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Artigo da Semana

Tristeza ou depressão?

Publicado em 12/08/2015 12:00 -

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A depressão ganha cada vez mais a atenção da mídia, principalmente quando tem como porta-vozes pessoas de grande visibilidade já acometidas por ela. É o caso do padre Marcelo Rossi, que assumiu publicamente ter sofrido da doença em seu mais recente livro, "Philia" (ed. Principium).

Nele, o padre fala das emoções que o levaram à depressão, como a tristeza, e conta como derrotou esses e outros "males contemporâneos" com o auxílio do amor fraternal, significado da palavra grega que dá nome ao livro.

Primeiramente, é importante deixarmos clara a diferença entre o sentimento e a doença. A depressão é um conjunto de sintomas que abrange o organismo como um todo, afetando negativamente o físico, o humor e até a forma como a pessoa vê o mundo a seu redor. Já o sentimento de tristeza, isolado, não caracteriza depressão.

Ela pode acometer qualquer pessoa, por exemplo, quando ela termina um relacionamento ou quando perde um emprego, situações que tendem a se resolver sem a necessidade de tratamento. O psiquiatra tem papel fundamental nesse diagnóstico e a fé, nos dois casos, pode contribuir para a melhora dos pacientes.

A importância da espiritualidade nos tratamentos psiquiátricos tem sido demonstrada por milhares de pesquisas pelo mundo. As pessoas com crenças e práticas religiosas tendem a ter melhor saúde física e mental, além de melhores resultados nos tratamentos de depressão. Mas a fé deve ser vista como um item do tratamento, e não como a cura.

A depressão necessita de tratamentos específicos e que a fé pode, sim, contribuir para a melhoria do quadro, assim como atividades físicas e a retomada do convívio social.

É importante frisar que a depressão necessita de tratamentos específicos e que a fé pode, sim, contribuir para a melhoria do quadro, assim como atividades físicas e a retomada do convívio social.

Vale ressaltar que quem tem um episódio depressivo tem quase 50% de chance de ter um segundo. E, uma vez que reincide, tem de 75 a 90% de chance de ter o terceiro se não for tratado corretamente. Por isso, é fundamental o diagnóstico e a fidelidade ao tratamento.

Cada doença tem características próprias, diferentes tipos de remédio, de mudanças de comportamento. Com a depressão não é diferente. Seu tratamento pode envolver medicação, atividade física, psicoterapia, eliminação do consumo de drogas e álcool e estimulação da retomada de contatos sociais.

Para se ter uma ideia: a cada três segundos, uma pessoa atenta contra a própria vida e, a cada 40, alguém se suicida. E a depressão está entre as doenças mais associadas a esses episódios. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), para cerca de 17% da população adulta, a doença é uma realidade em algum momento das suas vidas.

Isto significa que 30 milhões de brasileiros já tiveram, têm ou terão depressão. Uma pesquisa da OMS também indica que a maioria dos que sofrem de transtornos mentais no mundo não buscou ajuda profissional e não recebeu tratamento adequado, baseado nas evidências científicas disponíveis, mesmo nos países desenvolvidos.

Apesar de a doença afetar esse pedaço considerável da população, o preconceito ainda é grande. E quando uma pessoa da notoriedade do padre Marcelo Rossi vem a público e fala abertamente sobre o transtorno, ela ajuda milhões de pessoas que têm depressão e sofrem caladas a buscarem auxílio. Mais do que isso: faz com que essas pessoas aceitem que têm o diagnóstico e comecem a se tratar. Esse é o primeiro passo para vencermos esse mal do milênio.

Antônio Geraldo da Silva – presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria
Alexander Moreira-Almeida – professor associado de psiquiatria da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e coordenador da Comissão de Estudos e Pesquisa em Espiritualidade e Saúde Mental da ABP


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