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Vaticano e Bolívia minimizam polêmica sobre crucifixo comunista

Publicado em 10/07/2015 12:00 -

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A Bolívia e o Vaticano afirmaram que a entrega de um "crucifixo comunista" pelo presidente Evo Morales ao papa Francisco na quarta-feira (8) não representou uma ofensa.

O presente trazia uma imagem de Jesus Cristo entalhada em madeira, numa cruz formada por uma foice e martelo, símbolo histórico do comunismo. Ao receber o presente, Francisco esboçou ter ficado surpreso.

Muitas pessoas viram a entrega do crucifixo como um desagravo de Morales, conhecido por fazer críticas à Igreja. Em 2009, Evo afirmou que a "Igreja Católica é um símbolo do colonialismo europeu e, portanto, deve desaparecer da Bolívia".

O governo da Bolívia disse que o presente não representou uma manobra política, mas um símbolo que, na visão de Morales, agradaria o "papa dos pobres".

"[O presente] representou um grande afeto, [trata-se] de uma obra desenhada pelas mãos de Luis Espinal", disse a ministra das Comunicações, Manianela Paco.

Espinal foi um jesuíta ligado a movimentos sociais bolivianos, assassinado em 1980 por paramilitares. Francisco visitou o local onde seu corpo foi encontrado e homenageou o religioso.

O porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi, disse que não ficou ofendido com o gesto e que o papa inicialmente não sabia que o símbolo havia sido criado por Espinal.

"Você pode disputar o significado e o uso do símbolo hoje, mas ele foi criado por Espinal, e o seu sentido era sobre um diálogo aberto, não sobre alguma ideologia específica", disse Lombardi.

A entrega do crucifixo ocorreu durante visita do papa Francisco à Bolívia, o segundo dos três destinos do pontífice em sua viagem a países sul-americanos.

Sistema carcerário

Em visita ao superlotado presídio Palmasola na manhã desta sexta-feira (10), o papa Francisco afirmou que "reclusão não é o mesmo que exclusão" ao criticar o sistema carcerário boliviano.

"A reclusão forma parte de um processo de reinserção na sociedade. São muitos os elementos que jogam contra este lugar. Sei muito bem: a superlotação, a lentidão da Justiça, a falta de terapia ocupacional e de políticas de reabilitação, a violência e a falta de facilidade de estudos universitários, pelo qual faz necessária uma rápida e eficaz aliança interinstitucional para encontrar respostas", afirmou Francisco a centenas de presos e familiares.

Por outro lado, o papa disse que os presos podem fazer a sua parte por meio da boa convivência interna. "Não façam o jogo do diabo, lutem unidos."

"Quem está diante de vocês é um homem perdoado. Um homem que foi e é salvo de seus muitos pecados", disse. "Não tenho muito para dar-lhes o oferecer-lhes, mas o que tenho e amo, sim, quero dar-lhes e compartilhar: é Jesus Cristo, a misericórdia do Pai."

Antes do discurso, o papa ouviu o testemunho de três detentos, que também criticaram as condições do presídio e a lentidão do Judiciário. "Suplicamos, padre, que interceda por nós para que o governo nos ajude com os pedidos de alimentação digna, programas de inserção e Justiça. Por favor, padre, interceda por nós e muito obrigado por estar conosco", disse o preso Andrés Cesped.

Com capacidade para 800 detentos, Palmasola amontoa cerca de 5.500 pessoas, incluindo 60 brasileiros e centenas de crianças —a lei boliviana permite que elas acompanhem os pais em algumas situações.

Desse total, 84% estão em prisão preventiva, segundo a Pastoral Carcerária. Pela lei boliviana, esse tipo prisão pode durar até 36 meses, mas muitas vezes o limite é superado.

É um presídio muitas vezes violento. Em agosto de 2013, uma briga interna terminou com 31 pessoas mortas em um incêndio, incluindo uma criança de 1 ano e meio. Apenas dois dos detentos mortos estavam condenados.

Francisco realiza uma visita a países sul-americanos. Após passar por Equador e Bolívia, o papa deve seguir nesta sexta para o Paraguai, onde encerrará a viagem.


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