29/03/2024 - Edição 540

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Situação na Venezuela é muito delicada, diz chanceler da Argentina

Publicado em 28/10/2016 12:00 -

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Recém-chegada a Cartagena, onde participa da Cúpula Iberoamericana representando o governo argentino, a chanceler Susana Malcorra disse, em entrevista a uma rádio colombiana, que a situação na Venezuela é "muito delicada" e que são os venezuelanos que têm de "encontrar o caminho para sair desse problema".

Também ao diário "Clarín", Malcorra disse que "as tensões estão escalando a cada dia, e o que nos preocupa são os venezuelanos em primeiro lugar, e a região, em termos mais amplos."

Malcorra não comentou a ideia, porém, lançada pela chancelaria paraguaia e com apoio do Brasil, de realizar uma reunião informal de chanceleres do Mercosul durante o encontro na cidade caribenha.

Na quinta (27), num comunicado, o governo venezuelano se mostrou contra o plano de um encontro informal de representantes de Paraguai, Brasil, Argentina e Uruguai para dar início a uma ação conjunta contra o governo de Nicolás Maduro e declarou que o resultado de suposta reunião seria considerado "nulo" pelos venezuelanos.

Malcorra disse, ainda, que "é impossível que essa situação de total bloqueio de diálogo em que se encontram o governo e a oposição se possa resolver de outra forma que não seja pelos venezuelanos mesmos."

Porém, considerou importante a recente adesão do Vaticano. Disse que "entendemos que o fato de que o papa Francisco tenha se envolvido é um sinal de que temos a mais importante autoridade moral do mundo interessada em ajudar às duas partes", por meio de um comunicado da chancelaria argentina.

Ainda sobre a participação do Vaticano, acrescentou que "nos parece que atender a essa convocatória para poder encontrar uma saída é fundamental. Se não é o Vaticano quem acompanha e ajuda nessa saída, quem vai ser?".

Ressaltou, ainda, que não existe uma "solução milagrosa" para o tema venezuelano, e que a única via é a do diálogo entre governo e oposição.

Sobre a aplicação da Carta Democrática da OEA, disse se tratar de "uma ferramenta muito importante, mas não é, em si mesma, uma saída automática, e sim uma forma de mandar uma mensagem de preocupação com relação a uma situação de perigo à democracia. Mas para alcançar um consenso com relação à carta, é preciso unanimidade na OEA e isso claramente até agora não foi possível, porque há distintas perspectivas sobre a situação na Venezuela dentro da OEA mesma."

No caso do Mercosul, Malcorra disse que "estamos acompanhando a situação da Venezuela há um tempo. Tivemos uma decisão à respeito da presidência temporária [de não entrega-la à Venezuela]. E essa decisão pode mudar, se a Venezuela avançar no cumprimento dos requisitos para poder exerce-la."

Greve

O governo de Maduro e seus apoiadores intensificaram a pressão contra a oposição às vésperas da greve geral convocada por antichavistas para esta sexta (28).

O deputado Diosdado Cabello, um dos mais importantes nomes do chavismo, ameaçou "tomar" as empresas que aderirem à greve coordenada pela coalizão opositora MUD (Mesa da Unidade Democrática). "Empresa que pare, empresa que deve ser tomada pelo governo bolivariano", disse Cabello.

Na quinta (27), agentes armados do Sebin (serviço de inteligência venezuelano) já cercavam a sede do grupo Polar —o mais importante conglomerado de produtos alimentícios do país.

A greve, marcada para começar às 6h desta sexta e terminar às 18h (8h e 20h em Brasília, respectivamente), será realizada para exigir um referendo revogatório sobre o mandato de Maduro.

O processo de convocação da consulta foi suspenso pelo CNE (Conselho Nacional Eleitoral).

Na quinta, o presidente da Assembleia Nacional, o opositor Henry Ramos Allup, denunciou o corte do fornecimento de energia nas instalações do Legislativo na hora em que seria realizada a sessão para discutir a responsabilidade do presidente sobre a crise política no país.

O debate dá seguimento ao julgamento "político e penal" de Maduro, iniciado pela Assembleia na terça (25).

Houve confronto entre manifestantes chavistas, que tentavam impedir a entrada dos deputados opositores na Assembleia, e a Guarda Nacional, nos arredores do prédio. Jesús Torrealba, secretário-executivo da MUD, disse que uma das avenidas que dão acesso à sede do Legislativo foi fechada por policiais.

Dentro do Parlamento, se revezaram na tribuna, durante a sessão, organizações da sociedade civil, como sindicatos e agremiações, contrárias ao presidente.

Mesmo que o Legislativo declare a responsabilidade de Maduro, o mandatário só poderia ser deposto após decisão do Tribunal Supremo de Justiça, a mais alta corte do país, controlada pelo chavismo.

Antes disso, o processo precisa passar por uma primeira avaliação no Conselho Moral Republicano —formado pelo procurador-geral, o controlador-geral e o defensor do povo, todos cargos ligados ao governo.


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