19/04/2024 - Edição 540

Entrevista

Entrevista – Gilmar Olarte, Prefeito de Campo Grande (MS)

Publicado em 13/03/2014 12:00 -

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Com um discurso de conciliação, Gilmar Olarte tem a missão de recolocar a cidade nos trilhos após quase um ano de graves problemas políticos e administrativos na gestão Alcides Bernal. O desafio é reunir sob a mesma batuta diversos interesses partidários. Se depender de Olarte, isso será realizado com conversa e fé.

 

Por Victor Barone

O senhor fez um belo discurso de conciliação na solenidade de posse. Não há dúvidas de que conciliação é o que Campo Grande precisa neste momento. Mas, quando for necessário assentar os interesses políticos dos diversos partidos que compõe o cenário do município, o senhor acha que isso será possível?

Eu acho, eu acho. O sofrimento da população de Campo Grande faz com que todos os agentes políticos e os partidos sintam na pele a gravidade da situação. Eles estão ouvindo o povo e precisam encarar de frente o que estão ouvindo. Esta falta de entendimento fez com que muita coisa que deveria ter sido feita tenha ficado emperrada. Agora precisamos fazer. Acredito que, devido a esta vontade geral de que Campo Grande caminhe para frente, conseguiremos governar com serenidade. A participação da Câmara Municipal será fundamental. Estes vereadores foram eleitos pelo povo, não podemos nos esquecer disso. Os vereadores são os legítimos representantes da população. Não se governa sem harmonia. O prefeito não pode ser um ditador, ele tem que ser um administrador. Quando há diálogo e entendimento, dentro de uma lógica, de uma coerência e respeito mútuo, no campo republicano, é possível alcançar êxito. Não tenho dúvidas disso, pois é uma vontade geral de que nossa cidade volte a caminhar na normalidade.

Durante todo o mandato o senhor se manteve nas sombras. Que motivo o levou a isso?

Eu só entro numa casa se eu for convidado. Mesmo tendo vencido as eleições como vice-prefeito do mesmo partido, eu, desde janeiro, fui convidado de diversas formas a sair. Eu não ia ficar criando celeuma. Preferi ficar em meu gabinete, pelas ruas, atendendo os eleitores pelo telefone (cujo número é o mesmo desde que fui vereador), e ali fomos fazendo tudo o que estava ao nosso alcance para somar. Mas, não tivemos como passar disso, pois não havia interlocução com o prefeito. Portanto, preferi o silêncio.

Não se governa sem harmonia. O prefeito não pode ser um ditador, ele tem que ser um administrador.

O senhor está a par da situação de Campo Grande?

Nós vamos fazer um levantamento de toda a situação de Campo Grande. Não há como tomar decisões sem informações. Temos conhecimento de parte da situação, pois, como vice-prefeito procurei acompanhar e estar atento a tudo o que estava acontecendo. Vamos ouvir todos os segmentos, partidos e agentes políticos para depois tomar decisões. Ainda assim, não temos mais tempo para ficar prorrogando. A situação e difícil. Vamos procurar agir rápido. Garanto que a conversa com os partidos começa imediatamente.

O senhor já nomeou grande parte do primeiro escalão. Quando o primeiro e segundo escalões estarão totalmente redefinidos?

Até o final da semana quero estar com tudo definido, todas as secretarias compostas para trabalharem. Estamos conversando, levantando perfil de possíveis colaboradores.

O PT integra seu governo com o secretário Semy Ferraz (Infraestrutura, Transporte e Habitação). É uma questão pontual ou o partido terá mais participação na Prefeitura?

Temos que entender que precisamos dar algumas respostas muito rápidas. Entendemos que precisávamos manter esta presença ali para não interromper estes serviços. Todos os secretários serão analisados pelo povo de Campo Grande, que é o nosso patrão. Se houver necessidade de mexer, independente de coloração partidária, a gente mexe.

Ele fica no cargo independente do posicionamento do PT na Câmara?

Vamos começar este primeiro momento e, como eu disse, vamos conversando com todos os partidos, por amor a Campo Grande. Conforme o balanço da carroça, as melancias vão se ajeitando.

O senhor pretende convocar pessoas de outros estados ou prestigiará o corpo técnico da Prefeitura?

Temos profissionais maravilhosos em Campo Grande, gente bem preparada e vamos aproveitá-los. O que precisa é ter grandeza. Se há um profissional preparado no partido tal, se ele tem perfil, se é consenso junto ao prefeito, porque não aproveitá-lo, independente do partido? Vamos hastear a bandeira de Campo Grande. Servidor que tem 25, 30 anos de serviço é patrimônio, muito dinheiro foi investido nele. O servidor público que for valorizado será fiel ao prefeito, seja ele quem for.

