25/04/2024 - Edição 540

Comportamento

Toco virtual

Publicado em 16/07/2015 12:00 -

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Aquela conversa chata de término de namoro – acompanhada de desculpas do tipo "não é você, sou eu"– está sendo substituída por mensagens em redes sociais ou aplicativos de celular. Afinal, se o romance hoje começa no Tinder, por que não poderia terminar por WhatsApp?

Dar foras a distância está tão na moda que tem até empresa especialista nisso. A australiana "Sorry, it's over" (algo como "sinto muito, mas acabou"), criada neste ano, oferece várias opções para o cliente colocar o ponto final em uma relação, entre elas mensagem de texto e telefonema (eles fazem a ligação).

"Não me parece uma boa ideia de nenhum jeito", diz a escritora Laura Conrado, 30. Ela foi vítima de um término virtual no ano passado. O assunto rendeu tanto que seu novo livro, "Quando Saturno Voltar" (Globo Livros, 248 págs., R$ 29,90), fala sobre a dificuldade de terminar um relacionamento. "As pessoas querem fugir do confronto e optam pelo mais fácil", opina.

Para a psicóloga Dora Sampaio Góes, do Grupo de Dependência de Internet do Hospital das Clínicas, a popularização dos términos virtuais é um sinal de que o uso da tecnologia está mudando as relações humanas.

"Estamos perdendo a habilidade de escutar o outro, deixando de desenvolver empatia e a capacidade de lidar com as próprias emoções. Se fugirmos dos términos, não vamos aprender isso nunca. Não podemos resolver tudo por WhatsApp", afirma.

Para quem leva o fora, fica uma sensação de impotência. "A pessoa se sente inferior ao outro, não tem a oportunidade de saber sobre seus erros", diz Góes.

Melhor que nada

A psicóloga Ana Luiza Mano, do Núcleo de Pesquisa da Psicologia em Informática da PUC-SP, vê um lado bom nos términos a distância. Pode ajudar se o rejeitado usar o acontecimento para superar a fossa. Ou então se a pessoa só conseguir falar o que pensa dessa forma. "É melhor que a pessoa simplesmente sumir ou não terminar e ficar enrolando", afirma ela.

Márcia Stengel, psicóloga e professora da PUC Minas, lembra que sempre existiram meios virtuais de se terminar uma relação. "Antes as pessoas faziam isso por telefone. A internet não inventou nada, só deixou mais fácil."

Isso não quer dizer que o método não envolva riscos. Os principais seriam agir por impulso e se arrepender ou então ser mal entendido.

"Seja pessoal ou virtualmente, devemos pensar nas consequências do término para nós e para o outro", diz Ana. "Não dá para fugir da chateação sempre. É preciso dar ao outro a chance de ela falar", completa Márcia.


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