18/04/2024 - Edição 540

Entrevista

Entrevista: Estevão Rizzo, especialista em marketing digital.

Publicado em 02/05/2014 12:00 -

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Hoje, qualquer passo dado na internet é registrado pelo Google ou pelo Facebook. A privacidade da rede é um mito. Ainda sim, bilhões de pessoas mundo afora não abrem mão de interagir no mundo digital. Diante desta realidade, políticos e empresas precisam se adequar para não fazer feito nestes ambientes. Para falar destes e outros temas relacionados entrevistamos Estevão Rizzo, Diretor de marketing e novos negócios do Grupo WTW e especialista em marketing digital.

 

Por Victor Barone

Os políticos brasileiros estão preparados para falar com o eleitor nas redes sociais?

Desde a famosa eleição de 2004, quando Obama foi eleito, as pessoas olham a relação entre internet e politica de uma forma diferente. No entanto, 10 anos depois, esta realidade ainda não chegou ao Brasil. Um dos exemplos foi a presidente Dilma, que na eleição passada entrou com bastante força nas redes sociais. O último tweet dela, após a eleição, foi algo tipo: “Estou muito feliz de conversar com vocês por este canal, espero que continuemos conversando”. Foi, literalmente, o último tweet dela até este ano. O que isso passa para o eleitor? Que o político só quer usar a internet para ganhar voto. Isso é muito ruim. Se você entra em contato com um político nas redes sociais e percebe que ele não responde aos contatos, apaga mensagem do perfil, fica claro que se trata de alguém que não está interessado em uma conversa bilateral. Deste ponto de vista, acho que nossos políticos ainda não estão preparados.

Até que ponto as redes sociais podem ser importantes dentro de uma campanha?

Há o broadcast, que é a mídia de massa, e há a mídia de nicho. A internet é uma mídia que vai ter uma importância para um público específico. Para o candidato a vereador ou deputado ela é mais efetiva. Este cara tem uma plataforma que pode ser trabalhada na internet para atingir um público específico. Quando você faz mídia para a TV, você fala para todo mundo em um único discurso. Na internet você consegue emitir um discurso para cada público. Esta é uma das grandes vantagens. Para um candidato a vereador que tenha uma bandeira específica, a internet é linda. Ele encontra aquele público nas redes sociais e se comunica diretamente com ele.

A comunicação bidirecional é fundamental neste ambiente?

Sim. Os políticos sempre precisaram falar com os eleitores através da mídia. O político falava, o jornalista interpretava e difundia a mensagem. A rede social deveria ser vista pelo candidato como algo extremamente positivo para ele, pois é a chance que ele tem de ir direto ao eleitor. Mas, isso não é usado, pois o cara ainda acha que esta na rede social fazendo broadcast. Ele entra no Facebook para replicar a mesma mensagem que usou na TV. Usa uma estratégia de falar para todo mundo ao invés de mandar diversas mensagens para públicos diferentes, usando ferramentas diferentes. Se ele vai falar com um público adolescente, ou jovens, por exemplo, o snapchat tem uma linha de comunicação direta. Tem que pensar nas pessoas como indivíduos.

O hábito de apagar mensagens críticas é ainda muito comum entre políticos e empresas presentes nas redes sociais…

Sim. Qualquer mensagem crítica pode ser usada em seu benefício. Se uma pessoa reclamou, tem outras 200 pensando da mesma forma. Então, que se aproveite a reclamação para mandar uma mensagem para todos os que comungam desta crítica. Na internet há uma pirâmide: 90% veem, 9% interagem e 1% escreve. Este cara que reclama é 1% do seu público na rede. Você tem outros 99% que podem ser impactados com uma única resposta. Deixa a reclamação, aproveita este espaço.

Se você entra em contato com um político nas redes sociais e percebe que ele não responde aos contatos, apaga mensagem do perfil, fica claro que se trata de alguém que não está interessado em uma conversa bilateral.

Imaginar que o politico vá, ele mesmo, exercer este papel de interação com o internauta é ilusório. Sabemos que é necessária uma estrutura para isso. Hoje as empresas de comunicação estão preparadas para fazer este papel, ou há um excesso de conhecimento técnico e pouco conhecimento politico?

A gente já trabalhou em eleição e contratamos jornalistas e especialistas em politica para fazer parte da equipe. Tudo que era planejado era debatido com estes estrategistas. Vamos falar isso, o cara vira e diz: não, você não pode falar isso pois este político tem uma vertente assim ou assado. Precisamos deste consultor externo. Não conheço nenhuma agência de marketing digital especializada em politica no Mato Grosso do Sul.

O conhecimento de que a interação se dá com um preposto não é um fator que deslegitima as redes sociais como uma ferramenta de contato direto entre eleitor e político?

Eu pensava exatamente assim. Depois passou. As pessoas sabem que quando conversam com o Mcdonad’s na internet não é a entidade Mcdonald’s que responde. Mas, o que interessa para as pessoas hoje é que aquela mensagem exerça alguma mudança. Já atendemos um político que queria um relatório diário das redes sociais sobre o que as pessoas estavam falando dele. Ele olhava o relatório, respondia as perguntas, e nós publicávamos. Durante a eleição nós o entrevistamos, reunimos respostas sobre diversos assuntos e trabalhávamos este material. O importante é que a pessoa esteja recebendo a comunicação. Não digo que isso ocorre sempre, ate porque numa eleição a correia é gigantesca.

Rede social na internet é lugar para debater politica?

Creio que qualquer lugar é lugar para debater politica. As redes sociais são uma extensão do mundo físico. O Facebook é como se fosse uma roda de bar.  Assim como você senta num bar para bater papo sobre política, você o faz no Facebook.

