16/04/2024 - Edição 540

Saúde

Conhecimento médico sobre câncer de pulmão entre não fumantes é limitado

Publicado em 24/09/2015 12:00 -

Clique aqui e contribua para um jornalismo livre e financiado pelos seus próprios leitores.

"Não sei como fui ter isso. Nunca fumei", disse o ilustre músico Dominguinhos antes de morrer, em 2013, vítima de um câncer de pulmão. Um dos grandes temas discutidos na 16ª Conferência Mundial de Câncer de Pulmão, realizada na última semana em Denver, nos EUA, foi justamente este: e quem tem a doença sem nunca ter acendido um cigarro na vida?

A Organização Mundial da Saúde aponta que o tabaco está relacionado a cerca de 80% dos casos da doença. A questão é que, em um país como os EUA, onde o câncer de pulmão é o que tem maior incidência, os 20% "que sobram" representam quase tantos casos quanto todos os diagnósticos de câncer no pâncreas ou de leucemias, por exemplo.

No Brasil os dados são um pouco diferentes – há mais casos de câncer de mama -, especialistas apontam que isso pode ser um problema de subnotificação. Para Marcelo Fanelli, diretor de oncologia clínica do hospital A.C.Camargo, não há motivos para o país não seguir a tendência global. "Muitas vezes o diagnóstico é feito por um médico não oncologista que acaba deixando passar."

EXPLICAÇÕES

Para os pesquisadores, o protagonismo do cigarro teria ofuscado estudos e campanhas sobre outros fatores que podem levar ao câncer de pulmão. Pouco se sabe sobre que fatores levam quem nunca fumou a ter a doença, e os próprios pacientes em tal situação tendem à incredulidade.

As hipóteses são variadas. Uma explicação é a simples propensão genética. Um estudo apresentado pelo japonês Kosuke Tanaka, que analisou 67 pacientes, mostrou que 82% tinham alterações gênicas associadas ao câncer. Uma delas, no gene ALK, estava associada aos casos de estágio quatro -o mais grave.

Há outros favores envolvidos, porém, como a poluição e a radiação envolvidos.

"Ainda estamos tentando entender melhor. Existem casos em que a mulher passa a vida inteira falando para o marido parar de fumar. Ele não para e nunca tem câncer, mas ela tem", diz o oncologista Victor Piana de Andrade.

Um grupo brasileiro comandado pelo físico Nivaldo Carlos da Silva tem mapeado a presença de radônio -a exposição prolongada ao gás, que não tem cor nem cheiro, pode levar ao câncer de pulmão.

O radônio ocorre naturalmente e é um produto do decaimento natural do Urânio.

A proximidade com uma mina de urânio, portanto, pode trazer riscos. Um fato a favor dessa hipótese é que em Caetité (BA), onde há grande reserva de urânio, a mortalidade por câncer de pulmão chegou, em 2010, a 13 casos por 100 mil habitantes ao ano, mais que o dobro da taxa estadual e mais que o triplo da média do sudoeste baiano.

Para aumentar o mistério, a pesquisadora Lorraine Pelosof, da Universidade do Texas, mostrou que, entre 2001 e 2013, a incidência de câncer de pulmão entre não fumantes aumentou. Nos hospitais americanos analisados, o número de diagnósticos de câncer do tipo NSCLC, ou de "células não pequenas", subiu 77%. Já o tipo SCLC, ou de "células pequenas", cresceu 33%.

Além disso, o câncer de pulmão em não fumantes é que ele acomete com mais frequência pessoas jovens -que, mesmo que fumassem, não teriam sido expostas ao cigarro por tempo suficiente para ter problemas.

Mais estudos são necessários, até porque alguns anticorpos monoclonais, drogas que têm sido utilizadas contra vários tipos de câncer, trazem melhores resultados em fumantes do que em não fumantes, mostrando que existem diferenças importantes na natureza dos tumores.


Voltar


Comente sobre essa publicação...

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *