28/03/2024 - Edição 540

Poder

Mulher de coronel pagou em dinheiro vivo obra de filha de Temer, diz fornecedor

Publicado em 13/04/2018 12:00 -

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A arquiteta Maria Rita Fratezi, mulher do coronel João Baptista Lima Filho, amigo do presidente Michel Temer (MDB-SP), pagou em dinheiro vivo despesas de reforma na casa de uma das filhas do presidente, segundo relato de um dos fornecedores da obra. A Polícia Federal investiga a obra no imóvel da psicóloga Maristela Temer sob a suspeita de que tenha sido bancada com propinas da JBS.

Fratezi e Lima foram alvo da Operação Skala, deflagrada em 29 de março, que apura suposto esquema de corrupção para beneficiar empresas do setor portuário com a renovação de concessões públicas. O coronel foi preso por três dias no fim de março e a esposa, intimada a depor. Os dois ficaram em silêncio diante dos investigadores.

Piero Cosulich, dono da Ibiza Acabamentos, uma das empresas que entregaram material na residência de Maristela, em Pinheiros, bairro nobre de São Paulo, afirmou à reportagem que Fratezi era quem levava, pessoalmente, o dinheiro na loja.

“Foi Maria Rita Fratezi quem fez os pagamentos, em espécie, em parcelas. Os pagamentos foram feitos dentro da loja”, disse. “Ela [Maria Rita] vinha fazer o pagamento. Se estava dentro de um envelope, dentro de uma bolsa, não sei te confirmar”, afirmou.

É a primeira vez que um dos envolvidos no projeto aponta publicamente a esposa de Lima como responsável pela entrega de recursos, em espécie, para viabilizar as melhorias no imóvel da psicóloga.

Recibo referente a uma dessas prestações, emitido pela Ibiza em 30 março de 2015, no valor de R$ 12.480, está em poder da PF.

Embora o pagamento, segundo a empresa, tenha sido feito pela mulher do coronel, o documento está em nome de Maristela.

Além dos repasses em dinheiro vivo a fornecedores, os investigadores consideram relevante o fato de os pagamentos terem ocorrido em período próximo e subsequente ao da suposta entrega de propina, pela JBS, para o coronel.

A operação foi descrita por executivos da empresa na delação premiada que motivou a abertura de inquéritos contra Temer no STF (Supremo Tribunal Federal).

Em depoimento, Florisvaldo Oliveira, ex-funcionário da JBS, disse que levou R$ 1 milhão ao coronel, na sede de uma de suas empresas, a Argeplan, em 2 de setembro de 2014. Os recursos seriam parte de um total de R$ 15 milhões em doações de campanha, supostamente acertados com Temer.

Outro colaborador, Ricardo Saud, ex-diretor de Relações Institucionais da JBS, afirmou que, em vez de dar destinação eleitoral aos recursos, o presidente ficou com a parcela de R$ 1 milhão. 

A PF calcula que a obra de Maristela Temer tenha custado ao menos R$ 1 milhão.

Depoimentos

Antes de ser preso na Operação Skala, o coronel Lima apresentou diversas vezes justificativas médicas para não prestar depoimento à Polícia Federal.

Ele conseguiu adiar por oito meses as tentativas da polícia de ouvi-lo no inquérito que investiga irregularidades em um decreto dos portos.

Seus advogados afirmam que ele enfrenta problemas de saúde

No dia da prisão, no dia 29 do mês passado, ele foi levado para responder a questionamentos dos investigadores. Na ocasião, disse que usaria seu direito de ficar em silêncio. 

A mesma atitude teve sua mulher, que chegou a chorar durante a oitiva.

Nas perguntas enviadas pela Polícia Federal, em meio ao inquérito dos portos, Temer não foi indagado especificamente sobre a reforma, mas se “realizou negócios comerciais ou de qualquer natureza que envolvesse a transferência de recursos financeiros” com o coronel. 

À época, em 18 de janeiro, respondeu que “nunca realizou negócios comerciais ou de qualquer outra natureza que envolvesse a transferência de recursos financeiros” para Lima.

Conexões Sob Suspeita

– Por que a reforma virou um alvo da investigação?

A polícia apreendeu em maio do ano passado, na operação Patmos, documentos que estavam na casa do coronel Lima —amigo próximo de Temer— com informações sobre a obra Por que a polícia fez busca e apreensão na casa do coronel? A operação foi decorrente da delação de executivos da JBS, que apontaram o coronel como receptor de propina de R$ 1 milhão em nome do presidente

– Qual é a ligação entre a reforma e a propina?

Para a PF, os períodos coincidentes entre os pagamentos da obra e a entrega da JBS no escritório do coronel reforçam a tese de que o dinheiro da corrupção foi utilizado para bancar a reforma

– O que o coronel faz?

Ele tem uma empresa chamada Argeplan, que tinha contratos indiretos com o governo. Lima também é dono de uma empresa de arquitetura, em sociedade com sua mulher, a arquiteta Maria Rita Fratezi

Presidente reclama

Temer disse no último dia 11que a classe política tem sido desvalorizada. O presidente recomendou a seus aliados reajam e pediu que parlamentares usem a tribuna para se defenderem.

A fala do emedebista foi feita durante uma solenidade, organizada de última hora, para sanção de um projeto que cria a Universidade Federal do Delta do Parnaíba e a Universidade Federal do Agreste de Pernambuco.

"Ao longo desses últimos tempos vocês sabem que a classe política tem sido desvalorizada e se nós não levantarmos a voz —e aqui eu a levanto no maior nível possível, e espero que os senhores usem a tribuna a todo momento para fazer essa defesa", disse.

Temer não mencionou a quais ameaças ele se refere. Contudo, seus aliados veem um cerco do Judiciário ao seu entorno político.

No último dia 29, seus aliados como José Yunes e o coronel João Baptista Lima foram alvo da Operação Skala, da Polícia Federal. Na terça, ambos se tornaram réus por decisão da Justiça Federal no DF. 

"Evidentemente, não é apenas o Executivo que governa. O Executivo governa junto com Legislativo. Aqui nós estamos dando uma prova concreta de um governo comum entre o Legislativo e o Executivo", acrescentou.

Essa foi a segunda vez na semana que Temer pediu a aliados políticos que usem seus discursos no Congresso para autodefesa. Ele participou de um jantar com a bancada do PR na noite do último dia 10 e sugeriu que deputados e senadores falem em defesa do governo. O PR é um dos partidos cobiçados pelo MDB, DEM e PSDB para formação de uma aliança na disputa pela Presidência da República.


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