26/04/2024 - Edição 540

Saúde

Obesidade avança 60% em dez anos, mas número fica estável em 2016

Publicado em 02/05/2017 12:00 -

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A parcela de brasileiros obesos cresceu 60% em dez anos, apontam dados da nova edição da pesquisa Vigitel, do Ministério da Saúde. Em 2016, esse percentual foi de 18,9%. Já em 2006, era de 11,8%.

Ao mesmo tempo em que houve avanço na obesidade nos últimos anos, a pesquisa mostra que a guerra contra a balança pode estar perto de dar seu primeiro sinal de trégua. Isso porque, em 2016, o índice de obesos ficou estável em relação ao ano anterior.

Cenário semelhante ocorre quando considerados todos os brasileiros com excesso de peso, parcela que supera mais do que a metade da população, ou 53,8%. Em 2015, percentual foi de 53,9%.

São considerados acima do peso todos aqueles com IMC (índice de massa corporal, medido pelo peso dividido por altura ao quadrado) igual ou superior a 25 kg/m2. Já a obesidade ocorre quando o índice é igual ou maior que 30 kg/m2.

Os dados mostram ainda que a prevalência da obesidade duplica a partir dos 25 anos e é maior entre os que tem menor escolaridade.

Para o Ministério da Saúde, vários fatores colaboram para esse crescimento. "Temos dados que mostram que as pessoas que consomem mais alimentos ultraprocessados apresentam maior prevalência de obesidade. São alimentos que adicionam gordura, sal e açúcar. Além disso, há fatores psicológicos, estresse, a dificuldade de levar alimentos [saudáveis] ao trabalho e a falta de atividade física", diz Michele Lessa, coordenadora de alimentação e nutrição no ministério.

Ao todo, a pesquisa ouviu 53.210 pessoas com mais de 18 anos de todas as capitais do país. O levantamento foi realizado entre fevereiro e dezembro de 2016. O objetivo é monitorar hábitos de saúde e fatores de risco para doenças crônicas, como diabetes e hipertensão.

E é aí que o aumento na obesidade registrado nos últimos anos já mostra seu preço. Em dez anos, o percentual de brasileiros com diagnóstico de diabetes aumentou 61,8% –passou de 5,5%, em 2006, para 8,9% no último ano.

Também cresceu o percentual de brasileiros diagnosticados com hipertensão. Neste caso, passou de 22,5%, em 2006, para 25,7% em 2016.

MELHORA NOS HÁBITOS

Se o panorama de saúde dos brasileiros acende alerta, a boa notícia é que a população já aparenta investir mais em algumas mudanças de hábitos –para melhor.

O refrigerante, por exemplo, vem pouco a pouco perdendo espaço na mesa. Em 2007, quando esse quesito foi avaliado no Vigitel pela primeira vez, o percentual de consumo regular de refrigerante entre a população era de 30,9%. Hoje, já é de 16,5%.

Já o consumo regular de frutas e hortaliças, que vinha crescendo desde 2009, teve queda no último ano: passou de 37,6% para 35,2%.

Os dados também apontam redução no consumo de alguns itens considerados tradicionais na mesa dos brasileiros. O consumo de feijão, por exemplo, passou de 67,5%, em 2012, para 61,3% em 2016.

Outro fator de risco para doenças crônicas é a falta de atividades físicas. Nesse caso, estamos bem: a parcela de brasileiros que fazem atividades físicas no tempo livre passou de 30,3%, em 2009, para 37,6% no último ano. O cálculo considera o percentual da população que afirma fazer ao menos 150 minutos de atividade física moderada por semana.

METAS

Para o Ministério da Saúde, os dados mostram a necessidade de investir em políticas públicas para incentivar mais brasileiros a adotarem hábitos saudáveis.

O Brasil, aliás, tem metas a cumprir nesse cenário até 2019: evitar o crescimento da obesidade, reduzir em 30% o consumo de refrigerantes e aumentar em 17,8% o consumo regular de frutas e hortaliças.

Dessas, duas, a de obesidade e consumo de refrigerantes, já trilham nessa direção. Já expectativa de aumento no consumo de frutas e hortaliças pode ser um desafio, uma vez que os dados já tiveram recuo neste ano.

Questionado se parte das metas não seriam pouco "ousadas", representantes do Ministério da Saúde negam. "É importante destacar que nenhum país do mundo conseguiu deter ou reduzir a obesidade", afirma Michele Lessa. "São vários os fatores que causam [o problema], e nem todos estão sob a governabilidade do Ministério da Saúde. É preciso fazer todo um trabalho de indução de outras áreas. Sabemos que o desafio é bem maior", completa.

Entre as medidas planejadas, o governo afirma que pretende lançar até o segundo o semestre um acordo voluntário com a indústria para reduzir o teor de açúcar dos alimentos processados.

Segundo o ministro da Saúde, Ricardo Barros, porém, a expectativa é que o resultado seja menor se comparado ao acordo semelhante já realizado nos últimos anos para redução do nível de sódio. A diferença ocorre devido a estimativas da indústria que apontam que só 20% do açúcar consumido estaria nesses alimentos. "Faremos o acordo, mas ele não terá mesmo impacto que o acordo da redução de sal porque é baixo o percentual de consumo de açúcar nos alimentos processados. Vale mais educar a população quanto ao açúcar adicionado", disse.

ÁLCOOL E DIREÇÃO

Além do aumento na obesidade e no diagnóstico de algumas doenças crônicas, os dados da pesquisa Vigitel também trazem outro alerta: um novo aumento no consumo abusivo de bebidas alcoólicas.

Em 2006, a parcela de brasileiros que faziam consumo abusivo de álcool era de 15,7%. Já em 2016, o índice passou para 19,1% –o maior desde que a pesquisa começou a ser realizada.

Entre os homens, esse percentual é ainda maior: chega a 27,3%. Já entre as mulheres, é de 12%. Os dados, porém, mostram aumento entre ambos os gêneros.

O mesmo ocorre em relação à prática de beber antes de dirigir: de 5,2% em 2013, passou a 7,3% em 2016.

A equipe técnica do ministério, no entanto, alega que ainda é cedo para falar em aumento. "De fato, desde que se estabeleceu a Lei Seca houve uma redução, e no último ano está apresentando um leve aumento. Temos que ver nos próximos anos se há um aumento mesmo ou se é só um pico daquele ano. Mas talvez isso já possa indicar a necessidade de maior monitoramento da lei", afirma Lessa.

Para o ministro, é preciso investir em novas campanhas para reduzir o consumo. "Precisamos insistir nisso. A campanha antitabagista foi muito eficiente ao longo do tempo e reduziu o consumo de cigarros. Mas a de álcool não", afirma Barros.


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