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Temer, Cunha e Henrique Alves receberam R$ 250 milhões em propina na Caixa, diz Funaro

Publicado em 21/09/2017 12:00 -

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O doleiro Lúcio Funaro afirmou em delação premiada que o presidente Michel Temer (PMDB-SP) e os ex-presidentes da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), atualmente presos, receberam cerca de R$ 250 milhões de propinas em troca da liberação de recursos pelas vice-presidências de Pessoa Jurídica e Fundos de Governo e Loterias da Caixa Econômica Federal. As duas áreas foram controladas pelo PMDB e comandadas pelo ex-deputado e ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDB-BA) e por Fábio Cleto, indicado por Cunha.

Segundo o jornal O Globo, Funaro contou que o ex-deputado cassado atuava como um “banco de propina” para seus colegas da Câmara e, depois, virava o “dono” dos mandatos de quem era beneficiado. O doleiro disse que não sabe o valor exato da propina paga a Cunha, mas que o valor recebido por ele era repartido com Henrique Eduardo, Temer e outros deputados aliados.

O delator contou que a área de Geddel liberou entre R$ 5 bilhões e R$ 8 bilhões em créditos para empresas em troca de vantagens ilícitas. O baiano foi vice-presidente da Caixa entre 2011 e 2014. Segundo Funaro, o ex-deputado recebeu sozinho pelo menos R$ 20 milhões em propina e atuou mesmo depois de deixar o cargo.

O operador financeiro do PMDB disse que os peemedebistas receberam dinheiro em troca da liberação de R$ 3 bilhões da Caixa para o grupo J&F, dos irmãos Joesley e Wesley Batista. A propinava varia de 2,7% a 3,4% da operação, de acordo com o delator. O grupo também recebeu propina de operações do FI-FGTS, intermediadas por Fábio Cleto.

O Palácio do Planalto desqualificou a delação de Funaro. “O valor da delação e das palavras do doleiro Lúcio Funaro é zero, como já registrou a própria Procuradoria-Geral da República.” Procurados pelo Globo, Cunha e Geddel não se manifestaram. A J&F informou que repassou documentos sobre o caso ao Ministério Público. Já a defesa de Henrique Eduardo negou ter recebido propina e desafiou os investigadores a comprovarem o contrário.

Geddel está preso em Brasília. A Polícia Federal atribui a ele a propriedade de R$ 51 milhões recolhidos em caixas de papelão e malas em um apartamento em Salvador. Duas semanas depois da apreensão, o ex-deputado não se pronunciou sobre o dinheiro.

Caixa

Segundo Funaro, o presidente "avalizou" a indicação de Fábio Cleto, em abril de 2011, para ocupar a vice-presidência de Fundos de Governo e Loterias da Caixa.

O doleiro disse no depoimento “que soube por meio de Eduardo Cunha que Michel Temer avalizou a indicação.

Segundo Funaro, a indicação de Cleto tinha o propósito de implantar um esquema de "arrecadação de propina em financiamentos da Caixa Econômica Federal”.

Funaro relatou na delação que não havia percentual fixo para cobrança e divisão da propina, mas disse que, em média, o valor girava em torno de 3% – o percentual variava de acordo com a empresa tomadora do empréstimo e do valor do financiamento, afirmou.

Cleto foi demitido da função em 2015 e era tido como apadrinhado do ex-presidente da Câmara, o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). A demissão, ocorrida no governo Dilma Roussef, foi vista como um “troco” da então presidente a Cunha, então presidente da Câmara, por ter autorizado dias antes a abertura de processo de impeachment da petista.

Depois da demissão, Fábio Cleto também firmou acordo de delação premiada com o Ministério Público. Em depoimentos, o ex-dirigente da Caixa já confirmou que o esquema ilícito no banco rendeu propina a políticos do PMDB.

Esquema no FI-FGTS

Ligado a políticos do PMDB e apontado como operador financeiro do partido nos esquemas investigados pelo Ministério Público e pela Polícia Federal, Funaro narrou no depoimento como se deu o início dos desvios na Caixa e quais foram os políticos beneficiados pelo esquema.

Ele disse que a primeira operação ilícita no FI-FGTS ocorreu em 2009. Segundo Funaro, o desvio resultou em uma propina de R$ 12 milhões, que foi dividida entre ele, Cunha e o atual ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Moreira Franco.

Em troca da propina, afirmou, o grupo Bertin conseguiu recursos do fundo. Funaro disse que essa mesma operação ilícita também gerou "pagamento de propinas futuras" que beneficiaram Michel Temer e outros políticos.

O operador afirmou que esses pagamentos de propinas futuras foram feitos por meio de doações oficiais nas eleições de 2010 para as campanhas de Temer, Cunha e do ex-deputado Cândido Vaccarezza.

Funaro afirmou ainda que o grupo Bertin, beneficiado por ter recebido recursos do FI-FGTS, realizou, ainda, doações para a campanha de Dilma Roussef em 2010 com recursos de caixa 2.


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