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Cultura e Entretenimento

Maria Alice une os Brasis no disco Sertões

Publicado em 19/09/2017 12:00 -

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Maria Alice retorna com um trabalho fonográfico primoroso em que consegue dar unidade a rica diversidade musical brasileira. Em “Sertões – Da Caatinga ao Pantanal”, a cantora reúne 16 músicas que são pérolas do cancioneiro popular, com matizes sonoras bem definidas e que normalmente não se misturam. No entanto, em seu segundo disco solo, Maria Alice prova que estilos de diferentes regiões do país podem conviver em harmonia. Unindo os sertões sonoros do Brasil, o disco traz um repertório de sucessos do Nordeste, do interior paulista-mineiro-goiano e da fronteira sul-mato-grossense. O resultado é um álbum recheado de clássicos que já estão no inconsciente coletivo brasileiro, como “Assum Preto”, “Tristeza do Jeca” e “Merceditas”.

Os arranjos e a direção musical de “Sertões” são do violonista Pedro Ortale. Maria Alice e Pedro já haviam feito juntos o primeiro trabalho da cantora, “No Mundo a Passeio”, em 1997. Desta vez, os instrumentos acústicos dominam os arranjos, com destaque para o violão de 7 cordas e a sanfona de Renan Nonato, que se tornam o elo de ligação de músicas tão aparentemente distantes como “Kalu” e “Amargurado”. A liberdade para a parte instrumental dos arranjos é mais um dos atrativos do disco. Além de Pedro Ortale e Renan Nonato, “Sertões” conta ainda com a participação de excelentes músicos, como Rodrigo Sater (violão), Antônio Porto (baixo), Néio de Jesus (percussão), Marcos Mendes (violão), Ivan Cruz (violão), Maria Cláudia (vocal) e o estreante João Pedro Ortale (percussão), filho de Maria Alice e Pedro Ortale.

Maria Alice trafega com tranquilidade pelo repertório. Ao cantar, por exemplo, verdadeiros hinos nordestinos, como “Sabiá”, “Forró no Escuro” e “Qui Nem Jiló”, Maria Alice deixa aflorar sua veia cearense, já que esta carioca de nascimento foi morar no Estado nordestino com apenas três anos. Ela também mostra a mesma intimidade com clássicos sul-americanos ao interpretar em espanhol e guarani as famosas “Ndéve Guará Santani” e “Merceditas”. Maria Alice frequenta desde criança a fronteira paraguaia, na região de Maracaju, para passar as férias na casa dos avós. A cantora é filha de pai cearense e mãe de Mato Grosso do Sul, Estado onde ela reside desde os 14 anos.

O repertório de “Sertões” reflete este imaginário afetivo “cearense-fronteiriço” de Maria Alice e revela também uma intérprete tarimbada, com experiência vasta como cantora da noite. Não é à toa que ela se mostra segura em arranjos intrincados de Pedro Ortale, pois, por vários anos, cantou ao lado do saudoso Orlando Brito, um dos gênios do violão sul-mato-grossense. Três canções de raízes sertanejas, respectivamente, dos estados de Goiás, São Paulo e Minas Gerais, chamam a atenção pela nova roupagem: “Poeira”, “Rio de Lágrimas” e “Saudade”.

Maria Alice também reforça com “Sertões” o fato de estar entre as principais intérpretes da música autoral sul-mato-grossense. O disco traz uma versão da pioneira “A Matogrossense” com arranjo bem distante do original e uma releitura sensível da guarânia “Sonhos Guaranis”, um hino da população que mora na fronteira sul-mato-grossense com o Paraguai. Ela traz ainda uma versão turbinada de “Peão de Amor”, composição de Celito Espíndola e Alfredo Karam que já havia gravado no primeiro disco. O repertório faz também uma ligação com o compositor paraibano Vital Farias resgatando a leve toada “Sete Cantigas Para Voar”.

Uma das curiosidades do disco é que o encarte não traz as letras das músicas, já que são bastante conhecidas do público, mas informações sobre as composições e seus respectivos autores. “Sertões” foi gravado nos meses de maio e junho de 2017 em Campo Grande (MS) no estúdio Uaná Áudio, pelo músico Marcos Mendes. A mixagem e masterização foram realizadas pelo produtor Cláudio Abuchaim em Goiânia (GO). O design gráfico do disco é assinado pelo artista visual Lula Ricardi e as fotos do encarte de Elis Regina Nogueira. A produção do CD é da Marruá Arte e Cultura.

SERTÕESMARIA ALICE

REPERTÓRIO

 01 – Poeira (Luiz Bonan/Serafim C. Gomes)

02 – Sabiá (Luiz Gonzaga/Zé Dantas)

03 – Forró no Escuro (Luiz Gonzaga)

04 – Tristeza do Jeca (Angelino de Oliveira)

05 – Ndéve Guará Santani (Juan Galeano/Frederico Molas)

06 – Sete Cantigas Para Voar (Vital Farias)

07 – Assum Preto (Luiz Gonzaga/Humberto Teixeira)

08 – Kalu (Humberto Teixeira)

09 – Amargurado (Dino Franco/Tião Carreiro)

10 – Sonhos Guaranis (Almir Sater/Paulo Simões)

11 – Saudade (Mário Palmério)

12 – Rio de Lágrimas (Lourival dos Santos/Tião Carreiro/Piraci)

13 – A Matogrossense (Zacarias Mourão/Flor da Serra)

14 – Merceditas (Ramón Sixto Rios)                                                     

15 – Peão de Amor (Celito Espíndola/Alfredo Karam)

16 – Qui Nem Jiló (Luiz Gonzaga/Humberto Teixeira)


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