam-se o direito de dar lições sobre o funcionamento do sistema judiciário brasileiro”, disse o chanceler por meio de nota.
A mensagem é uma resposta a uma carta publicada na terça (15) nas redes sociais de Lula. O documento foi assinado por seis pessoas, entre elas, os ex-presidentes da França François Hollande, e da Espanha José Luis Rodrigues Zapatero, além do ex-primeiro ministro da Bélgica Ellio Di Rupo e os ex-presidentes do Conselho de Ministros da Itália Massimo D'Alema, Enrico Letta e Romano Prodi.
As lideranças do continente europeu dizem estar preocupados e pedem que Lula possa concorrer às eleições de outubro.
Aloysio disse que qualquer cidadão brasileiro que tenha sido condenado fica inabilitado a concorrer a cargo eletivo.
"Ao sugerir que seja feita exceção ao ex-presidente Lula, esses senhores pregam a violação do estado de direito. Fariam isto em seus próprios países? Mais do que escamotear a verdade, cometem um gesto preconceituoso, arrogante e anacrônico contra a sociedade brasileira e seu compromisso com a lei e as instituições democráticas."
Reconstruir o país
É importante que as eleições não sejam manipuladas, afirmou a ex-presidente petista Dilma Rousseff, em entrevista à rede britânica BBC, na quarta-feira (16), quando perguntada se os brasileiros aceitariam o resultado eleitoral em outubro sem o ex-presidente Lula.
"É importante que a população brasileira tenha convicção disso [da não manipulação]", disse Dilma. "Você não acha que houve um golpe no Brasil, eu acho que houve. E eu tenho mais experiência de golpe que o senhor", disse ao entrevistador Shaun Ley.
"Eu vivi um golpe da ditadura militar dentro de uma prisão. Eu sei a capacidade da elite brasileira de ser golpista. Há um processo no Brasil e ele tem que ser interrompido pelo bem dos brasileiros", afirmou a ex-presidente.
Para ela, quem pode ajudar a interromper esse processo e estabilizar as condições democráticas do país é Lula.
“Temos que restabelecer as condições democráticas, inclusive nas instituições. Eu acredito, de uma forma muito forte, que o presidente Lula pode ajudar nessa estabilização", disse Dilma. "Eu acredito em mais do que isso. Preso ou solto, condenado ou absolvido, ele será necessariamente uma presença na reconstrução do Brasil."
O petista também é a resposta para a divisão do país, que vai da "Suprema Corte ao local mais humilde", segundo Dilma.
"Lula é um conciliador, nunca foi uma pessoa radical que não soubesse construir consensos, nem tampouco criar pontes", disse, lembrando que o ex-presidente é criticado pelas alianças que fez para governar.
Questão de Honra
Em artigo ao jornal francês Le Monde, o ex-presidente Lula voltou a jurar inocência e dizer que vai disputar a eleição presidencial. “Sou candidato a presidente do Brasil, nas eleições de outubro, porque não cometi nenhum crime e porque sei que posso fazer o país retomar o caminho da democracia e do desenvolvimento, em benefício do nosso povo. Depois de tudo que fiz como presidente da República, tenho certeza de que posso resgatar a credibilidade do governo, sem a qual não há crescimento econômico nem a defesa dos interesses nacionais. Sou candidato para devolver aos pobres e excluídos sua dignidade, a garantia de seus direitos e a esperança de uma vida melhor.”
O ex-presidente também criticou a atuação do juiz Sergio Moro. “Um juiz notoriamente parcial me condenou a 12 anos de prisão por “atos indeterminados”. Alega, falsamente, que eu seria dono de um apartamento no qual nunca dormi, do qual nunca tive a propriedade, a posse, sequer as chaves. Para me prender, e tentar me impedir de disputar as eleições ou fazer campanha para o meu partido, tiveram que ignorar a letra expressa da constituição brasileira, em uma decisão provisória por apenas um voto de diferença entre 11 na Suprema Corte.”
Finalmente, disse que não fará concessões. “Tenho honra e não irei, jamais, fazer concessões na minha luta por inocência e pela manutenção dos meus direitos políticos. Como presidente, promovi por todos os meios o combate à corrupção e não aceito que me imputem esse tipo de crime por meio de uma farsa judicial.”
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