28/03/2024 - Edição 540

Palavra do Editor

Bolsonaro paz e amor

Publicado em 10/06/2016 12:00 -

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Na tentativa de ampliar seu eleitorado, o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ) diz que abriu mão de posições truculentas, como a defesa da pena de morte, e de declarações homofóbicas, como as muitas que fez nos últimos anos. Em aceno ao eleitorado evangélico, foi batizado em Jerusalém em maio, pelo Pastor Everaldo, presidente do PSC. O deputado disse que quis com a cerimônia apenas "aceitar Jesus publicamente". "Se fosse para aparecer politicamente, eu ia botar no meu Facebook", explicou.

Ele tenta conter seu espírito totalitário, para atrair à sua órbita uma chusma composta por reacionários, insatisfeitos úteis, semi-analfabetos políticos e quetais. As vezes é difícil controlar a língua – como durante a visita que fez esta semana a Campo Grande, capital do Mato Grosso do Sul, onde avisou que, em seu governo, o MST vai ser recebido a bala… certamente o mesmo tratamento será dispensando aos demais segmentos sociais que o repudiam.

Seus correligionários têm feito um esforço sobre-humano – especialmente nas redes sociais – para pintá-lo com cores mais leves. Dizem que ele é um democrata que veio para moralizar a política, apostam na amnésia. É como disse Hitler certa vez: "A faculdade de assimilação das massas é extremamente restrita, sua compreensão curta, e sua falta de memória é grande.”

Quem já afirmou que fecharia o Congresso se chegasse ao poder, que  “o erro da ditadura foi torturar e não matar” (em discussão com manifestantes), que “Pinochet devia ter matado mais gente” (sobre a ditadura chilena de Augusto Pinochet), que “a PM devia ter matado 1.000 e não 111 presos” (sobre o Massacre do Carandiru) não pode ter muito o que dizer sobre Estado Democrático de Direito não é mesmo?

Jair Bolsonaro não é uma figura engraçada, não é um salvador da pátria, não é uma figura a ser desprezada. Pelo contrário. Bolsonaro é o ovo da serpente. Em nome da democracia que ele despreza, da pluralidade que ele abomina, precisamos ouvi-lo, mas não podemos deixar de confrontá-lo.

Da mesma forma é de estranhar que Bolsonaro tenha angariado um time de simpatizantes entre a comunidade LGBT. Não foi ele quem disse que seria incapaz de amar um filho homossexual? “Prefiro que um filho meu morra num acidente do que apareça com um bigodudo por aí”, afirmou em entrevista à revista Playboy. É que para o deputado e gente como ele, homossexuais podem existir… escondidinhos. Não, eles não vão para as câmaras de gás, como na Alemanha nazista: desde que fiquem bem entocados, em suas casas. Nas ruas, devem fingir ser o que não são para o bem dos bons costumes… “Não vou combater nem discriminar, mas, se eu vir dois homens se beijando na rua, vou bater”, já avisou (caçoando de FHC sobre este segurar uma bandeira com as cores do arco-íris).

Além de homofóbico, o “mito”, como é chamado por seus amigos, é misógino. Imagina que a mulher é um ser inferior ao homem, e que seria melhor para todos se ficassem em casa cuidando do almoço e da prole. Para ele, “mulher deve ganhar salário menor porque engravida”. O ato falho cometido contra a deputada Maria do Rosário mostra ainda o que pensa Bolsonaro a respeito da cultura do estupro no país. “Não te estupro porque você não merece”, afirmou, como se uma mulher merecesse ser estuprada com base nos seus encantos femininos…

Negros também não são, digamos, muito apreciados pelo nosso Hitler tupiniquim. É o que deu a entender ao responder à cantora Preta Gil sobre o que faria se seus filhos se relacionassem com uma mulher negra ou com homossexuais: “Eu não corro esse risco, meus filhos foram muito bem educados”, argumentou…

Diante de todas estas pérolas há quem o considere "original", "corajoso", "engraçado". Jair Bolsonaro não é uma figura engraçada, não é um salvador da pátria, não é uma figura a ser desprezada. Pelo contrário. Bolsonaro é o ovo da serpente. Em nome da democracia que ele despreza, da pluralidade que ele abomina, precisamos ouvi-lo, mas não podemos deixar de confrontá-lo.


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