29/03/2024 - Edição 540

Poder

Príncipe brasileiro acena a Alckmin em reunião do movimento monarquista

Publicado em 02/03/2018 12:00 -

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"É uma ocasião de trocar ideias, pensar as coisas da nossa pátria, lembrar as tradições do Brasil, neste ambiente inclusive muito brasileiro, [com] o verde, a calma", discursa dom Bertrand de Orleans e Bragança, 77, trineto de dom Pedro 2º, num salão de pé-direito alto, com decoração clássica, móveis de madeira, espelhos, lustres e um leão de mármore na entrada.

Reunidos no Nacional Club, espaço com ares aristocráticos cercado de árvores no Pacaembu (zona oeste de São Paulo), apoiadores da restauração do regime monarquista se refestelam nos assentos após um almoço de confraternização no último dia 23.

Com cardápio a R$ 55, bebidas à parte, o "almoço com a família imperial", como anunciado inicialmente no convite, acaba ocorrendo com um só membro do clã. Cerca de 70 pessoas comparecem. "É bom saber que não somos 'avis rara' [ave rara] na sociedade, pelo contrário", diz dom Bertrand, celebrando o quórum.

Diante da plateia salpicada de cabeças brancas, o príncipe —segundo na linha de sucessão, se um dia o Brasil voltasse à monarquia— faz curto discurso. Festeja a "onda conservadora" que cria ambiente favorável à causa da realeza, "já que a República claramente deu errado".

"O Brasil sente muito um fenômeno, que é o aspecto pendular da história. A juventude hoje é mais conservadora", segue ele, citando o apego a valores cristãos como família, trabalho e temor de Deus.

Como o Brasil não voltou a ter uma corte, a eleição presidencial ainda é um tema a ser debatido. Os convidados assentem com a cabeça quando dom Bertrand diz "que nossa bandeira é verde e amarela, jamais será vermelha".

Também quando ele, crítico ao PT e à esquerda, ataca "a ideia de um governo paternalista" e afirma que "o povo brasileiro é bom. Por mais que tenham tentado criar um clima de luta de classes nos últimos decênios, não conseguiram".

O representante da família imperial diz que o conservadorismo será demonstrado nas urnas. Ele aposta em "um candidato que tenha coragem de defender os valores da família, da livre iniciativa, do princípio de solidariedade, da redução do tamanho do paquiderme estatal".

Sob essa ótica, diz o príncipe, Geraldo Alckmin (PSDB) é uma boa opção. "Se ele tiver coragem de tomar posições claras nessas matérias, vence tranquilamente." Se tivesse adotado postura mais firme em 2006, quando disputou o Planalto com Lula (PT), o governador paulista teria sido eleito, afirma dom Bertrand.

Já o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC), dono de bandeiras também conservadoras, não agrada a ele na mesma medida. "Eu confesso que… Às vezes eu tenho certo medo de salvador da pátria. Eu tenho meus receios."

Para os entusiastas da causa, um sistema de governo em que o poder pertence a uma família e passa de geração em geração traria estabilidade e acabaria com negociatas em torno de partidos e eleições.

Membros têm comemorado a expansão do movimento, embora não disponham de números exatos. Um dos mais jovens no almoço, o estudante de direito Matheus Meirelles, 20, fala com orgulho da criação de "células monarquistas" em todos os Estados.

"Já tinha conhecimento das ideias e fiquei ainda mais engajado depois que conheci dom Bertrand", afirma ele, lembrando a vontade do grupo de que a população seja ouvida novamente sobre a reinstalação do regime. Em plebiscito em 1993, a proposta teve apoio de 10% dos brasileiros.

Um termômetro para o grupo são páginas no Facebook. Uma das mais populares, a "Pró-Monarquia", atualizada por integrantes da própria Casa Imperial do Brasil, tem quase 80 mil seguidores.

"Há muitas pessoas que pensam da mesma forma que nós. Que se perguntam: valeu a pena a República? Será que a solução não é voltarmos à boa ordem que havia no Brasil até 89?", diz dom Bertrand, referindo-se a 1889, o ano da Proclamação da República.

Sua Alteza

Na mesa do príncipe no almoço, senta-se a secretária de Direitos Humanos da gestão João Doria (PSDB), Eloisa Arruda. Ela comparece a convite de um assessor que faz parte do grupo pró-realeza. Sem participação no movimento, mas simpática "aos bons valores que ele defende", a secretária engata papos com o vizinho de refeição.

Sobre violência, os dois concordam que as drogas estão na raiz do problema. "E também a desagregação familiar", completa ela, contando com a anuência de dom Bertrand, tratado pelos seguidores no local como "sua alteza", numa relação repleta de formalidade. 


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