08/05/2024 - Edição 540

Especial

Cuidado com o mosquito

Publicado em 24/11/2013 12:00 -

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O Sistema Único de Saúde (SUS) fez mais de 22 mil cirurgias de transplantes de órgão e lida diariamente com as doenças relacionadas à modernidade, que requerem recursos cada vez mais complexos e caros. No entanto, ainda precisa prestar atendimento a pessoas com enfermidades que se expandiram desde o século 19, como a dengue.

De acordo com a pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Tânia Araújo Jorge, as chamadas “doenças negligenciadas” têm um forte determinante social e suas sequelas alimentam o círculo da pobreza. “Renda, condições de educação, de saneamento e água influenciam bastante na permanência dessas doenças, por isso são consideradas doenças relacionadas à pobreza”, explica Tânia.

O coordenador do escritório técnico da Fiocruz em Mato Grosso do Sul, professor Rivaldo Venâncio da Cunha concorda. “O Brasil vive uma situação peculiar em termos de saúde: convivemos com enormes problemas decorrentes das doenças infecciosas e parasitárias, também conhecidas como 'doenças da pobreza', como dengue e tuberculose, além de elevada frequência de doenças e agravos de origem materna e perinatal”.

Diante deste quadro, os números do novo mapa da dengue (Levantamento Rápido de Índice para Aedes Aegypti – LIRAa), divulgados pelo ministro da Saúde, Alexandre Padilha, no último dia 19, não surpreendem. Eles mostram que 157 municípios do país estão em situação de risco e outros 525 em estado de alerta. Neste ano, foram notificados 1,4 milhão de casos prováveis de dengue no país em decorrência de uma circulação do subtipo 4 do vírus, que respondeu por 60% dos casos.

O novo mapa da dengue mostra que 157 municípios do país estão em situação de risco e outros 525 em estado de alerta.

Três capitais estão em situação de risco: Cuiabá, Rio Branco e Porto Velho. Outras 11 apresentaram situação de alerta: Campo Grande, Boa Vista, Manaus, Palmas, Salvador, Fortaleza, São Luís, Aracaju, Cuiabá, Rio de Janeiro e Vitória. Sete cidades ainda não apresentaram os resultados do Levantamento Rápido de Índice para Aedes Aegypti e as outras capitais têm níveis considerados satisfatórios.                 

Em Mato Grosso do Sul, além da capital, outras 17 cidades também estão em alerta. Entre elas, Bonito, Coxim, Dourados, Ponta Porã e São Gabriel do Oeste. Três Lagoas foi classificada como em situação de risco.

Com mais de 300 casos notificados por 100 mil habitantes, Campo Grande tem, tradicionalmente, alta incidência da doença, ocupando a 17ª posição no ranking estadual com 46.043 pessoas infectadas com o vírus em 2013. Em todo o Estado este número chega a 100 mil pessoas neste ano.

Dinheiro contra o mosquito

O Ministério da Saúde repassará mais de R$ 360 milhões para que municípios de todo o país intensifiquem o combate ao mosquito da dengue, o Aedes aegypti. Deste montante, o Mato Grosso do Sul receberá R$ 5 milhões para reforçar as ações de vigilância, prevenção e controle da doença. Em contrapartida, os municípios precisam cumprir metas como assegurar a quantidade adequada de agentes de controle de endemias e garantir a cobertura das visitas domiciliares.

O ministro Alexandre Padilha também assinou a portaria que dobra o investimento previsto de combate à doença para 2014, que passa a ser de R$ 1,2 bilhão. Além dos recursos financeiros, o Ministério da Saúde adquiriu 100 toneladas de larvicida, 227 mil litros de adulticida e 10,4 mil kits diagnósticos que serão entregues a todos os municípios brasileiros.

De acordo com o Governo Federal, o reforço na assistência básica ao paciente contaminado pelo inseto vem sendo ampliado ano a ano e resultou na redução dos casos graves da doença em 61% quando comparado aos dados de 2010. Também diminuíram em 10% os casos de mortes pela dengue, mesmo com o crescimento dos números de notificações da doença.

