19/04/2024 - Edição 540

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Ameaçado de impeachment, Trump diz que é vítima de caça às bruxas

Publicado em 19/05/2017 12:00 -

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O presidente dos EUA, Donald Trump, disse nesta semana que é alvo da "maior caça às bruxas" da história do país, após a indicação de um conselheiro especial para investigar a ligação de membros de sua equipe com a Rússia durante a campanha eleitoral.

"Esta é a maior caça às bruxas a um político na história americana", escreveu o republicano no Twitter. "Com todos os atos ilegais da campanha de Clinton e do governo de Obama, nunca um conselheiro especial foi indicado!"

A frase foi repetida horas depois em entrevista coletiva ao lado do presidente colombiano, Juan Manuel Santos, na Casa Branca. Na ocasião, Trump repetiu que não houve contatos com o governo russo —acusado de ter interferido nas eleições para favorecer o republicano— durante a campanha.

"Não houve conluio, e todo mundo, inclusive os meus inimigos, disseram que não houve conluio", disse, completando que as revelações e acusações contra ele "dividem o país". "Temos um país muito dividido por causa disso e de outras coisas."

Trump ainda respondeu de forma ríspida ao ser questionado se pediu ao ex-diretor do FBI James Comey que encerrasse a investigação sobre Michael Flynn, seu conselheiro de Segurança Nacional no início do governo: "Não. Não. Próxima pergunta".

Na última terça-feira (16), o "New York Times" revelou que Comey escreveu um memorando no qual descreve o pedido feito por Trump para "deixar para lá" o caso de Flynn. Comey, que estava à frente da investigação sobre os possíveis elos de assessores de Trump com Moscou, foi demitido no último dia 9.

O governo justificou a decisão com base em uma carta do vice-secretário de Justiça, Rod Rosenstein, afirmando que o ex-diretor errou ao não recomendar, em 2016, o indiciamento da ex-secretária de Estado Hillary Clinton pelo uso indevido de e-mails.

Numa sessão fechada no Senado nesta quinta, no entanto, Rosenstein disse que sabia que Trump planejava demitir Comey antes mesmo de escrever a carta apontando as razões para sua saída. A informação foi revelada por senadores democratas aos jornalistas.

Rosenstein foi o responsável por apontar o ex-diretor do FBI Robert Mueller para ser o conselheiro especial na investigação sobre Rússia, após intensa pressão da oposição. A decisão do vice-secretário de Justiça, que não precisa do aval da Casa Branca, foi informada a Trump pouco antes de ser anunciada à imprensa, na quarta.

Segundo Rosenstein, nas atuais circunstâncias, que seriam "únicas", "o interesse público exige que eu ponha a investigação sob a supervisão de uma autoridade independente".

Novo Diretor

Trump defendeu, na quinta, a demissão de Comey, repetindo que esperava ter tido o apoio da oposição. "Quando tomei essa decisão, achei que seria uma decisão bipartidária, se você olhar todas as pessoas do lado democrata que diziam coisas terríveis sobre o diretor Comey", disse.

O presidente afirmou que "em muito breve" anunciará o novo diretor do FBI (polícia federal americana) e que os agentes e funcionários do órgão ficarão "muito, muito entusiasmados" com o nome escolhido por ele.

Nesta quinta, a imprensa americana divulgou que o nome mais cotado hoje é o do ex-senador por Connecticut Joseph Lieberman, um democrata que chegou a disputar a eleição em 2000 como vice na chapa de Al Gore.

Questionado se Lieberman estava entre os finalistas, Trump apenas respondeu que "sim".

Unanimidade

Desde o anúncio de que o ex-diretor do FBI, Robert Mueller, 72, seria o conselheiro especial para comandar as investigações sobre possíveis elos entre integrantes da equipe de campanha de Donald Trump e a Rússia, um episódio tem sido repetido à exaustão pela mídia americana: a vez em que Mueller venceu a queda de braço com George W. Bush.

Era 2004 e o então diretor do FBI ameaçou deixar o posto se Bush mantivesse um programa que permitia grampos sem autorização judicial mesmo após ele ter sido considerado inconstitucional pelo Departamento de Justiça.

