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Ações unilaterais em crise de refugiados ameaçam União Europeia

Publicado em 26/02/2016 12:00 -

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O primeiro-ministro da Grécia, Alexis Tsipras, convocou de volta a Atenas – na quinta-feira (25) – seu embaixador em Viena, em protesto contra a iniciativa da Áustria de realizar na quarta (24) uma reunião com nove países dos Bálcãs (três deles membros da União Europeia) para discutir ações de contenção do fluxo de migrantes. Os gregos não foram convidados.

O desentendimento é reflexo de uma sucessão de medidas unilaterais adotadas por países europeus para frear a entrada de refugiados –a mais grave delas o fechamento parcial da fronteira da Macedônia com a Grécia– e que aumentam o risco de um colapso do bloco.

Com mais de 20 mil refugiados afegãos e de outras nacionalidades retidos na Grécia nos últimos dias, o comissário de migração da UE, Dimitris Avramopoulos, disse nesta quinta-feira (25) que "há risco de que todo o sistema entre em colapso" nos próximos dez dias.

A inoperância da UE na gestão da crise tem levado países a adotarem individualmente medidas como a instalação de cercas em fronteiras e o controle de passaportes.

Essas medidas equivalem à suspensão, ainda que parcial, do Espaço Schengen, criado em 1985 para garantir a livre circulação de pessoas, mercadorias e capitais, um dos pilares do bloco.

"A crise dos refugiados está aprofundando as rachaduras da Europa", disse a vice-diretora da Anistia Internacional para Europa, Gauri van Gulik.

"Até agora, a resposta da UE tem sido um fracasso total", afirmou.

Desde novembro, a Macedônia estabeleceu que apenas três grupos de migrantes (sírios, iraquianos e afegãos) poderiam cruzar suas fronteiras rumo ao norte.

Agora, o acesso foi fechado também a afegãos e a todos os que não tenham passaportes válidos.

O ministro grego da Imigração, Yannis Mouzalas, afirmou nesta quinta (25) que seu país se recusa a ser "o Líbano da Europa", em referência ao país do Oriente Médio onde vivem mais de 1 milhão de sírios, a maioria acampados.

"A Grécia não aceitará se tornar o Líbano da Europa, um depósito de almas, ainda que isso fosse feito com financiamento [da União Europeia]", disse Mouzalas, em reunião em Bruxelas.

Divisão

O encontro em Viena que provocou a fúria grega também serviu para deixar claro que existe uma divisão na Europa, segundo James Sawyer, especialista do Eurasia, grupo de análise de risco.

"Essa divisão entre países que ofereciam solidariedade e países que resistiam a ser solidários se cristalizou, e agora será mais fácil para a chanceler alemã Angela Merkel se concentrar no Plano B, com foco em um grupo específico que está disposto a cooperar", disse Sawyer.

Desde que foram estabelecidas cotas para a distribuição de 160 mil refugiados entre todos os 28 países da UE, em setembro de 2015, só foram efetivamente transferidas cerca de 500 pessoas.

Merkel agora está trabalhando com um grupo pequeno de países, que inclui Suécia, Finlândia e Holanda, para fechar uma solução alternativa na reunião de cúpula a ser realizada com a Turquia, dia 7 de março, em Bruxelas.

O grupo já está sendo chamado de "coalizão dos dispostos" a resolver o problema dos refugiados.

"A solução será que alguns países da União Europeia recebam grandes contingentes diretamente da Turquia, de forma que as pessoas não tenham que arriscar suas vidas na travessia", explica Gerald Knaus, diretor do European Stability Initiative.


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