24/04/2024 - Edição 540

True Colors

YES! Nós existimos!

Publicado em 29/01/2016 12:00 - Guilherme Cavalcante

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Você consegue imaginar uma sociedade em que você é a excessão? Em que sua vida vale menos que a dos outros? Em que é legítimo te expor publicamente como alvo de chacota, como piada? Em que bater em você, te estuprar, vandalizar seu corpo contra sua vontade, espancar você, matar você, enfim, são coisas naturais? Já imaginou se sua vida só acontecesse debaixo do tapete, para onde você é varrida para não atrapalhar as 'pessoas de bem'?

E para apontar os básicos e frugais: você consegue se imaginar sem poder fazer xixi no banheiro de acordo com seu gênero, consegue se imaginar sendo chamado por um nome que não é o seu?

Esta é a realidade de pessoas transexuais e travestis no Brasil. Cidadãs de 5ª categoria, que apenas são vistas na calada da noite, nas esquinas mais perigosas, vendendo o corpo para sobreviver. Ou nas páginas policiais, sendo expostas como carne em açougue, tendo nome social desrespeitado. Esta é a realidade de pessoas que são expulsas de casa ainda novas, que acabam desistindo da escola, da qualificação profissional, por serem rechaçadas em espaços públicos. Pessoas que, infelizmente, poderão nem chagar aos 40 anos de idade.

Parece bom para você?

Enfim, não há muito a se celebrar no dia 29 de janeiro, Dia da Visibilidade Trans. E pelo que já expus, fica bem claro que esta data funciona mais como um lembrete e um alerta de que muito ainda tem que ser percorrido para garantir a sobrevivência a este grupo, cuja expectativa de vida gira em torno de 35 anos. É preciso lembrar diariamente que 90% da população trans recorrere à prostituição para sobreviver. Temos que lembrar, também, que o Brasil (e o Centro-Oeste) é o lugar onde mais ocorrem mortes de trans – já temos um recorde de dois assassinatos por dia só neste primeiro mês de 2016.

Em outras palavras, o Dia da Visibilidade Trans nada mais é que um clamor por respeito, por dignidade. Um grito pelo direito de existir, uma reivindicação por coisas básicas a qualquer ser humano, como direito à integridade física e à vida, acesso aos serviços de saúde, a condições regulares de trabalho, garantia de acesso e permanência à educação e acesso à cidade e à vida pública. Coisas básicas, que sem as quais você não consegue se imaginar.

 

Lacradoras

E já que hoje é o Dia da Visibilidade Trans, vamos dar uma emponderada, vamos? Olhe bem para a foto acima e imagine a destruição que vai ser a UFPE este anos, com nada menos que Ana Flor, Maria Clara Araújo e Amanda Palha no mesmo campus? Não sabe quem são as meninas? São grandes militantes trans que seguram a bandeira da diversidade e da igualdade entre gêneros, daquelas com quem a gente esbarra na Internet e não consegue mais deixar de seguir.

Pois é, está tendo trans na universidade, sim. E trans aprovada em primeiro lugar, como foi o caso da Amanda Palha, a primeira colocada do curso de Serviço Social. Tá bom pra você?

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Victor Barone

Jornalista, professor, mestre em Comunicação pela UFMS.


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