20/04/2024 - Edição 540

Meia Pala Bas

A maldição das Matrioskas

Publicado em 19/05/2017 12:00 - Rodrigo Amém

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Os americanos já estão falando de impeachment de Trump. E o pior é que o presidente deles já fez tanta bobagem que é difícil resumir exatamente o porquê. Parlamentares brasileiros certamente recorreriam ao bordão "pelo conjunto da obra".  E a maioria da população, frustrada por não viver numa democracia onde quem tem o mais votos ganha, quer dar um #TchauQuerido.

Os americanos estão jogando contra o próprio patrimônio.

Existem boas razões para não gostar de Trump. Trata-se de um péssimo ser humano. Mas sua maior qualidade é a própria incompetência. De suas promessas de campanha, ele já tentou todas e cumpriu zero. Não conseguiu banir muçulmanos, acabar com o Obamacare, aprovar uma reforma tributária, financiar seu muro na fronteira contra o méxico… o cara é o supra sumo da inoperância. Todo dia ele dá um chilique no twitter e, no olho do furacão da polêmica diária, ninguém consegue fazer nada na Casa Branca.

Caso fosse afastado, Trump seria substituído pelo vice Mike Pence, que é uma versão neo pentecostal do Michel Temer. Discreto, conservador, reacionário ao extremo, Pence tem o perfil do conservador que é capaz de colocar as reformas da agenda republicana em pauta sem fazer muito alarde. Pence teria êxito em transformar em realidade os pesadelos prometidos por Trump.

Em comum, além dos egos e da letra T, Temer e Trump têm a maldição das Matrioskas. Aquelas bonecas russas, que se abrem ao meio e outra idêntica se esconde no seu interior e assim por diante. A diferença é que, com essa dupla, quanto menor a bonequinha, pior a coisa fica.

No Brasil, vivíamos essa síndrome do vice-presidente kamikazi. Dando uma banana para a opinião pública, Temer empurrava as reformas trabalhistas e previdenciárias como se não tivesse sido eleito em uma plataforma política diametralmente oposta. O tipo de cinismo que só os 30 anos de parasitismo fisiológico do PMDB podem nos oferecer.

Mas aí um cheiro podre que exalou da JBS e,  desta vez, não era a carne. Na gravação abafada, identificamos nosso querido presidente usando suas mesóclises para conspirar sobre propinas e cala-bocas. Os indignados de diversas colorações políticas pedem sua renúncia. Mas renúncia é vocabulário de quem tem mais noção que vaidade. Não é o caso.

Os brasileiros estão jogando contra o próprio patrimônio.

Impeachmado, assume o inacreditável Rodrigo Maia que dá lugar ao assombroso Eunício Oliveira, ambos do PMDB, a Hydra brasileira. Aí o plano é convocar eleições indiretas e estender o pesadelo fisiológico por um novo mandato. Inteirinho.

Em comum, além dos egos e da letra T, Temer e Trump têm a maldição das Matrioskas. Aquelas bonecas russas, que se abrem ao meio e outra idêntica se esconde no seu interior e assim por diante. A diferença é que, com essa dupla, quanto menor a bonequinha, pior a coisa fica.

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Victor Barone

Jornalista, professor, mestre em Comunicação pela UFMS.


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