De acordo com o Governo Federal, o reforço na assistência básica ao paciente contaminado pelo inseto vem sendo ampliado ano a ano e resultou na redução dos casos graves da doença.

Dados do Ministério da Saúde apontam que o país tem, atualmente, um dos menores índices de mortalidade pela doença nas Américas, com 0,03 óbitos para cada 100 notificações.

Segundo Padilha, os números ainda não permitem otimismo exagerado. “Queremos reduzir cada vez mais a chance de óbito neste país. Essa é a principal ação do Ministério da Saúde agora”.  

Aumento dos casos

Em fevereiro, dados do Ministério da Saúde apontavam que o número de casos de dengue no país havia triplicado. Para o secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Jarbas Barbosa, o aumento se deu por causa do Denv-4, conhecido como tipo 4 da doença, que, desde 2011, circula no país e também por causa da grande incidência do mosquito.

“Toda vez que a gente tem um novo sorotipo em um lugar no qual nunca circulou ele encontra todo mundo suscetível. Em 2013, ele (tipo 4) atingiu municípios grandes e isso faz com que aumentasse o número de casos” explicou Barbosa. O Denv-4 corresponde a 52,6% das amostras encontradas no Brasil. O Ministério da Saúde acentua que a gravidade e os sintomas são iguais para os quatro tipos de vírus.

Mato Grosso do Sul, com o maior número de casos do Brasil, Minas Gerais, Goiás, São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Mato Grosso e Espírito Santo, com 173.072 registros, concentraram 84,6% dos casos nas sete primeiras semanas de 2013. Mato Grosso do Sul também tem o maior incidência da doença, 1.677,2 casos por 100 mil habitantes.

Vacina contra a Dengue

No esforço de mitigar a doença, o Instituto Butantan e a Universidade de São Paulo (USP) deram início em outubro ao recrutamento dos 50 primeiros voluntários que vão receber a vacina brasileira contra a dengue. Nesta primeira etapa dos testes os voluntários serão da capital paulista, todos adultos saudáveis e que nunca tiveram dengue, com idade entre 18 e 59 anos, de ambos os sexos. Eles vão ser imunizados em duas doses, com intervalo de seis meses entre elas.

A vacina está sendo desenvolvida para combater, em uma única dose, os quatro tipos já identificados da doença. A técnica utiliza o chamado vírus atenuado. Isso ignifica que o próprio vírus da dengue é modificado para que ele seja capaz de fazer com que as pessoas produzam anticorpos, mas sem desenvolver a doença.

A criação da vacina teve início em 2006, juntamente com os institutos nacionais de Saúde dos Estados Unidos. Os vírus foram identificados no país e, posteriormente, transferidos para o Butantan, em 2010.

Os cientistas já testaram a vacina em mais de 600 norte-americanos e não foram observados efeitos colaterais importantes, apenas dor e vermelhidão no local da aplicação, sensação comum para vacinas.

A vacina está sendo desenvolvida para combater, em uma única dose, os quatro tipos já identificados da doença.

Porém, como os Estados Unidos não são uma região endêmica para dengue, nenhum voluntário que recebeu a imunização havia contraído a doença. Já no Brasil, os testes vão envolver pessoas que já tiveram dengue.
Os interessados em participar do estudo podem ligar para os telefones (11) 2661-7214 e (11) 2661-3344, ou enviar um e-mail para [email protected]. A próxima etapa, que deve ter início no próximo ano, vai incluir pessoas com histórico de dengue, e a vacina será aplicada em dose única. Serão 250 voluntários da capital paulista e da cidade de Ribeirão Preto, no interior do estado.

Na terceira e última fase, serão recrutadas pessoas de diversas partes do país, de várias idades. A previsão dos pesquisadores é que a vacina chegue à população em cinco anos.


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