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Rixas diplomáticas marcam início da política externa de Donald Trump

Publicado em 03/02/2017 12:00 -

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Em duas semanas de governo, o presidente dos EUA, Donald Trump, já coleciona confrontos diplomáticos, tanto com países considerados hostis a Washington como com antigos aliados. Este é o caso da Austrália, cujo premiê, Malcolm Turnbull, foi alvo da ira de Trump, segundo o "Washington Post". O jornal afirmou na quinta (2) que o republicano se irritou com Turnbull durante o telefonema entre eles no último sábado (28).

O australiano cobrou dele o cumprimento de um acordo, firmado ainda no governo de Barack Obama, que prevê a transferência de alguns dos 1.600 refugiados abrigados nas ilhas pacíficas de Nauru e Papua-Nova Guiné —em troca, a Austrália deveria abrigar deslocados de países como Guatemala, Honduras e El Salvador.

No telefonema, Trump disse que o pacto é "o pior do mundo", segundo o jornal. Ele teria encerrado a ligação antes do previsto, dizendo que a conversa "foi de longe a pior" que teve com líderes estrangeiros. Nesta quinta, numa rede social, ele disse que iria "estudar este acordo estúpido". Depois, minimizou, afirmando que telefonemas duros "não devem ser motivo de preocupação".

Questionado sobre o incidente, Turnbull disse preferir que "as conversas sejam conduzidas de maneira privada" e afirmou que a relação com os EUA continua forte.

Na véspera, Trump voltou-se contra o Irã, depois de o país ter feito dois testes com mísseis balísticos. A Casa Branca colocou Teerã em "aviso prévio", sem explicar o que isso poderia significar.

Em seu canal oficial, o presidente disse que os iranianos deveriam ser "gratos pelo terrível acordo que os EUA fizeram".

Ele fazia referência ao pacto nuclear firmado em 2015 com as potências mundiais, tendo Obama como grande fiador. Ele deu a entender que poderia agir militarmente ao dizer, numa reunião, que "todas as opções estão sobre a mesa para lidar com o Irã".

Ali Akbar Velayati, conselheiro do líder supremo do Irã, Ali Khamenei, respondeu: "Não é a primeira vez que uma pessoa inexperiente ameaçou o Irã."

Para Oliver Stuenkel, professor de Relações Internacionais da FGV, "o ambiente é de altíssima incerteza". Segundo ele, a posição de Trump deve trazer consequências geopolíticas principalmente para a Ásia, o Oriente Médio e a Europa.

Sanções à Rússia

Enquanto endurece com a maioria dos países, Trump mantém relação dúbia com a Rússia. Nesta quinta (2), a Secretaria do Tesouro revisou as sanções contra o FSB (Serviço de Segurança Federal da Rússia) para facilitar a venda de equipamentos eletrônicos dos EUA ao mercado russo.

A medida fazia parte das punições impostas por Obama às agências de inteligência de Moscou devido aos ataques cibernéticos e à suposta interferência na eleição vencida por Trump.

Segundo o Tesouro, o alívio permitirá a empresas americanas fazer operações limitadas com o FSB.

Para analistas, a revisão provavelmente já era avaliada antes da posse de Trump, que negou qualquer alteração na relação com Moscou. "Não amenizei nada."

60 mil vistos cancelados

Aproximadamente 60 mil vistos foram cancelados desde que os EUA adotaram o decreto anti-imigração, segundo o porta-voz do Escritório de Assuntos Consulares do Departamento de Estado, William Cocks.

"Como sempre, segurança nacional é nossa maior prioridade ao emitir vistos", afirmou. "Para efeito de comparação, nós emitimos 11 milhões de vistos de imigrante e não imigrante no ano fiscal de 2015 [novembro de 2014 a outubro de 2015]."

Mais cedo, o jornal "The Washington Post" e a rede de TV NBC News haviam noticiado que mais de 100 mil vistos foram revogados. O número foi revelado por um advogado do governo americano durante audiência com a representantes de dois irmãos que chegaram no sábado ao aeroporto de Dulles e foram colocados de volta em um voo para a Etiópia.

"O número 100 mil tirou todo o ar dos meus pulmões", disse ao "Washington Post" Simon Sandoval-Moshenberg, advogado do Legal Aid Justice Center, que representa os dois irmãos que chegaram no sábado ao aeroporto de Dulles e foram colocados de volta em um voo para a Etiópia.

No dia 27 de janeiro, o presidente dos EUA, Donald Trump, assinou o decreto que proíbe por 90 dias a entrada nos EUA de qualquer indivíduo de sete países de maioria muçulmana "com tendências de terrorismo" (Síria, Iraque, Irã, Iêmen, Líbia, Somália e Sudão), suspende por 120 dias a admissão de refugiados no país e, por período indeterminado, a entrada de cidadãos sírios.

Nos primeiros dias após a medida, até portadores de “green card”, a autorização para morar e trabalhar nos EUA, foram deportados ou tiveram seus vistos cancelados.

O advogado do governo, Erez Reuveni, da seção de litígio em imigração do Departamento de Justiça, não soube especificar quantas pessoas com vistos válidos foram mandadas de volta para seus países de origem desde o aeroporto de Washington. Mas ele afirmou que todas as pessoas portadoras de "green cards" foram autorizadas a entrar no país.

O governo está tentando resolver individualmente casos como o dos irmãos iemenitas Tareq e Ammar Aqel Mohammed Aziz, que tentaram entrar no país com vistos válidos. Os EUA vão permitir que eles e outros na mesma situação recebam novos vistos e tenham a entrada no país liberada, caso eles desistam do processo que movem contra o governo americano.

A Casa Branca não se manifestou sobre o número divulgado pelo advogado Erez Reuveni.

 


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