19/04/2024 - Edição 540

Campo Grande

Catadores atuarão de forma profissionalizada e deixarão vulnerabilidade do lixão

Publicado em 26/06/2015 12:00 -

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Campo Grande está cada dia mais próxima de dar uma solução definitiva às 800 toneladas diárias de lixo que produz. Além da ampliação da coleta seletiva de resíduos sólidos, será concluída muito em breve a Usina de Triagem de Resíduos (UTR), onde trabalharão os cerca de 400 catadores a serem retirados da área de transição no aterro sanitário Dom Antônio Barbosa II.

No entanto, a organização em coletivos de trabalho requer treinamento e capacitação. É neste contexto que entra a Fundação Social do Trabalho de Campo Grande (Funsat), que promove continuamente a capacitação dos trabalhadores que sobrevivem da venda de material reciclável. A entidade oferece gratuitamente cursos que explicam o cooperativismo e destacam aos trabalhadores as vantagens de integrar um sistema de trabalho coletivo, em detrimento do individual.

Atualmente, três cooperativas atuam na UTR, numa instalação temporária que conta com prensas, balança e outros mecanismos que garantem segurança às atividades de triagem. Com a inauguração da unidade, no entanto, vão dispor de um sistema complexo, com vários galpões, quatro esteiras, cada qual com 24 estações de trabalho, banheiros, refeitório, novas máquinas de prensa, empilhadeiras e condições decentes de trabalho. A UTR póde funcionar em três turnos de 8h.

"Uma das principais decisões do prefeito Gilmar Olarte foi a retomada da UTR. Para o trabalhador, isso significa necessariamente a garantia de um trabalho decente para todos que atuam no lixão. O fechamento dessa área significa o fim de um trabalho degradante, periculoso e desprovido de amparo legal, previdenciário. Com a transição para a UTR, nós teremos esses trabalhadores em condições dignas de exercerem suas atividades laborais, com a garantia de seus direitos", destaca o diretor-presidente da Funsat, Cicero Ávila de Lima.

O fechamento da área de transição, a formalização dos trabalhadores em cooperativas e, consequentemente, o direito de trabalhar na UTR vão transformar a realidade dos moradores da região do aterro sanitário. "A Funsat tem atuado nesta passagem do lixão para a UTR, intervindo na qualificação profissional desses trabalhadores, de maneira que a partir de agora boa parte já está apta para organizar suas cooperativas", relata Cícero. A Funsat também garantiu consultoria e assessoria permanentes para que esses trabalhadores cooperativados possam ter sucesso nesta nova etapa de seus trabalhos.

Vida Nova

Presidente de uma das cooperativas, Gilda Macedo é exemplo de sucesso. Ela já atua na UTR há quatro anos, tendo sido uma das primeiras a receber a capacitação da Funsat. "Nos cursos, nós aprendemos como funcionam as cooperativas, qual a importância do trabalho coletivo e também aprendemos a gerir nosso negócio. Com a cooperativa, nós somos os chefes", relata. A cooperativa comandada por Gilda tem ares de empresa grande, com direito a setor jurídico e contábil. "Nós mesmos elaboramos nosso plano de negócios, fechamos parcerias com condomínios e conseguimos apoio financeiro pelo BNDES. Minha renda atualo é muito melhor que a de quando estava no lixão e trabalho muito menos, me preservo muito mais", explica.

O sentimento cultivado nas cooperativas é o da coletividade, o mesmo que rege a vontade de crescer e de mudar de vida. "Trabalhei dez anos no lixão, eu sei o que é aquilo lá. Quando você trabalha só e sem infraestrutura, você até tem uma certa renda. Mas quando você dispõe de infraestrutura, você tem condição de verticalizar a produção. O que nós queremos é que todos os catadores que estão no lixão venham para as cooperativas ou criem as suas, porque esse sistema de trabalho nos dá meios de crescer nessa cadeia, isso sem falar nas condições de trabalho incomparáveis", relata Gilda Macedo.

Com metodologia diferenciada, os cursos da economia solidária, empreendedorismo e cooperativismo oferecidos pela Funsat visam ensinar aspetos como autogestão, solidariedade, cooperação e respeito à natureza. Alexsandra Vargas é uma das que está concluíndo a capacitação e que está prestes a trocar o lixão pela UTR. Assim que terminar o curso, ela vai procurar se integrar a uma das cooperativas. "Vai ser muito bom pra gente, vamos sair do sol, não vamos mais ficar perto do lixo. Estou participando do curso de cooperativismo, este é o segundo que eu faço. Neste, estou aprendendo a importância da parceria, do trabalho coletivo, da união, das coisas que vão mudar minha vida", conclui.


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