19/04/2024 - Edição 540

Mundo

Ex-procuradora da Venezuela diz ser perseguida por denunciar corrupção

Publicado em 25/08/2017 12:00 -

Clique aqui e contribua para um jornalismo livre e financiado pelos seus próprios leitores.

Luisa Ortega Díaz, procuradora-geral destituída pela Assembleia Constituinte da Venezuela, disse na quarta-feira (23) que entregará às autoridades de quatro países, incluindo o Brasil, as provas que incriminam o ditador Nicolás Maduro e seus aliados em casos de corrupção.

A dissidente chavista afirma que, dentre eles, estão as acusações relacionadas à construtora brasileira Odebrecht. O material será entregue também a procuradores de EUA, Colômbia e Espanha.

"Essas provas tenho comigo e vou cedê-las aos Estados para que procedam a investigar as pessoas a que correspondam, a Nicolás Maduro, Diosdado Cabello, Jorge Rodríguez, não somente pelo caso Odebrecht", disse Ortega Díaz, em encontro de procuradores-gerais de países do Mercosul em Brasília.

O constituinte Cabello e Rodríguez, prefeito de Libertador (município mais populoso do país), são considerados os dois principais dirigentes do chavismo depois de Maduro.

Pela primeira vez, a ex-procuradora relatou que tem provas de que Cabello recebeu US$ 100 milhões da Odebrecht por meio de uma empresa espanhola registrada em nome de seus primos. "No caso Odebrecht detectamos que a Diosdado Cabello depositaram US$ 100 milhões na empresa espanhola denominada TSE Arietis."

A companhia associou-se à Odebrecht no consórcio para a construção de uma linha de metrô e tem contratos com a petroleira estatal PDVSA.

Cabello nega as acusações e ironizou a ex-aliada: "Você não pode investigar mais ninguém porque já não é mais procuradora", disse. "Disse que Maduro é dono de sei lá o quê dos Clap [programa de cestas básicas do governo] Por que você não investigou quando era procuradora, minha rainha? Parece que você está louca."

Segundo a procuradora deposta, há 11 obras da Odebrecht paralisadas em seu país —no início do mês, ela acusou o governo de ter pago US$ 30 bilhões à empreiteira pelas obras inacabadas.

Ela, porém, diz não ter detectado a participação de políticos brasileiros nos crimes.

Sobre Maduro, Ortega Díaz diz que o ditador é dono de uma empresa no México da qual o regime importa a comida para as cestas básicas de seu programa de venda de alimentos escassos no país.

As informações reveladas não têm ligação com os acordos de delação e leniência da Odebrecht. Os advogados da empresa se reuniram pelo menos duas vezes com Ortega Díaz quando ela ainda estava no cargo —uma em Brasília e outra em Caracas— na tentativa de fechar uma colaboração premiada.

Porém, as conversas não avançaram porque medidas contra ativos e pessoas da empresa continuaram a ser tomadas pelo governo. Uma delas foi o pedido de prisão de Euzenando Prazeres de Azevedo, que foi diretor da empreiteira no país.

Procuradores venezuelanos que trabalharam com Ortega chegaram a viajar para o Brasil no começo de agosto para ouvir o marqueteiro João Santana e a mulher dele, Mônica Moura, sobre campanhas realizadas no país.

Em sua delação, Mônica afirmou que a Odebrecht pagou "por fora" US$ 11 milhões pela campanha de Hugo Chávez à reeleição, em 2012.

Ortega chegou ao Brasil na noite de terça (22) acompanhada por assessores e pelo marido, o deputado Germán Ferrer. Eles estavam desde a última sexta (18) na Colômbia, onde ela quer se asilar.

O ministro das Relações Exteriores brasileiro, Aloysio Nunes Ferreira, também ofereceu asilo à ex-procuradora, mas ela afirmou que pretende permanecer na Colômbia.

Pelo acordo feito com o Departamento de Justiça dos EUA, a Odebrecht teria pago US$ 98 milhões a políticos venezuelanos —montante menor só ao pago no Brasil.

Janot

Na abertura do evento na PGR, a 22ª Reunião Especializada de Ministérios Públicos do Mercosul, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, destacou o apoio das instituições da região a Ortega, tratada como a "legítima procuradora-geral" da Venezuela.

"Assistimos a um estupro institucional do Ministério Público venezuelano. Sem independência, o Ministério Público do nosso vizinho ao norte não tem mais condições de defender os direitos das vítimas e acusados nem de conduzir investigações criminais ou atuar em juízo com isenção", disse Janot.

Para ele, a destituição de Ortega pela Assembleia Constituinte foi "ilegítima" e a própria Assembleia foi "escolhida num processo eleitoral recheado de suspeitas de fraudes". Janot disse ainda que o governo venezuelano tem características ditatoriais.

Outro Lado

A Odebrecht nega que as 11 obras na Venezuela estejam paralisadas. "O ritmo das obras em execução acompanha o cronograma de pagamentos dos clientes locais."

Em nota, a empreiteira disse que "está colaborando com a Justiça no Brasil e nos países em que atua" e que "já reconheceu os seus erros […] e está comprometida a combater e não tolerar a corrupção em quaisquer de suas formas".

CRONOLOGIA
Luisa Ortega Díaz

16.fev
Enquanto estava em reunião no Brasil sobre caso Odebrecht, sua enteada é sequestrada; procuradora elenca crime como motivo para se opor a Maduro

31.mar
Chama decisão judicial que cassava poderes do Legislativo opositor de 'ruptura constitucional'; sentença foi revertida

22.mai
Critica convocação da Constituinte por não ser submetida a plebiscito prévio; dois dias depois, acusa Guarda Nacional de matar manifestante

8.jun
Pede à Justiça anulação da Constituinte; diante de negativa, solicita a impugnação dos juízes do Tribunal Supremo de Justiça, que reabre investigação contra ela

12.jul
Anuncia única acusação no caso Odebrecht

5.ago
É deposta na primeira sessão da Constituinte

16.ago
Sai da Venezuela após Justiça ordenar prisão de seu marido, Germán Ferrer, por suposta rede de extorsão


Voltar


Comente sobre essa publicação...

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *