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Campanha Internacional para Abolir Armas Nucleares vence Nobel da Paz

Publicado em 06/10/2017 12:00 -

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A Campanha Internacional para Abolir Armas Nucleares recebeu na sexta-feira (6) o Nobel da Paz. Respondendo pela sigla Ican, essa coalizão da sociedade civil promove a implementação do tratado internacional que proíbe esses armamentos. Há 468 organizações envolvidas em 101 países diferentes.

O prêmio coincide com a crescente preocupação em relação ao programa nuclear da Coreia do Norte, ao qual o governo americano tem respondido com ameaças belicosas. O anúncio também se emaranha nas discussões sobre o acordo nuclear com o Irã, que os Estados Unidos têm criticado durante a Presidência de Donald Trump.

Berit Reiss-Andersen, que lidera o comitê do Nobel, afirmou durante o anúncio que o prêmio foi decidido como reconhecimento de "seu trabalho em atrair atenção às consequências humanitárias catastróficas do uso de qualquer arma nuclear".

O Nobel da Paz é acompanhado de uma recompensa equivalente a US$ 1,1 milhão (R$ 3,4 milhões).

Em 2016, o vencedor do prêmio foi o presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, pelas negociações de paz com as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), na tentativa de encerrar os 52 anos de um conflito que já deixou mais de 250 mil vítimas.

Houve para este ano 318 nomeações, entre elas 215 indivíduos e 103 organizações. O nome desses nomeados, no entanto, é mantido em segredo durante 50 anos.

Os favoritos deste ano incluíam os voluntários sírios da organização Defesa Civil, a ACNUR (Agência das Nações Unidas para os Refugiados), o papa Francisco e o jornalista turco Can Dündar.

Irã

Os esforços internacionais contra armamentos nucleares eram favoritos ao Nobel da Paz. Mas se esperava que o prêmio fosse entregue ao chanceler iraniano, Mohammad Javad Zarif, e à chefe de política externa europeia, Federica Mogherini. Eles estiveram por trás do acordo nuclear internacional com o Irã —hoje criticado por Trump.

Mas o comitê anunciou o prêmio, em um gesto inesperado, à campanha do Ican, que foi em parte responsável por criar o Tratado para a Proibição de Armas Nucleares.

O site do Ican estava aparentemente sobrecarregado nos minutos após o anúncio.

O Ican foi criado em 2007, na Austrália, e hoje tem sede na Suíça. Essa campanha é liderada por Beatrice Fihn. Uma de suas inspirações foi a campanha que levou à proibição do uso das minas terrestres em 1997.

Fihn afirmou ter recebido um telefonema minutos antes do anúncio do prêmio e pensou, que fosse um trote.

O troféu, disse, "envia uma mensagem a todos os Estados com armas nucleares de que é um comportamento inaceitável". "Nós não podemos ameaçar de maneira indiscriminada o assassinato de centenas de milhares de civis em nome da segurança. Não é assim que se constrói a segurança".

A agência de notícias Reuters lhe pediu que comentasse a premiação, no contexto das disputas nucleares entre EUA e Coreia do Norte.

"Armas nucleares são ilegais. Ameaçar usá-las é ilegal. Ter armas nucleares é ilegal, e precisam parar."

Uma semana antes, em um comentário publicado em uma rede social, Fihn havia chamado o presidente americano de "idiota".

O orçamento anual do Ican é de cerca de US$ 1 milhão, quase o equivalente ao próprio valor dado pelo Nobel da Paz.

O completo desarmamento nuclear do mundo, porém, é um objetivo distante. Há hoje cerca de 15 mil dessas armas, segundo estimativas.

Armas Nucleares

O Tratado para a Proibição de Armas Nucleares foi estabelecido em julho deste ano nas Nações Unidas, com o boicote das nove potências nucleares do mundo —incluindo a China, a França, os Estados Unidos e a Rússia.

O texto foi apoiado por 122 países após meses de negociações. O acordo foi assinado em 20 de setembro por líderes internacionais, incluindo o presidente do Brasil, Michel Temer. Ao menos 53 nações já assinaram o texto e três delas o ratificaram: Guiana, Tailândia e o Vaticano.

Trump x Irã

O presidente Donald Trump planeja "invalidar" o acordo sobre o programa nuclear do Irã, em anúncio que será feito na próxima semana, segundo o jornal " The Washington Post".

A informação também foi confirmada depois pela agência Reuters e pela rede de TV CNN, citando funcionários do governo sob anonimato.

O governo Trump tem que informar o Congresso até o dia 15 se a República Islâmica está cumprindo ou não sua parte no acordo nuclear. Segundo o "Washington Post", a ideia é que o presidente faça um discurso no dia 12 para dizer que não reconhece mais o acordo e anunciar uma política mais dura em relação a Teerã.

Com isso, o Congresso teria 60 dias para decidir se impõe novamente as sanções ao Irã suspensas em 2015 —o que representaria a real saída dos EUA do acordo. Os próprios funcionários, no entanto, afirmaram que a decisão de Trump ainda pode mudar.

O presidente nunca escondeu sua insatisfação com o acordo, que chamou de "vergonha" durante seu discurso na Assembleia-Geral da ONU.

Sua posição, no entanto, é vista com ressalva no alto escalão do governo. Nos últimos dias, o comandante do Estado-Maior das Forças Armadas, general Joseph Dunford, disse que Teerã está cumprindo sua parte no acordo, e o secretário de Defesa americano, James Mattis, afirmou que é do interesse dos EUA que Washington permaneça nele.

No último dia 20, chanceleres dos países do P5+1 (EUA, China, Rússia, França, Reino Unido e Alemanha) e do Irã —todas as partes envolvidas no acordo de 2015 se reuniram em Nova York, e os países europeus demonstraram insatisfação com a possibilidade de que Trump decida deixar o acordo.

O premiê israelense, Binyamin Netanyahu, ferrenho opositor do acordo, disse também em discurso na ONU que o acordo deveria perder o artigo que determina a remoção gradativa de restrições ao programa nuclear do Irã ou ser extinto.


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