26/04/2024 - Edição 540

Meia Pala Bas

O brasileiro e a maratona do punho de ferro

Publicado em 01/04/2017 12:00 - Rodrigo Amém

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Estou atrasado nas minhas séries da Netflix. Ainda não comecei nem Luke Cage. E mesmo na imperdível Billions ainda não consegui avançar além do primeiro episódio da segunda temporada. É que os reality shows da vida real estão muito empolgantes. O American Celebrity Apresident, com Donald Trump, é de tirar o fôlego. Literalmente, já que ele revogou todas as medidas do Obama de combate ao aquecimento global.

Trump é o típico anti-herói trágico. Como Don Draper de Mad men ou Walter White de Breaking Bad, ele é torturado por seu passado, pelo abandono paterno e pela falta do reconhecimento de pares. A carência do pobre menino rico criou um ególatra populista que se permite ser manipulado. E não faltam forças cínicas o bastante para bajulá-lo em seus altos e baixos. Assim como Walter White deixou um rastro de destruição na sua busca por ser um bom pai e um marido provedor, Trump vai destruir a economia, desestabilizar relações internacionais e poluir o planeta em troca de aplausos. Tudo porque seu pai não era chegado nessa coisa de abraço de filho.

Enquanto isso, no Brasil, the House of Cunha continua sua temporada. No capítulo desta sexta-feira 31 de março, manchetes dos portais trazem uma narrativa estranhamente hegemônica.

Enquanto isso, no Brasil, the House of Cunha continua sua temporada. No capítulo desta sexta-feira 31 de março, manchetes dos portais trazem uma narrativa estranhamente hegemônica. Todos destacam a baixa aprovação de Temer. Alguns ainda repercutem as eventuais candidaturas de Dória (que roubou o manual do prefeito coxinha de Rudolph Giuliani) e Luciano Huck (loucura, loucura, loucura) à presidência. Na Veja.com, já se especula quem ganharia do Lula em São Paulo, este bastião da tolerância nacional.

Mas também há umas notas sobre as investigações contra Temer. E aí o Cunha, o Negan do planalto central, volta à cena depois de meses de silêncio morto-vivo, morrendo de vontade de "fazer denúncias". Diz-se que, fazendo direitinho, a queda do pai do Michelzinho pode gerar eleições indiretas. E esse é o atual sonho molhado dos tucanos, já que carecem de nomes aptos a um confronto nas urnas. A menos que a plataforma do candidato promova "criação de postos de trabalho para depiladoras trajando fio dental". Enfim, seria um golpe dentro do golpe. Um "golpinseption", se preferir. Pois é. Está tão emocionante que jornal agora oferecem estes "easter eggs" involuntários. Ainda que não haja nada de involuntário nas editorias de política.

Aí você me pergunta se eu já vi o Punho de Ferro. O povo brasileiro tá vendo o punho de ferro faz tempo, rapaz. E essa série está longe de ser cancelada.

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Victor Barone

Jornalista, professor, mestre em Comunicação pela UFMS.


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