29/03/2024 - Edição 540

Meia Pala Bas

Quem matou a globalização?

Publicado em 24/06/2016 12:00 - Rodrigo Amém

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Boris Johnson era um jornalista conhecido por suas opiniões reacionárias. Um dia virou prefeito de Londres. No Brasil, seria como se o Datena fosse eleito prefeito de São Paulo. Mas Boris não estava satisfeito. Ele, que foi aluno da Eton College, a escola mais elitista da Inglaterra e de Oxford, a Universidade mais tradicional do Reino Unido, morria de inveja de um ex-coleguinha: David Cameron. Um ano mais velho que Johnson, Cameron era primeiro-ministro da Inglaterra enquanto Johnson era só prefeito. E Boris não podia tolerar isso. Então ele resolveu jogar pôquer com a economia britânica. Ele foi um dos líderes da campanha Brexit, que culminou com o Reino Unido deixando a União Europeia.

Quando a farinha é pouca, só no meu pirão, por favor. Não interessa que o peixe vem da Noruega. A farinha é minha. E se você prometer proteger minha farinha, ganha meu voto.

No dia 21 de junho, em entrevista ao jornalista Mike Pesca, o colunista Edward Luce, do Financial Times, declarou: "Eu tenho certeza que (Johnson) não acredita que o Reino Unido deva deixar a União Europeia. E você pode me perguntar: por que ele está liderando a campanha? Um possível motivo é que ele quer ser primeiro-ministro. E quando David Cameron for derrotado na campanha pela permanência na UE, será obrigado a renunciar e o líder da campanha vitoriosa se tornará a escolha natural para o cargo".

Acordamos na sexta-feira com a notícia de que o Brexit passou e Cameron já deixou o cargo. Uma decisão extraordinariamente ruim para o Reino Unido e que vai ser lembrada nos livros de história como o começo do fim da globalização. Atordoados, os londrinos começam uma caça às bruxas. Quem são os culpados?

A globalização fracassou porque era a melhor solução para nações e multinacionais, mas não conseguiu se materializar positivamente para o cidadão. Essa sensação de estar alienado do processo político provoca uma reação. É reacionário, por definição. E, quando a farinha é pouca, só no meu pirão, por favor. Não interessa que o peixe vem da Noruega. A farinha é minha. E se você prometer proteger minha farinha, ganha meu voto.

Em troca de poder, políticos prometem fechar fronteiras, dando marcha ré no carro da história. Boris conseguiu o que queria. Vai poder contar na reunião da escola como ele trolou o babaquinha do Cameron e roubou o cargo dele. Custou só um continente.

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Victor Barone

Jornalista, professor, mestre em Comunicação pela UFMS.


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