29/03/2024 - Edição 540

Poder

E agora Joaquim?

Publicado em 30/05/2014 12:00 -

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Ao anunciar que deixará o Supremo Tribunal Federal (STF) no próximo mês, o atual presidente da corte, Joaquim Barbosa, voltou a alimentar especulações de que poderá se lançar na política.Mesmo que opte por este caminho, Barbosa não poderá concorrer nas eleições de outubro, já que o prazo para que juízes deixassem seus postos para se candidatar no próximo pleito se encerrou em abril.

Ainda assim, segundo analistas, o ministro deixará o Supremo com cacife para tentar cargos eletivos. Para João Paulo Peixoto, cientista político da Universidade de Brasília (UnB), Barbosa conquistou grande popularidade "não só por sua atuação como juiz, mas pelo incorformismo que revela com o status quo atual das instituições brasileiras".

Segundo o professor, caso pudesse disputar as eleições presidenciais em outubro, Barbosa teria boas chances de se eleger. "Ele personifica esses protestos que estão na rua, é uma espécie de voz para tudo o que está errado", diz Peixoto.

Seu eventual ingresso na política, porém, enfrentaria um importante obstáculo, segundo Peixoto: “Mesmo que isso não seja verdadeiro, poderia parecer que houve uma utilização política do julgamento do mensalão para projetá-lo".

A atuação de Barbosa no processo do mensalão – ou Ação Penal 470, um dos julgamentos mais emblemáticos na história do STF – dividiu opiniões.

Membros do PT e advogados dos réus disseram que ele conduziu o julgamento de modo autoritário e intransigente. Sua atuação no processo, porém, rendeu-lhe muitos elogios entre parte da opinião pública.

Falta Aptidão

Antonio Carlos Mazzeo, livre docente em Teoria Política pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), diz que, apesar de sua popularidade, Barbosa não parece ter aptidão para a política. "Em geral, uma das primeiras coisas que políticos precisam aprender é a navegar em águas revoltas, superar dificuldades negociando, flexibilizando posições", afirma Mazzeo.

No entanto, segundo o professor, Barbosa é bastante formal e parece pouco afeito a mediações políticas. "Acho que ele tem dificuldade de trabalhar com divergências – isso é nítido, ele tem um viés autoritário e caudilhesco que transparece em suas posturas."

Para o cientista político e especialista em marketing eleitoral Antonio Lavareda, embora Barbosa tenha se tornado "uma das figuras políticas mais conhecidas e respeitadas do país com o processo do mensalão", ele não deve tentar uma carreira política tradicional. "Poderia eventualmente ser candidato em outro contexto, como uma figura emblemática para a Vice-Presidência ou chamado para integrar um minisério, mas não vejo nele vocação para uma carreira política parlamentar ou no Executivo".

Já para Peixoto, da UnB, a "personalidade forte" de Barbosa não impediria seu sucesso na política. "A própria presidente [Dilma Rousseff] não tem nenhum pendor político, no entanto, convive com a atividade, porque tem interlocutores para fazer isso. O Joaquim Barbosa poderia participar do sistema político sem necessariamente fazer a política miúda, porque teria para isso aliados e assessores".

Peixoto diz ainda que o ministro poderia mudar para se ajustar à política. "As pessoas mudam quando estão ocupando cargos. Ele teria a possibilidade de se adaptar porque demonstra idealismo e vontade de transformação muito grande.”


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