28/03/2024 - Edição 540

Entrevista

Bolsonaro representa a extrema-direita e é intolerante

Publicado em 20/06/2017 12:00 -

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O senador Pedro Chaves (PSC) assumiu nos últimos dias a vice-presidência da Comissão de Ética do Senado, onde terá a difícil missão de conviver com o joio e com o trigo, já que um terço dos componentes da Comissão é investigado pelo STF (Supremo Tribunal Federal). Os holofotes também estarão sobre ele agora que Chaves se propôs a intermediar o conflito entre indígenas e produtores rurais em Mato Grosso do Sul.

Estar em evidência será positivo já que o senador afirma estar sendo consultado por vários partidos no intuito de uma possível candidatura ao governo do Estado em 2018. “Estes partidos têm me procurado, pedindo para que articulemos uma frente ampla para lançar meu nome ao governo do Estado”, garante.

Se sua candidatura dará ou não um palanque ao candidato da legenda à presidência da República, o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ), é uma incógnita. Para Chaves, Bolsonaro está desconfortável no PSC, representa a extrema-direita e é intolerante às diferenças, o que dificultaria a composição de um arco de alianças mais robusto.

Chaves se diz favorável a Reforma Trabalhista, especialmente no que se refere ao acordado sobre o legislado. “Vai gerar mais empregos e investimentos”, opina o senador. Em relação a reforma da Previdência, no entanto, ele se posiciona de forma menos benevolente aos interesses do Governo Federal e do empresariado. “Sou contra, é perversa”, conclui.

 

O senhor pretende disputar o governo do Estado?

A princípio, a minha pretensão é concorrer à reeleição para o Senado, mas há vontade de um grupo político de que eu lance meu nome para o governo. São mais de dez partidos que têm me procurado pedindo para que articulemos uma frente ampla para lançar meu nome ao governo do Estado. Sou empresário, trabalhei muitos anos na atividade produtiva, tenho muito conhecimento do Estado de Mato Grosso do Sul.

Como o senhor vê a possibilidade de candidatura do deputado federal Jair Bolsonaro à presidência da República?

O Bolsonaro é uma pessoa que, em que pese ter o seu valor, é bastante radical, isso dificulta sua penetração em camadas importantes da população. Ele é importante no Congresso Nacional, faz o seu papel, representa um segmento da extrema direita, mas para a presidência da República é necessário alguém com um perfil diferente. Uma pessoa com flexibilidade, que seja suprapartidária, que tenha acessibilidade à população mais humilde, uma visão mais humana, de distribuição de renda, que tenha maior tolerância, que compreenda que política é o ato de governar os desiguais, que é importante conviver com a diferença. Ele é intolerante em relação a isso. O perfil dele é para o Legislativo.

O Bolsonaro, em que pese ter o seu valor, é bastante radical, isso dificulta sua penetração em camadas importantes da população. Ele representa um segmento da extrema direita.

Mas, ele não acaba incorporando esta imagem intolerante ao próprio partido?

Ele está no PSC (Partido Social Cristão) de uma forma muito desconfortável, tanto para ele quanto para o partido, porque a linha programática do PSC é diferente dessa que ele prega. A extrema direita não condiz com o partido. O partido é eclético, pluralista, tem todas as correntes. Do pluralismo nós obtemos a unidade, ele realmente é um discordante.

O senhor se prontificou a mediar o conflito entre indígenas e produtores rurais em Mato Grosso do Sul. Que tipo de mediação o senhor poderia fazer para alcançar uma solução para esse impasse?

É preciso uma atitude mais firme do governo federal. Gosto de mediar, acho que a virtude está no meio. As comunidades indígenas têm direito a viver de forma que possam contemplar sua cultura e ter acesso à educação, saúde, saneamento, etc. Por outro lado, sou totalmente favorável aos produtores rurais, eles são fundamentais. O agronegócio tem segurado o PIB (Produto Interno Bruto) no país. Portanto, acho que deve haver uma convivência pacífica. Se por um lado é necessário que o governo estimule a produção, por outro ele tem que dar condições de vida para as comunidades indígenas que estão sobrevivendo de forma muito difícil. Uma saída seria desapropriar algumas terras e remunerar a terra nua e também as benfeitorias. Isso traria justiça, desde que essa desapropriação seja feita por preço de mercado.

