19/04/2024 - Edição 540

Poder

Empresário diz à PF que coronel Lima captava dinheiro para Temer

Publicado em 20/04/2018 12:00 -

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O empresário Gonçalo Torrealba, investigado sob suspeita de pagar propina ao presidente Michel Temer (MDB-SP), afirmou em depoimento à Polícia Federal que o coronel aposentado da Polícia Militar João Baptista Lima Filho atuava como arrecadador de dinheiro para o emedebista.

Essa é a primeira vez que um dos investigados da Operação Skala confirma que o coronel amigo de Temer pediu dinheiro, em nome do presidente, a empresas do porto de Santos (SP), área de influência política do emedebista.

As declarações do empresário contradizem a versão dada por Temer em depoimento por escrito à PF no início do ano. Na ocasião, o presidente escreveu que o coronel nunca havia atuado na arrecadação de recursos para ele.

Torrealba foi ouvido pelos investigadores nos dias 2 e 3 de abril, após a deflagração da Skala, que prendeu temporariamente o coronel Lima e outros amigos de Temer. Embora não tenha feito delação premiada, o dono do grupo Libra deu diversos detalhes sobre sua relação com o presidente e o coronel, como a realização de diversos encontros com ambos. O depoimento ainda está sob sigilo.

O empresário contou aos investigadores que o coronel Lima esteve pessoalmente na sede do grupo Libra para solicitar o repasse de recursos financeiros a uma campanha eleitoral de Temer. Ele disse que o encontro ocorreu há mais de 15 anos, mas que o pedido tinha objetivo de financiar uma das candidaturas de Temer ao cargo de deputado federal. Segundo Torrealba, o papel do coronel era de arrecadador financeiro em nome do emedebista.

A versão do dono do grupo Libra corrobora a delação do grupo J&F, que apontava o coronel Lima como recebedor de propina para Temer, e confirma as suspeitas dos investigadores.

O empresário afirmou no depoimento que recusou, à época, fazer o repasse a Temer por não ter o hábito de fazer doações individuais, apenas a partidos, inclusive o MDB. Torrealba declarou à PF que esse foi o primeiro de diversos contatos que manteve com o coronel Lima ao longo desse período. Ele disse que pediu a ajuda do amigo de Temer para se reunir, em 2015, com o então ministro da Secretaria dos Portos, Edinho Araújo, ex-deputado do MDB próximo de Temer e atual prefeito de São José do Rio Preto (SP).

Edinho Araújo afirmou à PF não se recordar de encontros com o coronel, mas confirmou ter recebido Torrealba para tratar de um pleito de prorrogação dos contratos da empresa. Na ocasião, o grupo Libra travava uma disputa judicial com o governo federal para prorrogar a duração de seus contratos, mesmo possuindo dívida de R$ 2,8 bilhões junto à União. Em setembro de 2015, a empresa teve seus contratos estendidos até 2035 em decisão assinada justamente por Edinho.

Quando respondeu a 50 perguntas da PF, em janeiro, o presidente deu versão diferente sobre a atuação de seu amigo coronel: “O Sr. João Baptista me auxiliou em campanhas eleitorais, mas nunca atuou como arrecadador de recursos (…) Conheço o Sr. João Baptista Lima Filho desde a época de minha primeira gestão como Secretário de Segurança Pública do Estado de São Paulo, em 1984, oportunidade em que o Sr. João Baptista foi meu assessor militar”, escreveu o presidente.

Em 2014, a família Torrealba repassou R$ 1 milhão para a direção nacional do PMDB, à época comandada por Temer. Em 2010, a família doou R$ 500 mil ao PMDB nacional. Em 2006, há doações no valor de R$ 75 mil. O empresário disse à PF que suas doações não buscaram contrapartida com o governo e que manteve apenas relações dentro da lei.

Os advogados do coronel Lima afirmaram que só vão se manifestar após ter acesso ao depoimento. Já Antonio Mariz, que defende Temer, afirmou que não teve acesso ao depoimento e, por isso, não poderia comentar.

Reprovado

Apesar dos esforços do presidente Michel Temer (MDB) para aumentar a popularidade, seu governo é reprovado por 70% dos brasileiros, segundo pesquisa do Datafolha.

A gestão é ruim ou péssima para 70% da população, mesmo índice registrado no levantamento anterior, do fim de janeiro. Os percentuais de regular (23%) e ótima ou boa (6%) também se mantiveram estáveis.

Nos primeiros meses deste ano, o presidente tentou melhorar sua imagem —até se lançou pré-candidato à reeleição, gesto visto como tática para se manter sob os holofotes no período eleitoral—, mas as taxas do governo não mudaram. O emedebista alcança 2% das intenções de voto, segundo o instituto.

​Em janeiro, Temer disse que não vai concluir seu mandato com a pecha de um "sujeito que incorreu em falcatruas". Em março, dois de seus melhores amigos foram presos, numa investigação que apura irregularidades envolvendo o porto de Santos e um decreto do presidente para o setor portuário.

Também em janeiro, Temer foi ao programa de Silvio Santos, no SBT, defender a controversa reforma da Previdência. Em fevereiro, a votação das novas regras de aposentadoria foi suspensa, e o governo federal decidiu fazer a intervenção na segurança pública do Rio.

O presidente afirmou no início do ano que parte da rejeição ao seu mandato acontece porque as pessoas "não vão com a sua cara" e pediu que os eleitores façam uma "análise fria" de sua gestão.

A pesquisa foi feita entre os dias 11 e 13 de abril, após um ano e 11 meses de Temer no cargo. O Datafolha ouviu 4.194 pessoas em 227 municípios do país.​

A nota média do governo subiu levemente em relação a janeiro: foi de 2,6 para 2,7. A gestão ganhou nota zero de 41% dos entrevistados; 2% deram a avaliação máxima (dez pontos).

A pesquisa mostrou ainda que a corrupção voltou a ser apontada como o principal problema do país —é citada por 21%. Seis meses antes, saúde liderava, com 25%.


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