Bush cedeu, e Mueller ficou, permanecendo por 12 anos (2001-2013) à frente da polícia federal americana.

O caso é usado como exemplo da independência e da integridade de Mueller, que já demonstrou ser resistente a pressão. Sua indicação pelo vice-secretário de Justiça, Rod Rosenstein, foi elogiada por republicanos e democratas e pela imprensa. Em editorial do "New York Times", Mueller é chamado de "o conselheiro especial de que os EUA precisam".

O embate entre Mueller, que é republicano, e Bush, contudo, não foi o único. Dois anos depois, o diretor do FBI conduzia uma investigação de um caso de corrupção envolvendo o deputado democrata William Jefferson.

Sob pressão de parlamentares dos dois partidos, o presidente ordenou que o FBI devolvesse ao deputado os documentos recolhidos numa busca em seu gabinete. Mueller ameaçou novamente renunciar e conseguiu ficar com as provas que levaram à prisão de Jefferson.

Mueller, um veterano da Guerra do Vietnã pela Marinha, tem forte ligação com James Comey, o diretor do FBI demitido por Trump no último dia 9 —e supervisor da investigação que agora cabe ao conselheiro especial.

No episódio de 2004, Comey, então vice-secretário de Justiça, também ameaçou deixar o posto se os grampos fossem reinstituídos.

Mueller assumiu a chefia do FBI uma semana antes dos ataques do 11 de Setembro e ficou à frente da agência durante as complexas investigações dos atentados.

Do presidente democrata Barack Obama, recebeu o pedido, em 2011, para que estendesse por mais dois anos o seu mandato de dez anos antes de nomear Comey como seu sucessor.

Foi assim, o segundo diretor do FBI a ficar mais tempo no cargo, atrás apenas do controverso J. Edgar Hoover.

Desde que deixou o FBI, Mueller atua no escritório de advocacia WilmerHale, do qual se desligará para assumir a nova função.

Donald Trump tem colecionado ações questionáveis desde o início de seu mandato na Casa Branca, em janeiro

Suspeita de intervenção russa na eleição

Agências de inteligência dos EUA acreditam que o líder russo Vladimir Putin tenha ordenado que hackers penetrassem nos sistemas do Comitê Nacional Democrata e distribuíssem notícias falsas; Putin nega

O ex-chefe da campanha de Trump, o lobista Paul Manafort, trabalhou secretamente para um empresário russo há dez anos para promover Putin

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Michael Flynn

Ex-conselheiro de Segurança Nacional, renunciou depois de a imprensa revelar que ele mentiu ao vice-presidente Pence sobre os contatos que manteve com o embaixador russo nos EUA

Flynn também é suspeito de ter recebido pagamentos dos governos russo e turco por lobby; por ser um ex-integrante do Exército, a lei impede que Flynn aceite pagamentos de estrangeiros

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James Comey

O ex-diretor do FBI liderava investigação sobre o elo entre auxiliares de Trump com a Rússia; dias antes de ser demitido, ele havia pedido mais recursos para a apuração

Ele foi demitido por Trump no último dia 9; a Casa Branca afirmou que o presidente seguiu recomendação do secretário e do vice-secretário da Justiça

Dois dias depois, o "New York Times" afirmou que, em um jantar em janeiro, Trump pediu a "lealdade" de Comey, que respondeu prometendo "honestidade"

Na terça (16), o "NYT" revelou que Trump pediu a Comey, em fevereiro, que encerrasse a investigação sobre Flynn; o registro do pedido estaria em um memorando escrito por Comey

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Informações para os russos

Também nesta semana, o "Washington Post" informou que Trump teria revelado informação confidencial ao chanceler russo, Sergei Lavrov, em uma conversa na semana passada, na Casa Branca

A informação sobre uma ameaça do Estado Islâmico teria sido repassada sem a permissão da fonte (Israel, segundo o "NYT"), e poderia comprometer a segurança de um colaborador dos EUA na região

Trump reagiu dizendo que tem o "direito absoluto" de compartilhar informações com a Rússia; a Casa Branca alegou que os dados não eram secretos

O presidente Putin disse nesta quarta (17) que poderia fornecer a transcrição da conversa entre Trump e Lavrov se os EUA autorizarem.


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