24/04/2024 - Edição 540

True Colors

Finalmente, a desconstrução

Publicado em 11/09/2015 12:00 - Guilherme Cavalcante

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Finalmente aconteceu. Judith Butler, uma das porta-vozes da Teoria Queer, foi convidada de honra de diversas conferências pelo país na última semana, uma delas a Desfazendo Gênero, seminário organizado pelo grupo de pesquisa Cultura e Sexualidade (CUS), na Universidade Federal da Bahia (UFBA). Não só no nordeste, Butler também foi esperada durante o I Seminário Queer, em São Paulo, realizado pelo Sesc SP em parceria com a Revista Cult.

Nas palestras, Butler mostrou que porque é uma pós-estruturalista e falou especificamente sobre alguns pontos extremamente relevantes, em plena discussão pela militância brasileira: os corpos e padrões subalternos, a heteronormatividade homotransfóbica e sexista, o desejo e a expressão de gênero no armário e, claro, a violência a que esses grupos oprimidos estão institucionalmente submetidos. Com exemplo atualizados e localizados à nossa realidade, até quem não estava afinado com a teoria gostou do que escutou (você pode assistir à conferência do Sesc no vídeo abaixo).

De forma geral, considero que é muito importante que uma pesquisadora e filósofa de tamanha importância esteja presente fisicamente em meio aos ambientes acadêmicos. Mas a presença de Butler também apontou outra coisa… A militância LGBT está lendo. Muito embora a Teoria Queer não seja a única a ser abraçada pela comunidade (há pessoas que não creem na construção social do gênero e que defendem um essencialismo biológico, por exemplo), ficou bastante claro que nós, brasileiros, temos alguma consciência do que esta corrente teórica nos provê. A própria Butler comentou que não sentia necessidade, em sua conferência, de visitar a teoria, visto que o público estava bem preparado. E isso é muito, muito bom.

Quer dizer, aparentemente, ninguém caiu de para-quedas nos eventos – que por sinal, tiveram inscrições esgotadas meses antes da realização. Todos que estavam ali estavam sedentos pelo conhecimento. Sim, Judith Butler causou frisson na militância LGBT brasileira, foi chamada de "diva Butler" e num contexto em que a discussão sobre a questão T finalmente foi protagonista. Gol de placa. Este foi um sintoma inegável de que estamos cada vez mais rumando em direção à desconstrução a que tanto almejamos.

Dois fatos: há um discurso prático de que a militância prescinde da academia por ter a vivência. E há um distanciamento arrogante da academia com a engenharia social (já falei disso AQUI). Mas a última semana, ao menos no movimento LGBT, mostrou que os dois campos de atuação parecem querer dialogar e construir algo que, de fato, seja transformador. Ou melhor, algo que desconstrua as estruturas opressoras que normatizam o nosso existir.

Falando em Academia…

Já sugeri aqui na coluna diversas leituras para quem quiser se aprofundar ou pelo menos conhecer o que diz Judith Butler e a Teoria Queer. Nesse sentido, vou reforçar as recomendações de leitura com o recém-lançada nova edição da revista Periódicus, a compilação de artigos e outras produções do grupo de pesquisa Cultura e Sexualidade (CUS), com destaque para o artigo de Larissa Pelúcio e Leandro Colling, tudo de graça para você sair lendo por aí, na rua, na chuva ou na fazenda. Se joga!

Periodicus – Um Corpus Subversivo

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Victor Barone

Jornalista, professor, mestre em Comunicação pela UFMS.


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