16/04/2024 - Edição 540

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Quatro países latino-americanos terão eleições no próximo domingo

Publicado em 23/10/2015 12:00 -

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Os candidatos à Presidência argentina encerraram suas campanhas na quinta (22) com expectativas de vitória. O governista Daniel Scioli, Mauricio Macri e Sergio Massa disputam o voto de 30% de eleitores.

Segundo a diretora do instituto Management & Fit, Mariel Fornoni, no início da semana 30% dos votos ainda eram voláteis: 15% indecisos e 15% podendo mudar o voto até a última hora.

Como projeções mostrando placar apertado, a definição desses votos pode mudar o rumo do pleito. Na última pesquisa do instituto, o governista Scioli tem 38,3% das intenções, seguido de Macri (Mudemos), com 29,2%, e Massa (UNA), com 21%.

Para vencer no primeiro turno, Scioli precisa alcançar 45% dos votos ou 40% com dez pontos de diferença sobre o segundo. Caso contrário, haverá um segundo turno, inédito na Argentina.

Na quinta, no último ato público, Scioli pediu votos a eleitores de outros partidos. "Convoco os indecisos e os independentes –porque sei que não são indiferentes–, os radicais da vertente nacional e popular e os peronistas que se afastaram. Convoco os socialistas e os progressistas, porque compartilhamos os valores da justiça social".

Cristina Kirchner não foi ao comício. Tampouco os movimentos sociais kirchneristas, como o La Cámpora. Em vez disso, a militância, com tambores, foi trazida por sindicatos e políticos aliados.

Em busca de eleitores entre o peronismo, o chefe de governo da cidade de Buenos Aires, Mauricio Macri, decidiu encerrar sua campanha em Córdoba, segundo maior colégio eleitoral do país.

No teatro Orfeo, na capital da província, discursou criticando o governo de Cristina e prometendo não mais fazer tantas cadeias nacionais como a atual presidente. "Também não vou mentir sobre o Indec, nem sobre a inflação, nem sobre a pobreza." Prometeu, porém, que daria continuidade aos planos de assistência social.

Macri fez, ainda, várias referências positivas a Córdoba, pedindo o voto dos jovens da região. Ao fim, puxou um coro de "Sí, se puede" (sim, se pode), no qual foi seguido pela audiência.

Já Sergio Massa encerrou sua campanha com um evento no Museu de Tigre, cidade a cerca de uma hora da capital que ele governou entre 2007 e 2013. No discurso, investiu contra os militantes da agrupação La Cámpora, simpática ao governo de Cristina, e repisou suas propostas na área da segurança.

"Aqueles que creem que podem escapar da lei e da Justiça buscando pactos de impunidade… se sou presidente, quem tiver que ir preso, será preso, não importa o nome ou o cargo. Acabarão os privilégios na Argentina", disse. "No domingo vamos ao segundo turno e, se chegarmos lá, viraremos a página do kirchnerismo".

Colômbia

No próximo domingo os colombianos escolherão novos governadores, prefeitos e vereadores, nas primeiras eleições após a assinatura de um acordo que resultará no fim do conflito armado iniciado em meados dos anos 1960. Eles elegerão os responsáveis pelo novo desenho do país após as negociações de paz com o grupo guerrilheiro Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). A eleição é avaliada como uma prévia para o pleito geral de 2018, quando será eleito o sucessor do presidente Juan Manuel Santos.

Em Bogotá, onde a prefeitura é considerada o segundo cargo político mais importante do país, os principais candidatos são o ex-prefeito conservador Enrique Peñalosa e a progressista Clara López. De acordo com análises da imprensa local, uma vitória do governista Peñalosa, que já concorreu à Presidência em 2010, poderia abrir caminho para que ele novamente dispute o cargo na próxima eleição.

No domingo, os colombianos elegem 32 governadores, prefeitos de mais de mil cidades, entre outros representantes locais.

Em 23 de setembro, o governo de Bogotá e as Farc anunciaram um acordo sobre as consequências judiciais do conflito, o que abriu caminho para colocar um fim definitivo a mais de 50 anos de luta armada.