A Prefeitura é uma máquina. O problema é que muitas partes desta engrenagem foram desmontadas e isso não pode acontecer.

A transição é sempre algo complicado…

Temos que ter muita prudência. Quando você vai fazer uma mudança, seja de gestão ou de casa há sempre muitos transtornos. Vamos seguir a legislação e ir com calma. Na minha vida de gestor privado, se tenho muita coisa para resolver, eu estabeleço prioridades. O que é urgente vem primeiro e rápido. Não podemos amolecer, temos que trabalhar de dia e de noite. Quem me conhece sabe que eu não enrolo, eu digo sim ou não.

E quais são as prioridades?

Estamos analisando. Há coisas pontuais. Por exemplo, já estamos providenciando, imediatamente, uma ampliação nas frentes de limpeza da cidade. Vamos fazer um grande esforço concentrado para que, em 20 ou 30 dias, estejamos com a cidade bem melhor neste sentido. A questão dos kits escolares é outro ponto. Vamos consultar nossos técnicos e resolver da maneira mais rápida possível, dentro das regras da gestão publica.

O ex-prefeito Alcides Bernal foi cassado, especificamente, por problemas em contratos. O senhor pretende realizar uma devassa, interrompe contratos?

Vamos chamar técnicos especializados para, de maneira rápida e minuciosa, fazer as análises e trazer sugestões para que a gente possa tomar decisões. Não pretendemos paralisar nada. A gestão pública é uma sequência. Um perdeu, outro entrou, tem que tocar. A Prefeitura é uma máquina, é como um grande navio. O problema é que muitas partes desta engrenagem foram desmontadas e isso não pode acontecer.

Eu só entro numa casa se eu for convidado. Mesmo tendo vencido as eleições como vice-prefeito do mesmo partido, fui alijado.

Várias obras estão paralisadas em Campo Grande, creches, postos de saúde. Há ainda recursos do PAC que precisam de projetos para serem garantidos. É uma prioridade?

Sim. Eu já tenho em mãos um levantamento sobre o PAC. Sentamos e conversamos, analisamos, descobrimos que 90% destes recursos ainda podem ser garantidos. Temos que trabalhar, corrigir erros, resolver entraves políticos em Brasília. Temos um déficit de 16 mil vagas nos Ceinfs. São obras que precisam ser concluídas, o dinheiro público esta aí. Vamos chamar os empresários, identificar os detentores dos contratos, para solucionar estes impasses o mais rápido possível. Mas, vamos desamarrar as amarras com prudência. A gestão pública ela é dirigida pela lei. Para isso, vamos atrás de toda a bancada federal, estadual e municipal. Esta bandeira tem de ser de todos, dada a gravidade da situação. Sobre obras paradas, estamos criando um grupoi de trabalho para acompanhar esta questão, especialmente obras do PAC e do Minha Casa, Minha Vida.

O ex-prefeito Alcides Bernal efetuou diversas nomeações em seu último dia de mandato. Como o senhor lidará com este tema?

Se é perfil técnico, se é pessoa preparada, se é consenso entre os partidos de coalização vamos honrar, sem criar terrorismo. Não faremos caça as bruxas, vamos trabalhar com serenidade e paz.

Uma área que deixou a desejar no período em que Alcides Bernal esteve à frente da Prefeitura foi a geração de emprego e renda. O que o senhor pretende fazer para reverter esta situação?

Desde a posse tinha desejo de contribuir nesta área. Temos muita coisa engatilhada. Só em dois segmentos temos cerca de 60 pequenas e medias indústrias para vir para Campo Grande. Na área do turismo também temos empresas interessadas. Tenha a certeza de que, de uma forma muita rápida, isso acontecerá, sempre respeitando tramites e prazos. Vem muita empresa e geração de empego para nossa cidade, com responsabilidade e respeito ao meio ambiente.

O senhor tem posições definidas no campo da fé.  Como será a sua relação com a comunidade LGBT?

Nós vamos tratar todos de forma igual, todos são seres humanos, munícipes, e tem seus direitos constitucionais. Todos serão atendidos igualmente. Jesus nunca segregou ninguém, nunca descriminou. Maria Madalena, apesar de ter tido uma profissão nada fácil, coitada, foi tratada por Jesus com todo amor, carinho e respeito. Creio que isso até trouxe benefícios para a vida dela. Então, vamos tratar todos de forma igual. Todos os segmentos da sociedade tem seus direitos de cidadania, saúde, educação, esporte, lazer, etc.


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