Essa proposta tem sido discutida há muito tempo e esbarra na questão financeira.

Penso que não se chega ao preço justo porque, às vezes, o produtor rural avalia a terra muito acima do preço de mercado. Com esse projeto de venda de áreas para os estrangeiros, que está no Senado, e deve gerar valores significativos, parte desse recurso pode servir para a desapropriação dessas terras em conflito. Além disso, é preciso ter equipes sérias que avaliem às benfeitorias, bem como a terra nua. É possível chegar a preço justo com uma avaliação de uma auditoria independente. Penso que assim os fazendeiros possam abrir mão, desde que recebam o preço justo, de mercado.

O senhor assumiu a vice-presidência da Comissão de Ética do Senado. É um grande desafio. Especialmente quando um terço dos senadores que compõem a Comissão está sendo investigado pelo STF (Supremo Tribunal Federal). O que o senhor pensa disso?

É uma situação desconfortável. O problema é que não estão na fase da investigação, não foram condenados, e nem considerados réus. Acho que aquele que for considerado réu não pode jamais participar da equipe da Comissão de Ética. É desconfortável.

Qual seu posicionamento em relação a Reforma Trabalhista?

O importante é que ela não pode ferir direitos do trabalhador, mas também é necessária uma atualização. Nossa legislação trabalhista é de 1943. Vamos analisar profundamente o texto que chegará ao Senado. O importante é que a reforma não pode ferir os direitos dos trabalhadores.

Qual a sua posição sobre o mediado sobre o legislado?

Sou totalmente favorável, acho que o que é pactuado entre o trabalhador, o seu sindicato e a empresa tem que ser honrado. O Código Cívil diz que qualquer contrato entre pessoas, depois de registrado, tem valor legal. Acho que o que é proposto, combinado, deve estar acima do Legislado.

É uma situação desconfortável (o fato de um terço dos senadores que compõem a Comissão está sendo investigado pelo STF). Aquele que for considerado réu não pode jamais participar da equipe da Comissão de Ética.

O patrão não ficará à vontade para escolher entre aquele trabalhador que aceita menores salários e piores condições?

Penso que não. O Brasil é campeão de baixíssima produtividade, precisamos melhorar este aspecto. É óbvio que o trabalhador de boa qualidade, competente, jamais o empregador terá interesse de dispensá-lo. A legislação trabalhista é extremamente paternalista, impede a implantação de novas empresas, provoca mais desemprego. Esta mudança vai gerar mais emprego, novos investimentos de grupos nacionais e internacionais.

E em relação a reforma da Previdência?

Sou contrário. Creio que os direitos adquiridos pelo trabalhador são alienáveis. Da maneira que está colocada é muito perversa e prejudica muito o trabalhador.

Na sua opinião, qual seria a reforma política adequada e possível?

Meu ponto de vista pessoal é que deve-se acabar com instituto da reeleição, acho que o mandato deve ser de cinco anos, que não deve mais haver coligações, deve-se evitar o voto proporcional: quem tem mais votos deve assumir. São pontos fundamentais. Acho também que fidelidade partidária é essencial. Por isso sou a favor da verticalização. Não há sentido em uma aliança a nível federal e outra a nível estadual.

Qual é o futuro do governo Temer?

Há uma acusação contra o Temer que é muito grave. Temos que ver qual vai ser o desenlace dessa investigação. Não o vejo em uma situação confortável, principalmente com as novas delações, do Rocha Loures, do próprio Palocci. Temos que aguardar os próximos dias, penso que em breve será definida de forma clara e irreversível a situação dele.


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