O modelo de justiça que será aplicado para garantir os direitos das vítimas do conflito era um dos principais entraves das negociações de paz entre os dois lados, que ocorreram em Havana, capital de Cuba, desde o final de 2012.

O acordo foi anunciado em uma cerimônia na presença do presidente da Colômbia e do líder das Farc, Rodrigo Londoño Echeverri, o "Timochenko". Também estava presente o presidente cubano, Raúl Castro.

Guatemala

Se as pesquisas estiverem certas, a Guatemala consagra, neste domingo, um candidato, Jimmy Morales (nascido James Ernesto, há 46 anos), que representa, à primeira vista, a encarnação do intenso movimento de rua contra a corrupção. Morales é uma espécie de Tiririca guatemalteco, comediante de televisão, que se tornou o veículo para a rejeição em bloco da política tradicional.

Sua vitória —com folga, segundo todas as pesquisas— será a culminação de um processo que, a partir da rua, levou ao afastamento tanto da vice-presidente como, logo depois, do presidente Otto Pérez Molina, sempre sob acusações de corrupção.

Convém, no entanto, dar uma segunda olhada ao candidato. No sítio "Plaza Pública", valioso meio de comunicação alternativo, Oswaldo J. Hernández diz que o partido de Morales (a Frente de Convergência Nacional/Movimento Nação) "foi criado para, pela via política, burlar a Justiça e evitar a perseguição aos militares violadores dos direitos humanos".

De fato, a FCN é uma criação de militares da reserva com o claro objetivo evitar a criminalização das Forças Armadas.

Não se trata de revanchismo, mas da busca de punição aos responsáveis pela repressão durante os anos de guerra civil, entre 1954 e 1996. Uma Comissão da Verdade criada pelas Nações Unidas determinou que 200 mil pessoas, a maioria indígenas (de resto a maioria da população), foram mortos e que forças do Estado e paramilitares cometeram 93% das violações aos direitos humanos. A comissão não hesitou em rotular de genocídio (contra os maias, os habitantes originais) os atos praticados na época.

Para "Plaza Pública", portanto, Jimmy Morales não representa a novidade que as ruas pediram incessantemente. Ao contrário. "O que resta para escolher no segundo turno eleitoral é algo parecido a um monstro de duas cabeças. Uma hidra bicéfala, enorme, disforme, com dois partidos políticos amorfos, que gesticulam sobre seus ombros" (a outra cabeça é a de Sandra Torres, ex-primeira-dama, a rival de Morales).

A questão seguinte é saber se a previsível vitória de Jimmy Morales será suficiente para esvaziar as ruas que derrubaram Pérez Molina. Vai depender, claro, de sua administração. Se será de fato um renovador do apodrecido sistema político ou será o continuador de "um aparato de Estado historicamente desenhado para proteger somente uma pequena minoria no poder", como diz Kirsten Weld, professora-assistente de História da América Latina na Universidade de Harvard.

Haiti

Os eleitores haitianos também vão às urnas neste domingo. Sua esperança é tirar o país mais pobre das Américas de uma instabilidade política crônica. Quase cinco anos após a chegada de Michel Martelly ao governo, esta eleição presidencial é a única a ser realizada dentro do prazo legal. Em razão de uma profunda crise entre o poder Executivo e a oposição, as eleições parlamentares, municipais e locais foram atrasadas em mais de três anos.

Neste ano, 54 pessoas se candidataram para suceder Martelly. Mas o número recorde de pretendentes ao cargo de presidente não é sinal de uma boa saúde democrática. Uma dezena de candidatos presidenciais são ex-parlamentares ou líderes de partidos políticos históricos, enquanto muitos outros são desconhecidos do público.

Apenas três deles apresentam reais chances: o esquerdista Jude Célestin, que disputou com Martelly em 2010, o governista Jovenel Moïse, dono de plantações de banana, e o ex-senador populista Moïse Jean-Charles, um duro crítico do governo. Se nenhum deles conseguir metade dos votos, o segundo turno será em dezembro. O sucessor assume o país em 7 de fevereiro.


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