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A jornais estrangeiros, Dilma repete que não renunciará

Publicado em 25/03/2016 12:00 -

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A presidente Dilma Rousseff reafirmou, em entrevista coletiva a correspondentes de seis jornais estrangeiros, no Palácio do Planalto, que não renunciará ao mandato, informou em sua edição online o diário "New York Times".

Dilma recebeu repórteres do francês "Le Monde", do norte-americano "The New York Times", do argentino "Pagina 12", do espanhol "El País", do inglês "The Guardian" e do alemão "Die Zeit". A entrevista, segundo o "NYT", durou mais de uma hora.

A declaração para a imprensa internacional reproduz o que a presidente já vem dizendo sobre não deixar o governo. Na última terça (22), ela declarou em encontro com juristas no Planalto que "jamais" renunciará. "Não cabem meias palavras: o que está em curso é um golpe contra a democracia. Jamais renunciarei", afirmou, na ocasião.

De acordo com o jornal norte-americano, a presidente disse que o processo de impeachment que tramita na Câmara "não tem fundamentos legais".

Segundo o repórter Thomas Fischermann, do periódico alemão “Die Zeit”, que participou da entrevista, Dilma classificou aos jornalistas estrangeiros de “golpe” a tentativa de tirá-la do poder por meio de um processo de impeachment. "Ela usou essa palavra, golpe. Disse que é um golpe diferente do que ocorreu na ditadura militar, mas é um golpe”, relatou o correspondente do “Die Zeit”.

Segundo o "The New York Times", Dilma criticou o presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e disse que ele colocou o impeachment em andamento para desviar a atenção das acusações contra ele – Cunha é réu na Operação Lava Jato, que apura desvio de dinheiro na Petrobras e em estatais.

O jornal também afirmou que, questionada sobre se aceitaria eventual impeachment, a presidente respondeu que vai apelar a "cada método legal disponível".

O texto do "The New York Times" diz que Dilma "aparentemente está se preparando para uma batalha prolongada". Na entrevista, informou o jornal, ela negou que suas duas campanhas presidenciais tenham recebido recursos ilegais.

Na reportagem, o "NYT" faz um panorama da situação do Brasil. Cita a crise econômica e a nomeação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a Casa Civil – a nomeação está suspensa pelo Supremo Tribunal Federal –, a quem chama de "mentor e predecessor" de Dilma. "Lula é meu parceiro", afirmou a presidente aos jornais, segundo o "NYT".

O jornal espanhol "El País" também deu destaque a Lula, informado que Dilma afirmou que, se ele não for ministro, será seu assessor.

"Ora, ele vem como ministro ou ele vem como meu assessor. Ou ele vem de um jeito ou ele vem do outro. Nós traremos o presidente Lula para nos ajudar no governo. Não há como impedi-lo de ajudar o governo", disse

Pedaladas fiscais

O "The New York Times" também lembrou que o processo de impachment é baseado nas chamadas "pedaladas fiscais", e que Dilma será julgada também no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por acusações de ter usado na campanha de 2014 dinheiro ilícito do esquema da Petrobras.

A reportagem cita ainda as manifestações de rua contra a presidente. "Eu não vou dizer que é agradável ser vaiada", afirmou a presidente, de acordo com o "NYT". "Mas eu não sou uma pessoa deprimida. Eu durmo bem à noite."

'The Guardian'

O jornal britânico "The Guardian", também presente à entrevista, afirmou em reportagem em seu site que Dilma disse que não vai renunciar e não é uma "mulher fraca".

Ainda segudno o jornal, Dilma afirmou que o impeachment, se aprovado, vai deixar “profundas cicatrizes na vida política brasileira”.

Além disso, o “The Guardian” relatou que Dilma fez uma crítica “velada” ao juiz Sérgio Moro, que conduz as investigações da operação Lava Jato, ao dizer: “um juiz deve ser imparcial. Um juiz não pode julgar com paixões políticas”. Recentemente, Moro quebrou o sigilo telefônico do ex-presidente Lula e divulgou gravações envolvendo Dilma.

Dilma também ataca as escutas, que considera ilegais, feitas pela Polícia Federal. “Violar a privacidade fratura a democracia porque fere o direito de cada cidadão de ter uma vida privada”.

A presidente ressalta que um ministro não está imune a investigações e questiona se a Suprema Corte "não é boa o suficiente para investigar Lula, referindo-se à conquista de foro privilegiado no primeiro escalão. Aos repórteres estrangeiros, Dilma elogiou a capacidade de articulação política de seu padrinho político e, segundo, o talento dele para entender todos os problemas do Brasil.

O periódico também reproduz  uma fala de Dilma sobre as Olimpíadas, em que ela diz que a “paz deverá reinar” no Brasil nos jogos do Rio de Janeiro.

Jaques Wagner

Na última quarta-feira (23), o chefe de gabinete da Presidência, Jaques Wagner, também deu entrevista a correspondentes estrangeiros no Rio de Janeiro. Na conversa, de acordo com o jornal espanhol “El País”, o ex-ministro da Casa Civil criticou a imprensa brasileira e disse que existe uma “cobertura descompassada” da mídia.

Jaques Wagner também voltou a chamar de “golpe”, na entrevista, o processo de impeachment em curso no Congresso Nacional.

Aos jornalistas estrangeiros, o chefe de gabinete de Dilma destacou que se o impeachment prosperar, o sucessor da petista, no caso o vice-presidente da República, Michel Temer, não terá legitimidade popular para governar.

“O impeachment não é solução de nada, é agravamento da crise”, enfatizou Wagner ao jornal espanhol.

Repercurssão internacional

A atual crise política brasileira tem chamado a atenção da imprensa internacional. Nas últimas semanas, o Brasil foi tema de reportagens e editoriais de veículos estrangeiros.

A mais recente edição da revista britânica "The Economist" – uma das mais prestigiadas do mundo – traz um editorial sobre o Brasil com o título Time to Go (Hora de partir), em referência à  situação política de Dilma Rousseff.

A revista é publicada no final da semana, mas a capa da edição latino-americana, estampada pela presidente brasileira, foi divulgada no Twitter nesta quarta.

A revista do Reino Unido diz que a presidente brasileira "perdeu o que lhe sobrava de credibilidade" com a nomeação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para o comando da Casa Civil.


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