28/03/2024 - Edição 540

Meia Pala Bas

Homo Reaçus

Publicado em 13/11/2015 12:00 - Rodrigo Amém

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Sejamos sinceros: natural é ser de direita. Estamos programados para o conservadorismo mais ou menos pelas mesmas razões que nos levam à obesidade. 

Conservar energia e recursos sempre foi fundamental para a sobrevivência humana. No berço da civilização, caloria não dava na esquina. Nem havia esquina. Se você encontrava algo, melhor acumular que faltar. E acumular é o oposto de dividir, compartilhar. Caridade, amor ao próximo, compaixão, esses são valores muito, muito recentes na história humana. Não foram esses os princípios que garantiram nossa sobrevivência pré-histórica. 

Da mesma forma que as calorias não utilizadas são estocadas para uma eventual escassez de alimentos, os valores da direita são fruto de uma realidade tribal, onde os inimigos são os outros. Todos os outros. 

Caridade, amor ao próximo, compaixão, esses são valores muito, muito recentes na história humana. Não foram esses os princípios que garantiram nossa sobrevivência pré-histórica.

Família, a tribo, os iguais, os ritos supersticiosos. Tudo que é central na ideologia de direita é a caloria geradora dessa espécie de adiposidade cultural que é o conservadorismo. Um subproduto da evolução da nossa espécie, como a visícula ou o ciso, cujas utilidades são vagos vestígios arqueológicos e a função contemporânea é inflamar, incomodar, doer.

Nosso DNA ainda não se adaptou ao excesso de açucares e frituras do mundo moderno. Daí a epidemia de obesidades. A mente humana, forjada para administrar relações sociais em pequenos grupos como famílias e tribos, sofre para acolher conceitos como diversidade cultural, empatia ao estrangeiro, diferenças de perspectivas e visões de mundo.

A boa notícia é que, assim como na obesidade, é possível controlar nossos instintos de preservação primitivos. A má notícia é que, assim como na obesidade, é preciso disciplina e prática constante. Um estudo da Universidade de Wisconsin demonstrou que um cérebro pode ser treinado para desenvolver compaixão e empatia. Mais ou menos como um corpo pode aprender a correr uma maratona.

Ou seja, não é que seu vizinho seja racista, fascista e reacionário. Ele apenas é mais um caso desta epidemia global de empatia sedentária e individualismo hipertenso. Em tempo: sei muito bem que nem todo gordinho é sedentário. Alguns são doentes. Mas a analogia ainda vale. Alguns são doentes.

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Victor Barone

Jornalista, professor, mestre em Comunicação pela UFMS.


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