29/03/2024 - Edição 540

Meia Pala Bas

A falácia do Estado mínimo

Publicado em 14/07/2017 12:00 - Rodrigo Amém

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Não existe tradição mais americana do que desconfiar do governo. O país foi fundado sob o preceito de revolta contra a autoridade governamental e a cobrança de impostos.

Não é de se espantar que os Republicanos, do partido coxinha lá de cima, tenham um pé firmemente fincado na teoria do Estado Mínimo. Lá, quem é fiscalmente conservador acredita que "não há almoço grátis" e ninguém tem que pagar pela assistência aos "párias da sociedade".

Os americanos que votaram no Trump querem que ele corte impostos e acabe com as intromissões do governo na economia (acham absurdo o governo fiscalizar qualidade de produtos, por exemplo). Também querem a adoção de uma política protecionista. Fronteiras fechadas. Além da volta dos empregos nas carvoarias (americano tem tesão em trabalhar em carvoaria).

Sabe aquela história do "cuidado com o que desejas"? Também poderia ser chamada de "sonho americano". Quando o resto do mundo ainda se recuperava da Segunda Guerra, as empresas de lá usaram o vasto meio-oeste para implantar seu parque industrial. Produziram carros, armamentos, eletrodomésticos. Sem competição direta dos países arrasados, é claro que os EUA viraram uma potência.

Mas no segundo em que Índia e China se tornaram competidores, as mesmas companhias correram atrás da mão de obra barata. As aprazíveis cidadezinhas norte-americanas perderam a razão de ser. Ficaram insustentáveis, para usar um termo da moda. Sem fábrica e sem sustento, o americano do interior se viu num mato sem emprego.

O governo tem que ser grande o suficiente para se meter na economia, subsidiar petróleo, gás natural, agronegócio e taxar a competição direta com produtores de outros países. Mas não pode subvencionar assistência médica para gestantes de baixa renda. Ou seja, quando se trata de meus interesses, é assunto estratégico. Quando é do interesse dos outros, é inchaço estatal.

Quem vai ajudar? O Estado tem que trazer os empregos de volta e "make America great again"! E esse é o paradoxo do eleitor do Trump. Querem que a economia volte a crescer sem interferência do Estado, mas assegurada pela interferência do Estado. Para o eleitor de Trump, Estado mínimo é o nome politicamente correto para "o meu pirão primeiro".

Na prática, o que eles defendem é o que eu chamo de Estado Mínimo Alheio. Para esses libertários, o governo tem que ser grande o suficiente para se meter na economia, subsidiar petróleo, gás natural, agronegócio e taxar a competição direta com produtores de outros países. Mas não pode subvencionar assistência médica para gestantes de baixa renda. Ou seja, quando se trata de meus interesses, é assunto estratégico. Quando é do interesse dos outros, é inchaço estatal.

A teoria do Estado mínimo desembarcou com força em Viracopos. O famigerado "Ministério da Pesca" era o costumeiro saco de pancada, exemplo de governo inútil. Como se o ministério em questão não tivesse proporcionado o atual prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, este grande robalo.

Já estamos cortando serviços "desnecessários". Secretarias de ação social deixam de existir, UPP é esvaziada, Hospitais e escolas fechando as portas… Sabe o que não é reduzido? Verba de gabinete. Nunca. Engraçado, né?

Eu sou a favor do Estado mínimo, desde que eficiente e justo. Um Estado, por exemplo, sem isenção de impostos para religiões, sem Petrobrás e sem BNDES, o cofrinho particular da elite brasileira. Não acredite, amigo eleitor, em candidato que fala em reduzir o inchaço do Estado diminuindo verba para cultura e educação. Essa é a falácia do Estado mínimo: só é mínimo para os outros. Para os amigos, ele não tem tamanho.

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Victor Barone

Jornalista, professor, mestre em Comunicação pela UFMS.


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