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Theresa May forma governo com sigla pequena após revés em eleição

Publicado em 09/06/2017 12:00 -

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Após os surpreendentes resultados das eleições britânicas de quinta-feira (8), a primeira-ministra conservadora, Theresa May, vai tentar salvar seu cargo formando uma aliança com um pequeno partido norte-irlandês.

Ela foi ao palácio de Buckingham na sexta (9) para reunir-se com a rainha e convencê-la de que terá apoio o suficiente para governar. Na saída, disse que "agora é hora de trabalhar", prometendo "certeza" ao futuro político.

O Partido Conservador recebeu 318 assentos, mas é necessário ter ao menos 326, que no Parlamento correspondem à metade dos 650 disponíveis mais um. Em segundo lugar, o Partido Trabalhista, terá 261 cadeiras.

May anunciou ter travado um acordo com o DUP (Partido Unionista Democrático), da Irlanda do Norte, que tem 10 assentos –somando assim 328.

"Continuaremos a trabalhar com nossos amigos e aliados no DUP, em particular", declarou May. "Nossos dois partidos desfrutaram uma relação forte durante muitos anos e isso me dá confiança para acreditar que seremos capazes de trabalhar juntos pelos interesses de todo o Reino Unido."

O DUP justificou seu apoio como uma maneira de impedir que o líder trabalhista, Jeremy Corbyn, chegue ao poder. Corbyn tem boas relações com nacionalistas norte-irlandeses, rivais do DUP –partido que defende a permanência da Irlanda do Norte no Reino Unido.

Impacto

Os resultados da quinta-feira foram especialmente impactantes para May, que havia antecipado as eleições em abril passado para ampliar sua maioria parlamentar, então de 330 assentos.

Com o fiasco –ela perdeu cadeiras, em vez de ganhar– crescem os pedidos para que renuncie ao cargo, o que por ora ela se recusa a fazer.

O direito da primeira tentativa de formar um governo cabe aos conservadores, que venceram as eleições, mesmo sem chegar à maioria.

Se falharem, a prerrogativa passa aos trabalhistas, que anunciaram sua disponibilidade durante a manhã.

"Nós vamos nos apresentar para servir o país e formar um governo de minoria", disse John McDonnell, um porta-voz trabalhista. "A razão para isso é que eu não creio que os conservadores sejam estáveis, e que a primeira-ministra seja estável."

A instabilidade política fez com que a libra esterlina chegasse a seu valor mais baixo em relação ao euro em cinco meses, 1,1322 euro.

Opções

O cenário em que um partido não tem a maioria para governar é conhecido no Reino Unido como "hung Parliament", que significa um "Parlamento suspenso".

A primeira-ministra pode, em tese, manter-se na chefia até a primeira reunião do Parlamento na semana que vem, quando precisará encontrar uma fórmula para governar sem a maioria.

Nesse cenário, se May quiser manter o cargo, ela terá poucas alternativas. Ela pode, por exemplo, formar coalizão com partidos menores.

Ela precisaria acenar aos pequenos partidos na Irlanda do Norte, mas provavelmente seria boicotada pelo restante do Parlamento.

Outra saída é um acordo de confiança, em que negocia apoio das siglas em troca de políticas –mas elas não recebem cargos no governo, diferentemente da coalizão.

May pode, por fim, tentar governar em minoria, negociando os votos no Parlamento caso a caso. Mas a posição seria bastante frágil.

Caso fique claro que ela é incapaz de fechar qualquer um desses acordos, o manual parlamentar sugere que ela renuncie e assim abra caminho para o segundo colocado, o Partido Trabalhista.

O que o Partido Trabalhista propõe, por enquanto, é formar seu próprio governo de minoria -mas por ora descarta ter uma coalizão.

Os parceiros naturais seriam os nacionalistas escoceses e os Liberais Democratas, mas há uma divergência séria. Esses dois partidos se opõem ao "brexit", a saída britânica do Reino Unido, enquanto os trabalhistas aceitam esse processo.

A última vez em que o Reino Unido teve um "Parlamento suspenso" foi em 2010, no que levou à primeira coalizão desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

Era a aliança dos conservadores e os Liberais Democratas, que pouco provavelmente vão voltar a se unir.

Jovens

Os pedidos para a renúncia de May se concentram na avaliação de que, em primeiro lugar, não deveria ter convocado as eleições –quis ampliar a margem parlamentar quando não precisava.

Sua campanha foi também bastante criticada por, entre outras coisas, ter se mantido distante dos eleitores. Enquanto Jeremy Corbyn mobilizava multidões em seus comícios, May se recusava a participar de debates públicos e na televisão.

Corbyn foi favorecido pelo que parece ser uma alta participação dos jovens, sua base eleitoral. A porcentagem de britânicos entre 18 e 34 anos que votaram subiu 12 pontos em relação a 2015, segundo pesquisas de boca de urna disponíveis -e 60% deles votaram nos trabalhistas.


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