19/03/2024 - Edição 540

Comportamento

A nova geração sabe usar a internet para fazer mudanças sociais

Publicado em 16/05/2018 12:00 -

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A transição entre a adolescência e a vida adulta não é fácil. A fase de mudança ganhou o nome de "adulting" (comportando-se como um adulto, em tradução livre) e intriga pesquisadores e anunciantes.

O Buzzfeed Global, em parceria com as empresas Culture Co-Op e Alter Agents, realizou uma pesquisa com mais de quatro mil norte-americanos, australianos, britânicos e brasileiros com idades entre 18 e 45 anos para entender quais são suas visões em torno desse processo. 

Em uma época em que tanto se fala dos jovens millenials — os nascidos entre o ínício da dédada de 80 e o fim da de 90 — e a forma como lidam (ou não) com o mundo, o estudo mostra que a nova geração não deve ser subestimada.

"A vida adulta hoje parece dramaticamente diferente do passado", disse Edwin Wong, vice-presidente de pesquisa e insights do Buzzfeed. "Eles não podem mais confiar tanto em adultos ou nos marcos tradicionais. No entanto, nós vimos que quase três quartos dessas pessoas querem ser auto-suficientes e autônomos — eles só precisam das ferramentas para isso."

De passagem pelo Brasil para divulgar a pesquisa no evento Proxxima, que aconteceu em maio, em São Paulo, Wong falou sobre as conclusões do relatório e como a juventude pode surpreender os mais velhos daqui para frente.

Quais foram as características identificadas entre os participantes? 

Aqui estão alguns dados que nos impressionaram: o que descobrimos é que o processo de se tornar adulto começa muito antes do que as marcas acreditavam, com muitos dando início a esse processo na adolescência.

A vida adulta hoje parece dramaticamente diferente do passado. Os indicadores históricos e cronogramas para se tornar um adulto não existem mais e estão sendo substituídos por um conjunto de marcos e comportamentos não padronizado em constante evolução. As instituições do passado são irrelevantes para quem está se tornando adulto hoje: 74% dos jovens entre 18 e 45 anos acreditam que o casamento não é permanente e 40% acreditam que não é possível se sustentar com um emprego tradicional de 9h às 17h.

Por um lado, a falta de regras abre oportunidades para que se tornem adultos por conta própria sendo verdadeiros com eles mesmos, em vez de roteiro pré determinado. No entanto, essa liberação pode ter um lado sombrio: apesar de 80% dos entrevistados afirmarem ter mais opções do que seus pais, 64% dizem que é mais difícil se tornar um adulto hoje em comparação com a geração deles.

Sem um caminho claro para a vida adulta, a insegurança e até mesmo a ansiedade podem surgir. 41% relatam que se sentem incompetentes em habilidades básicas da vida e questionam qual caminho é o ideal para eles quando há infinitas opções e múltiplos parâmetros.

Qual é o papel da tecnologia na vida desses jovens?

O mundo digital vai ter um papel importante — se não for o mais importante — nas vidas dessas pessoas. Uma grande maioria das pessoas da Geração Z (nascidos entre o fim da década de 1990 e 2010) já se sente dessa maneira, com 70% dizendo que os pais deles tiveram problemas em darem conselhos sobre o futuro, já que sistemas tradicionais já estão estão sendo rompidos.

Como resultado, fontes digitais, como busca e resenhas online, têm credibilidade no mesmo nível que as pessoas que mais nos conhecem: nossa família e nossos amigos, sobre informações sobre nossas coisas, como nosso dinheiro e nós mesmos, fontes digitais pode prover a informação que precisamos em tempo real e com poucos cliques. Na realidade, 85% dos entrevistados admitiram que eles dão um Google regularmente em como fazer algo e 56% concorda que eles aprenderam a maioria de suas habilidades pela internet.

Com toda esta incerteza, experiências digitais provêm conteúdo para crescimento e dão à audiência a oportunidade de os jovens expressarem sua natureza adulta através do social. Isso começa a ancorar este processo que chamamos de movimento entre um ponto de auto-realização (vida adulta) para um processo de auto-otimização (tornar-se adulto).

Há alguma diferença entre as respostas dos participantes brasileiros e o restante?

O Brasil foi o único país latino-americano incluído nesse projeto de pesquisa. No entanto, é surpreendente o quão consistente são os dados entre os países. Houve pouca diferença entre Estados Unidos, Reino Unido, Austrália e Brasil. Isso mostra que o que estamos vendo não é em um país específico, mas tem uma natureza global. Talvez o mais surpreendente seja que a experiência com conteúdo digital tem um papel importante para esta geração.

Há o estereótipo de que os millenials são piores do que as gerações que vieram antes e que não sabem lidar com a vida real. O que você acha disso?

Eu realmente discordo dessa afirmação. As últimas duas gerações, millennials e pós-millennials, viram a mudança de marcos que estabeleciam os estágios básicos da vida adulta. Eles não podem mais confiar tanto em adultos ou nos marcos tradicionais. No entanto, nós vimos que quase três quartos dessas pessoas querem ser auto-suficientes e autônomos — eles só precisam das ferramentas para isso.

Consequentemente, eles estão indo para o mundo digital e usando as ferramentas que têm disponíveis. Seja fazendo uma pesquisa ou consumindo conteúdo, o mundo digital permite que eles cresçam em seu próprio ritmo e conforme desejarem. 

No momento, o mundo passa por várias mudanças políticas e sociais. Como a nova geração lidará com esses temas?

No estudo, 78% dos integrantes da Geração Z disseram que cresceram muito rápido. No meu trabalho, falo sobre os adolescentes de Parkland como um exemplo. Se você pensar nisso, eles passaram por uma das maiores tragédias humanas, um tiroteio dentro de uma escola.

Em um mês, alguns desses adolescentes estavam na capa de revistas, tendo discussões no Twitter com especialistas da mídia, saindo de casa para protestar contra a NRA (sigla em inglês para Associação Nacional de Rifles), tentando mudar a narrativa da política de armas no congresso norte-americano. Eles estão fazendo tudo isso enquanto passam pela puberdade e se preparam para o baile da escola. Eu descrevo isso como: nossa hipérbole é a realidade deles.

A próxima geração sabe como usar o levante digital para crescer e fazer mudanças sociais que são necessárias. Eu acredito firmemente que esta geração não está procurando pela sua versão mais famosa, mas pela sua melhor versão.


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