26/04/2024 - Edição 540

Poder

Padilha pede pra sair

Publicado em 24/02/2017 12:00 -

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A Procuradoria-Geral da República (PGR) deve pedir nas próximas semanas a abertura de inquérito para investigar o ministro Eliseu Padilha (Casa Civil) diante do depoimento de José Yunes, ex-assessor do presidente Michel Temer. Yunes prestou depoimento na semana passada aos procuradores em Brasília.

O ex-assessor de Temer disse à PGR ter recebido um "pacote" em 2014, em seu escritório político em São Paulo, entregue por Lucio Funaro, a pedido de Padilha. Com a versão contada por Yunes, a PGR avalia ser inevitável pedir ao Supremo Tribunal Federal (STF) autorização para investigar o ministro. Yunes, que pediu demissão em dezembro, disse ter sido um "mula" de Padliha.

Em sua delação premiada, cujo teor foi revelado em dezembro passado, Cláudio Melo Filho, ex-diretor da Odebrecht, afirmou ter participado de um jantar no Palácio do Jaburu com Marcelo Odebrecht, Temer e o hoje chefe da Casa Civil Na ocasião, contou Melo Filho, Temer pediu apoio financeiro para o PMDB na campanha eleitoral de 2014.

O empreiteiro afirmou, ainda segundo a delação, que pagaria R$ 10 milhões, sendo que R$ 4 milhões ficariam sob responsabilidade de Padilha. Melo Filho diz que um dos pagamentos foi feito na sede do escritório de advocacia de Yunes, no Jardim Europa, em São Paulo.

Agora, Yunes conta que, naquele ano, em meio à campanha eleitoral, recebeu um telefonema de Padilha, afirmando que precisaria de um favor.

O hoje ministro queria que Yunes recebesse em seu escritório alguns "documentos", que depois seriam retirados de lá por um emissário. O empresário concordou.

Na hora combinada, Lucio Funaro, apontado como operador do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ), apareceu no escritório. "Ele chegou trazendo um pacote", diz Yunes.

Yunes diz que até hoje não sabe o conteúdo do pacote e que não se preocupou na época em esclarecer o que havia dentro dele.

Licença e enfraquecimento

O ministro da Casa Civil, que ainda não se manifestou sobre as revelações de Yunes, tirou licença do governo alegando problemas de saúde. Padilha viajou para Porto Alegre (RS), onde tem residência, e deve fazer ainda no fim de semana uma cirurgia para retirada da próstata. A previsão inicial é de que no dia 6 de março ele volte a despachar em seu gabinete no Palácio do Planalto.

A licença de Padilha do núcleo duro do governo, ao menos neste momento, aumenta o isolamento do presidente Michel Temer e sua dependência do PMDB da Câmara e do PSDB para tocar o restante de seu mandato.

Ao montar seu governo, ainda interino, Temer cercou-se de auxiliares que o acompanhavam há décadas no PMDB. O quarteto Romero Jucá (Planejamento), Padilha (Casa Civil), Geddel Vieira Lima (Secretaria de Governo) e Moreira Franco (hoje na Secretaria-Geral) formava a rede de aconselhamento e operação do presidente.

Hoje, no Planalto, só sobrou Moreira Franco. Os outros foram abatidos por escândalos éticos, agravado no caso de Padilha pela questão da saúde. Jucá continua poderoso, como líder no Senado, mas nominalmente Temer está sozinho.

Ganha peso o PMDB da Câmara, que vinha se sentindo alijado do centro do poder. Com a no mínimo polêmica, para ficar no eufemismo, indicação do deputado Osmar Serraglio (PR) para a Justiça, o grupo ganha influência sobre a sensível área relacionada ao controle da Polícia Federal.

Isso não significa controle para parar a Lava Jato automaticamente. A operação tem vida própria e instâncias variadas, e qualquer tentativa mais óbvia sob a alçada do Ministério da Justiça, como o remanejamento de delegados, será imediatamente percebida e amplificada. O que não quer dizer que não possa vir a ocorrer, naturalmente.

Outro flanco afetado pela licença de Padilha é o PSDB. O partido já havia se instalado no núcleo duro com a chegada de Antonio Imbassahy (BA) à Secretaria de Governo, e o senador Aécio Neves (MG), presidente, vinha tratando publicamente de indicações de nomes nas últimas semanas.

Em tese, Temer fica mais dependente dos tucanos, mas a saída de José Serra do Itamaraty, anunciada na quarta (22), jogou sombras sobre a situação do aliado de primeira hora. Sem Serra, Aécio perde seu principal homem no governo: a dupla era fiadora da aliança PSDB-PMDB, sob pressão do adversário interno Geraldo Alckmin (SP), que disputa com Aécio a vaga de presidenciável em 2018.


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