19/04/2024 - Edição 540

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Meu país está muito próximo de um regime totalitário, diz candidata à presidência russa

Publicado em 09/02/2018 12:00 -

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"Ela tem mais seguidores no Instagram do que eleitores." Um segurança resumia dessa forma a situação da candidata à presidência russa, Ksenia Sobchak, na porta de um auditório abarrotado na Universidade Columbia, em Nova York, onde a improvável desafiadora de Vladimir Putin falaria em minutos.

Ex-estrela de um reality show e apresentadora de televisão, Sobchak pode até ser uma celebridade na Rússia, mas tenta agora conquistar um público global em turnê pelos Estados Unidos faltando um mês para a disputa pelo Kremlin que sabe que vai perder.

"O resultado não é importante para mim. Não podemos controlar o processo, mas podemos mostrar que podemos mudar algo", ela disse. "Quero a oportunidade de pelo menos dizer as coisas na TV quando eles são obrigados a me dar espaço."

Descrita por Timothy  Frye, professor de ciências políticas da Columbia, como a pessoa que "fez protestos entrarem na moda na Rússia", Sobchak disse esperar que sua campanha sirva ao menos para renovar a imagem de políticos russos, hoje "homens sujos", nas palavras dela, que lideram um país que "virou o paraíso da corrupção".

"Estou aqui para dizer que Putin não é a Rússia", disse. "Com essa visita eu mando uma mensagem a Putin. Quero dizer que um presidente não pode ter medo de falar à imprensa e não deveria mentir aos cidadãos, mesmo se ele já foi um agente secreto."

Em seu discurso, a candidata atacou as medidas econômicas do atual presidente, que ela diz que entregou as finanças do país a "um clube privado de amigos pessoais" e ainda defendeu a necessidade de reforçar o respeito à propriedade privada na Rússia, "algo indispensável para o avanço de uma democracia".

"Não há mais democracia hoje na Rússia do que na década de 1990, quando meu pai era prefeito de São Petersburgo", disse Sobchak. "Meu país está muito próximo de um regime totalitário."

Sua denúncia da deterioração do cenário político do país também é uma tentativa de negar qualquer relação com Putin. Seu pai foi padrinho político do presidente e boatos de que ela era afilhada do ocupante do Kremlin circulam há anos ela nega.

Ela também comentou sua relação com Alexei Navalny, candidato da oposição impedido de disputar o pleito. "Inventaram um processo falso para que ele não concorresse", ela disse. "Mas a lógica é sair e votar em qualquer candidato que não seja Putin. É o único jeito de fazer com que ele possa enfraquecer."

Engrossando seus ataques ao atual presidente, Sobchak também deixou claro que defende para a Rússia uma reaproximação com o resto do mundo, em especial uma reforma profunda na relação do país com os Estados Unidos.

"Quero abraçar valores ocidentais e criar um novo canal para nossas relações diplomáticas", disse. "Queremos que Putin saia, mas ele não sai, então precisamos lutar para influenciar os jovens a batalhar contra ele, a criar um soft power para ao menos influenciar Putin a mudar o sistema antes que a situação se torne ainda mais radical."

Entre os valores ocidentais que diz defender, Sobchak disse ser contra a homofobia que vigora hoje na Rússia e afirmou que a Crimeia é um território ucraniano e deveria ser devolvido ao país.


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