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Cultura e Entretenimento

Araquém Alcântara expõe o livro Mais Médicos em Campo Grande

Publicado em 10/03/2016 12:00 -

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Araquém Alcântara, um dos grandes fotógrafos brasileiros da atualidade, terá seu último trabalho, o livro Mais Médicos, exposto em Campo Grande (MS) entre os dias 21 e 24 de março, durante a realização do 12º Congresso Internacional da Rede Unida. A obra, definida pelo próprio artista como um “manifesto humanista”, é um registro do programa do Governo Federal.

O texto de apresentação, de autoria do ex-ministro da Saúde, Arthur Chioro, ressalta a importância do programa, que levou atendimento médico periódico a mais de 63 milhões de brasileiros.

Alcântara ressalta que no momento em que o programa foi lançado, em 2013, 15% dos municípios brasileiros não contavam com um único médico. Em outros dois mil municípios, havia um médico para cada três mil pessoas. O atendimento preventivo provido pelo Mais Médicos foi capaz de evitar perto de 100 mil internações hospitalares — quando as doenças se encontram num estágio mais grave, de difícil atendimento, exigindo tratamentos mais caros, complexos e muitas vezes inacessíveis.

Em seus dois anos de existência, o programa levou 18.240 médicos para 4.058 municípios, o que equivale a 73% dos municípios brasileiros, e para 34 distritos de saúde indígenas. Com esse acréscimo, agora são 134 milhões de pessoas atendidas pela Estratégia Saúde da Família, que cuida da saúde básica familiar. De acordo com dados do Ministério da Saúde, 80% dos problemas que levam as pessoas a procurar atendimento podem ser solucionados com o acompanhamento da saúde familiar.

O programa atraiu milhares de médicos de todo o mundo – embora hoje a maioria das vagas seja ocupada por médicos brasileiros. É a histórias desta gente e das pessoas que receberam atenção médica pela primeira vez, que Alcântara conta em sua obra, com a ajuda dos jornalistas Marcelo Delduque e Xavier Bataburu.

Histórias de vida

Com 46 anos de profissão e 49 livros publicados, Alcântara conta que o Mais Médicos foi um dos trabalhos que mais o emocionou. Entre as histórias, algumas são emblemáticas, como a da médica cubana que descobriu que o foco de esquistossomose em Igreja Nova, Alagoas, era causado pelos canais de irrigação dos arrozais. Ou então a do paciente velhinho, em Manaus, vítima de hanseníase, sem uma das pernas e com os dedos das mãos atrofiados.  Apaixonado pela médica cubana que o atende, escreve diversos poemas em sua homenagem.  

Na Ilha do Marajó, no Pará, uma médica faz as vezes de assistente social e conselheira. Diante de um bebê nascido com paralisia e uma mãe viciada em drogas, reuniu a família, redistribuiu as tarefas e delegou ao tio a responsabilidade de tratar da doença do sobrinho.

O roteiro de Araquém não ficou apenas na floresta. No Rio de Janeiro, o fotógrafo se encontrou com o médico João Marcelo Goulart, neto do ex-presidente João Goulart, que trabalha na favela da Rocinha. “A importância do Mais Médicos é essa: o velhinho cruza com o médico na rua, toca nele e diz: está dando resultado o tratamento. É o contato direito, ter ali o porto seguro”, diz Alcântara.

As fotografias do livro serão expostas em diversas mostras, dentre elas uma em Havana, Cuba, e outra em Genebra, Suíça, na sede da Organização Mundial de Saúde.

Realidade enevoada

O livro ajuda a enxergar uma realidade que muitas pessoas podem imaginar, mas nunca tiveram a chance de presenciar. Os textos que acompanham as fotos estão longe de esgotar toda a discussão sobre um assunto tão grave e complexo como a saúde nos ermos brasileiros, mas basta recordar a mitologia e o preconceito ilustrados por setores da sociedade que lutaram contra o projeto Mais Médicos, para compreendermos a importância de um trabalho desse gênero.

Comparadas com as imagens das campanhas do Médicos Sem Fronteiras, presença periódica na TV brasileira, o trabalho de Araquém serve como um contraponto importante. O livro não exibe cenas de uma atividade sustentada por meritórias contribuições individuais e voluntárias, mas uma decisão de Estado, num país onde a Constituição afirma no artigo 196 que a saúde “é um direito de todos e um dever do Estado”.

Rede Unida

Segundo a coordenadora do 12º Congresso Internacional da Rede Unida, Vera Lúcia Kodjaglanian, a presença da obra de Araquém Alcântara durante o evento, marca a relação da entidade com os movimentos sociais e instituições engajadas no fortalecimento de um sistema de saúde público, universal, democrático e eficaz.

Sob o tema central “Diferença sim, desigualdade não: Pluralidade na invenção da vida”, o Congresso reunirá cerca de cinco mil representantes de movimentos sociais, profissionais, pesquisadores, estudantes, professores e gestores das áreas da saúde e da educação em saúde, do Brasil e do exterior.

De acordo com o Coordenador Nacional da Rede Unida, Alcindo Ferla, o objetivo principal é fomentar o debate sobre temas focais da saúde e da educação em saúde.

O 12º Congresso Internacional da Rede Unida será realizado na Universidade Católica Dom Bosco (UCDB) com o apoio do Ministério da Saúde, Fiocruz, UFMS, UFRGS e Rede Governo Colaborativa.

A programação completa pode ser acessada neste LINK.


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