Que impacto as redes sociais terão nas próximas eleições?

O PT fez um evento imenso, que eles chamaram de Campus Party do PT. Reuniram gente de todo o Brasil para um internato de vários dias só sobre internet. Eles estão formando militantes digitais que terão a função de voltar aos seus estados e multiplicar mais militantes digitais. Não acredito que a internet será o fator decisivo de uma eleição para governador, mas se o candidato não tiver uma estrutura para lidar com isso, ela pode ser usada como uma vantagem. Há também a questão dos influenciadores, aquelas pessoas que, por estarem na net constantemente costumam ter mais acesso a informação. Estas pessoas são quem transmitem a informação aos demais. Se o candidato não se preocupar em influenciar o influenciador estará perdendo uma oportunidade. Hoje, 60% da população brasileira usa a internet semanalmente. É a parte economicamente ativa da sociedade. O quanto isso será significativo nestas eleições é difícil de mensurar.

Qualquer lugar é lugar para debater politica. As redes sociais são uma extensão do mundo físico. O Facebook é como se fosse uma roda de bar.  Assim como você senta num bar para bater papo sobre política, você o faz no Facebook.

As redes sociais estão aí para ficar. As plataformas podem mudar, mas o conceito permanecerá. Quais as tendências quando se fala em redes sociais na internet?

O Facebook já é a plataforma de conexão de pessoas do mundo todo. Fala-se em 1,2 bilhões de usuários ativos. Foi a primeira plataforma de redes sociais a abraçar as empresas, criando as Fanpages e os mecanismos de divulgação. Quando começamos a trabalhar com o Facebook, chegamos a ter um impacto de 60% da base de fans. Isso caiu para 40%, 20%, 15% e agora fala-se em 2%, o que está causando um rebuliço no mercado. Se este impacto caiu tanto, quem vai suplantar este espaço? Sinceramente, não vejo ninguém hoje. O Google Plus não foi bem visto, o Twitter, embora seja uma rede excelente, não faz a função do Facebook, assim como não o fazem o Pinterest, o Snapchat, o Whatsup, o Linkedin e o Instagram. Não vejo um substituo natural para o Facebook.

As empresas podem se dar ao luxo de ficar fora das redes sociais?

As empresas não estão fora das redes sociais. Mesmo as que não estão oficialmente lá. As pessoas falam delas nas redes sociais. Em Mato Grosso do Sul, por exemplo, há um grupo no Facebook chamado “Onde não ir em Campo Grande”. Há uma serie de empresas que estão sendo reclamadas lá e que não estão presentes para responder. Muitas vezes entra o dono, sem preparo, e fala uma besteira, uma coisa impensada devido à irritação. As empresas, quer elas queiram quer não, já estão na internet. A questão é se elas estão lá como empresa para responder e fazer sua comunicação. Não é uma questão de opção.

Quais são os limites para que se possa usufruir das redes sociais sem ter a privacidade devassada?

Há duas empresas brigando para ser o big brother do mundo, para assumir aquela função de olhar tudo o que você faz e cercear seus limites: o Google e o Facebook. Ambas vistoriam tudo o que você faz na internet. Portanto, acho que não existe privacidade na internet. O Facebook e o Google sabem tudo de você, mesmo aquilo que você não quer contar. Eles rastreiam sua navegação. Se você acessa um site de pornografia, se você comprou qualquer coisa, o Google e o Facebook sabem. Tem o exemplo de um pai que foi a uma loia americana chamada Target reclamar que a filha de 16 anos tinha recebido um folhetinho de material para grávidas. Duas semanas depois ele pediu desculpas à loja, pois a filha dele estava grávida. A loja sabia antes do pai que a filha estava grávida, pois ela acessou uma série de sites relacionados. Google e Facebook trabalham com algoritmos de identificação de navegação. Quando você procura um carrinho de bebê, pode ser para presente, mas se você entra na sequencia procurando suplemento vitamínico, fralda etc., ele vai entender: esta mulher esta grávida. Portanto, esta privacidade já não existe. Num segundo nível há o fato de que estamos cercados de câmeras por todos os lados. Gente tirando foto para o Instagram, para o Facebook. Aqui em Campo Grande presenciei uma cena engraçada. Estava num barzinho e, de repente, passa uma menina enlouquecida flagrando o namorado com uma mulher na mesa. Uma pessoa no bar tirou uma foto, colocou no Instagram, e ao fundo estava o namorado dela com a moça. Com este montante de exposição é quase impossível ter privacidade. No atual nível das coisas, se você quiser que alguém não saiba de alguma coisa a seu respeito, a única saída é não fazer tal coisa.

É uma perspectiva apavorante, pois limita totalmente as possibilidades de privacidade. Seria necessária uma regulamentação mais arrochada em relação a esta exposição?

Hoje, quando você libera toda a sua navegação para o Facebook e para o Google, eles começam a te dar respostas mais inteligentes. Tenho um celular do Google. Eu não informei a ele que tenho uma viagem de avião, mas ele identifica que chegou um e-mail da empresa aérea no meu celular e já joga a informação para mim. Estes dias eu ia perder um voo e o Google me avisou: se você não sair agora vai perder o avião. Isso para mim é muito positivo. Mas, estou abdicando da minha liberdade para ter isso. Há e-mails não rastreados, você pode manter uma conta de Facebook e não conectar sua navegação ao Google, pode usar uma janela anônima do Google para não ter os dados rastreados. Há toda uma gama de possibilidades. A grande pergunta é: você quer?

Ouça a entrevista na íntegra.


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