26/04/2024 - Edição 540

Auau Miau

Raças de cachorro estão entrando em extinção

Publicado em 23/12/2015 12:00 -

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O skye terrier (foto acima) é um cachorrinho nobre! Proveniente da ilha escocesa de Skye, ele é um dos terriers mais antigos do mundo (existem registros desde a Idade Média). É uma raça conhecida por sua bravura e fidelidade – a família real escocesa manteve vários desses cães por muito tempo. Mas se você quiser um terá que ser rápido: o skye terrier é uma raça de cachorro em extinção.

A população mundial dos skye terrier está entre 3.500 e 4.000 indivíduos. Para se ter uma idéia, eles são mais raros do que pandas vermelhos. No Reino Unido, nasceram apenas 17 filhotes da raça em 2013. Para evitar a extinção, o número deveria ser de, pelo menos, 300 filhotes.

Durante a maior parte da história da parceria humana-canina, as raças de cães evoluíram de acordo com as necessidades da sociedade. Ou seja, eles serviam para preencher diferentes papéis. Existiram raças que serviam para coisas específicas, como gerar energia motora ou tomar conta de rebanhos. Quando a tecnologia era inventada, o cão perdia sua função e valor, sofrendo um processo de extinção.

Como surgiu a relação humana-canina?

De acordo com o registro fóssil, o cachorro foi domesticados pela primeira vez entre 11 mil e 32 mil anos atrás. A “hipótese do caçador” diz que o ser humano criou, em cativeiro, filhotes de lobos a fim de tê-los como recurso em caçadas. Existe também a "hipótese limpador", que diz que foram os lobos que se aproximaram dos humanos e não o contrário. Provavelmente enquanto os humanos procuravam alimentos (como carcaças de animais mortos). Ótimo lugar para uma amizade, não?

O fato é que este encontro entre lobos e humanos realmente existiu. E o que aconteceu foi que alguns lobos, com características mais parecidas com as dos cachorros de hoje, ganhavam espaço nos abrigos humanos. Como consequência, os lobos mais amigáveis acabavam procriando.

Mas como surgiram as diferentes raças? Os caninos antigos tiveram de se adaptar ao seu novo ambiente humano. Por exemplo, a dieta mudou favorecendo diferentes traços físicos e, consequentemente, raças.

As raças extintas

A partir das mudanças sociais, os cachorros começaram a assumir diferentes formas, cores e tamanhos – o que constituímos como “raça”. Características diferentes surgiram em climas diferentes, o husky siberiano é peludo e resistente ao frio porque nasceu em um ambiente que colaborava com isso, por exemplo (a Sibéria é um dos lugares mais gelados do mundo).

Os seres humanos foram migrando e se adaptando e levavam seus cães junto. Estes cães se misturavam e geravam outras raças – desde chihuahuas passando por poodles até os dobermanns.

Conforme as civilizações se desenvolviam, as funções designada aos cães também mudavam. Muitas raças inclusive têm o nome da sua função: o Pastor Alemão servia como pastor de ovelhas. Os Dachshunds (caçadores de texugo, em alemão) – os famosos salsichas -, foram criados para caçar presas escavando, por isso os corpos longos e as patas curtas.

Por conta da funcionalidade, muitas raças perderam valor e, consequentemente, foram extintas. Quando não era por funcionalidade, era por que os cães não se adaptavam tão facilmente a ambientes diferentes, como o ser humano. O tesem egípcio e o molossus greco-romano são exemplos claros disso, pois só sobreviviam em seus ambientes naturais.

O maior exemplo de raça que perdeu a funcionalidade profissional é a turnspit, um cãozinho de patas curtas, pelos longos e corpo pequeno, muito popular nas cozinhas britânicas a partir do século XVI. Ficava dentro de uma roda, girando-a como um hamster, fornecendo energia motora para o cozimento dos alimentos. Também há registros de turnspits levados em igrejas para esquentarem os pés dos fiéis. Os coitados não eram considerados cães, mas utensílios domésticos.

Na década de 1850, o uso de turnspits em grandes cozinhas comerciais na América inspirou a Society for the Prevention of Cruelty to Animals (Sociedade para a Prevenção da Crueldade contra os Animais, em tradução livre). Mas a essa altura os turnspits já estavam em vias de se extinguirem. Isso porque as pessoas podiam pagar máquinas para fazer o trabalho dos cães. Como não era uma raça muito vistosa, como os poodles, os humanos não se preocuparam em reproduzi-los.

Outro exemplo bastante obscuro de extinção motivado economicamente é o dogo cubano. Um cão de aparência peculiar e grande, criado a partir de batalhas caninas. O objetivo principal da raça era perseguir escravos fugitivos. Quando a escravidão foi abolida, já não havia uma razão econômica para manter a raça e ela foi extinta.

Bulldog, a raça que sobreviveu

A tradução literal de “bulldog” é cachorro-touro. Essa raça foi criada especialmente para o esporte bull-baiting, muito popular entre os séculos XVII e XIV. Funcionava com um touro  amarrado em um pequeno pedaço de tronco tentando chifrar os vários cães, que por sua vez tentavam domar a fera. Os cães eram treinados para chegar perto o suficiente do touro e morder seu nariz, a fim de imobilizá-lo. Os chamados bulldogs, cães com mandíbula forte e corpos pequenos, se destacavam como bull-baiters.

Em 1835, o Reino Unido declarou o bull-baiting ilegal e os bulldogs perderam seu emprego. A raça estava seguindo o passo dos turnspit e dogo cubano, mas ao contrário dos extintos, o bulldog deixou de ser um domador de toros para ser um domador de corações humanos. Em outras palavras, a beleza do cão o salvou da extinção. No mesmo período surgia o conceito moderno de cão de raça, rotulando as espécies exóticas, e colocando preços absurdos na venda de alguns animais.

Então as pessoas começaram a se reunir para discutir exatamente o que faz de um cão um cão. “Porque o bulldog age de um jeito e o poodle de outro?” Estes clubes também realizavam competições para mostrar os melhores exemplares de cada raça. Hoje são computadas mais de 400 raças diferentes em todo mundo.

Qual a função dos cães hoje?

Atualmente os dados sugerem que a popularidade da raça está distante da funcionalidade profissional dos primeiros caninos. Um artigo da PLoS One sugere que um cão moderno “funcional" é apenas um cão sociável. Outras características também são levadas em consideração, como treinabilidade, longevidade, agressividade para com seu dono, em relação a estranhos e a outros cães.

Os autores do artigo chegaram a uma conclusão interessante: raças populares são menos saudáveis. Quer exemplos? O pug é a coisa mais fofa, mas tem sérios problemas respiratórios genéticos. Os dálmatas podem apresentar sérios problemas de audição, tornando-os teimosos.

As raças de cães que conhecemos hoje são produto de um modismo bizarro que sobreviveram (literalmente) até os dias de hoje. Enquanto novas raças ainda estão sendo desenvolvidas, outras estão desaparecendo lentamente – e ninguém se dá conta disso.


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